Como nascem os contos, histórias e artigos

Tudo aquilo que você lê, meu caro leitor, também tem suas origens bem determinadas. E, como quase tudo o que existe no mundo atualmente, tudo o que está escrito parece que agora busca sua origem obstinadamente. Os textos e as palavras que descrevem nossa incrível e paradoxal condição não querem parecer bastardos, renegados ou ordinários. Querem um lugar neste mundo, como eu e você. E têm todo o direito.

Pois imagine então um homem solitário e sem esperanças, numa véspera de feriado prolongado. Imaginaram? Não? Vou ampliar o cenário: ele está só, acabou de jantar, e começou a procurar por notícias num canal de TV por assinatura. O Rio de Janeiro inteiro, ou grande parte dele, está a dirigir-se para lugares aprazíveis: as magníficas praias do litoral do Rio de Janeiro, ou suas montanhas que aliviam o calor dos trópicos.

Ele também quer sair. Mas com quem? Há muito passou o tempo em que era natural para ele sair às noites sozinho. Agora tudo aquilo acabou: os amigos, os poucos amores, e as muitas farras a varar as madrugadas. O burburinho da cidade lá fora ainda se escuta, dentro da grande casa em que ele se encontra: na sala, à mesa de jantar, perturbado por pensamentos incontroláveis causados por uma decepção recente. Com ele mesmo e mais ninguém. É duro quando a gente se cobra e se castiga. Mas nossos erros são como suplícios romanos rasgando nossas costas, chicotes a lanhar a nossa carne. Não saber, ou não poder, ou até mesmo não querer se perdoar é a maior dor que alguém pode infligir a si mesmo.

A sala era grande, longe da rua. Ao lado dela estavam a área de passagem para os cômodos de serviços, e a grande escada para o andar superior, escura e de ares vitorianos. A casa foi construída em 1927, e foi construída no bairro da Tijuca. Que não é centro, não é subúrbio, nem possui as atrações turísticas da zona sul. Como Stanislaw Ponte Preta descreveu, a tijuca é um bairro diferente. Consegui melhorar a imagem, caro leitor?

Pois bem, àquelas horas, a agonia era grande, e tendia a aumentar, quando milagrosamente um determinado documentário-reportagem apareceu na TV. Era sobre um escândalo de imprensa que abalou o mundo, dada a qualidade vil de sua gênese: a exploração imperdoável da morte de uma menina morta aos 13 anos de idade. Imediatamente, sua mente limpou-se, para abrigar a imundície que vem da alma de muitos homens. Homens comuns, como eu ou você. Não são demônios ou dementes. Não têm problemas mentais, ou ‘traumas de infância’. São filhos da infâmia, e derramam seu veneno no mundo e levam ao inferno onde nasceram todos aqueles que os rodeiam.

Ali, a sós, uma história começava. Da solidão e desamparo de um homem comum de meia idade, e que parece que não ter amadurecido o suficiente como seus pares. E ele secretamente gostava disso. Porque a magia da escrita escolhe os indefesos e injustiçados, por vezes. Para dar-lhes uma chance de ser como os outros. Só isso. Chega de querer ser diferente, de andar sempre só. De andar a sós dentro de casa nas madrugadas. Os homens escrevem para afastar a solidão e dar alguma ordem a um universo onde reinam a força, o acaso e interminável violência.

Redação

1 Comentário

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  1. Como nascem os contos….

    Volto comentar alguns de seus textos. Este, por sinal, bom, bem escrito, boas figuras, mas um tanto deprê, não? Penso que alguns escritores têm outras inspirações, apesar desta ser apenas uma delas; outras são mais alegres, suas mesmo já vi alguns com outros motes. Abraço e continue rasgando as folhas com suas letras. Seu primo.

     

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