Sapatos de Van Gogh
Meus sapatos escorregam um a um
por Maira Vasconcelos
Meus sapatos escorregam um a um
dos telhados desta casa habitada
com dispersa frequência.
Meus sapatos estão a cair aonde não sei
a textura a fixidez da terra a pisar.
Meus sapatos não andarão sozinhos.
Preciso meus pés calçar, também descer
deste telhado arisco, participar da vida
como se fosse um gosto, como se não fosse fugir,
como se não quisesse andar sem sapatos
e abandonar as aparências aos céus
para que se encarreguem das apresentações.
Mas as estrelas não falam
e os mortos não podem mais que depender
de todos os vivos caminhares.
Meus sapatos escorregam um a um
dos telhados desta casa de visitas:
lá embaixo o mundo que preciso.
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