13 de junho, dez anos depois, por Mário Bentes

A truculência da PM foi implacável. A imprensa foi atacada com bombas de efeito moral, balas de borracha, gás lacrimogênio

13 de junho, dez anos depois

por Mário Bentes

Há exatos dez anos, em 13 de junho de 2013, o Movimento Passe Livre (MPL) tomou novamente as ruas de São Paulo, como havia feito dias antes, em protesto contra o aumento da tarifa e pedindo catraca livre.

A Polícia Militar, outra vez, agiu com violência desmedida. Desta vez, a grande imprensa – que havia ficado contra os manifestantes (quem não lembra de Arnaldo Jabor, no JN, finalizando sua crônica com “os manifestantes não valem 20 centavos”?) – também fora alvo.

A truculência da PM foi implacável. A imprensa foi atacada com bombas de efeito moral, balas de borracha, gás lacrimogênio e o mais puro fascismo que começava ali, a sair dos esgotos e tomar as ruas.

Como repórter do Jornal GGN, testemunhei um medalhão da Globo, acuado no posto de gasolina da Rua da Consolação com a Maria Antônia, implorando para que a polícia recuasse e parasse de atirar, pois haviam famílias apavorados na loja de conveniência.

Minutos depois, eu e uma equipe do Estadão ficamos encurralados nas imediações da PUC. Os gritos de “Somos da imprensa!” soou como uma afronta. Fomos atacados. Estilhaços de uma bomba de efeito moral atingiram meu tornozelo. Um hematoma enorme ficaria ali por dias.

Poderia ter sido pior. Giuliana Vallone, da Folha de S.Paulo, foi atingida no olho por uma bala de borracha disparada pela tropa de choque e levou pontos na pálpebra. O fotojornalista Sérgio Silva não teve a mesma sorte: perdeu a visão de um dos olhos.

O que era um movimento pelo passe livre foi rapidamente cooptado por movimentos de extrema-direita. Nas manifestações dos dias seguintes, surgiram gritos estranhos, como “Sem partido”, entoados por carecas neonazistas do ABC, aproveitadores e usurpadores.

Bandeiras de partidos de esquerda foram incendiados em plena Avenida Paulista. Integrantes de siglas como PT, PCdoB, PCB, PSOL, fizeram corrente humana para se defenderem. Curiosamente, a PM não moveu uma bala de borracha contra os carecas do ABC.

O Golpe contra Dilma, em 2016, e a prisão de Lula, em 2018, nasceram em 2013.

Figurinhas desprezíveis, como Sara Winter, Carla Zambelli, Janaina Paschoal, Kim Kataguiri e claro, os Bolsonaro, ganharam visibilidade e musculatura nessa época em diante. Com apoio da imprensa, com o Supremo, com tudo.

O que vimos depois foi uma versão grotesca do passado.
Dez anos passaram. Escapamos por pouco.
Escapamos?

Mário Bentes é jornalista

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Redação

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