Aquiles Rique Reis
Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.
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A música gaúcha sob o olhar de Jerônimo Jardim, por Aquiles Rique Reis

A música gaúcha sob o olhar de Jerônimo Jardim, por Aquiles Rique Reis

O compositor e escritor Jerônimo Jardim nasceu em Jaguarão, no Rio Grande do Sul. Vivendo hoje em Porto Alegre, lá forjou importante obra cultural, mantendo vivo o olhar sobre o nativismo disseminado pela campanha gaúcha. Como bom tapejara, desde guri carrega na guaiaca o orgulho por sua gente.

Depois de lançar o CD Jerônimo Jardim, ao vivo – de viva voz (independente) em 2012, eis que ele nos brinda agora com sua obra musical mais recente, Singular e Plúrimo (independente), gravada nas cidades de Porto Alegre, Osório e Florianópolis. Os instrumentistas e arranjadores, responsáveis por vestir as composições de Jerônimo e de seus diversos parceiros, são cúmplices entusiasmados das obras que interpretaram com extrema sabedoria e inventividade. Graças a eles, Jerônimo nos chega com mais um verdadeiro documento sobre a música contemporânea do Rio Grande do Sul.

Grande parte gravou também o álbum anterior, o que, pela intimidade que têm com a música de Jardim, assegurou a unidade musical das dezessete faixas. Além de Toneco da Costa, responsável pela direção musical, arranjos de base e primeiro violão, e Pedrinho Figueiredo, arranjador e instrumentista das flautas e do sax soprano, diretor técnico e responsável ainda pela mixagem e masterização, mais de duas dezenas de instrumentistas deram seu talento às composições de Jerônimo.

 “A Voz do Riacho” (JJ) tem a participação mais do que especial do ótimo grupo vocal cubano Sexto Sentido, num arranjo que explode em vocalises no intermezzo.

“Galhos de Arruda” (JJ) tem cello (Igara Paquola) e violões (Toneco da Costa e Thiago Carretero) na bonita introdução. O grupo O Samba, a Bossa e as Novas apresenta um belo arranjo vocal no intermezzo; a seguir, na volta à melodia, suas vozes interpretam a canção. O cello, o baixo (Mário Carvalho) e os violões os acompanham.

“Causos da Vida” (JJ) tem introdução com acordeom (Renato Muller) e violão (Toneco Costa). JJ canta toda a canção. Na repetição, modulado o tom, surge a voz grave e afinada de Simone Rassian.

Tem a boa participação da voz de Telmo Martins e, sobretudo, da gaita-ponto de Renato Borghetti em “El Viento” (JJ), para a qual Jerônimo deu o mote: “O vento que acaricia, assim como o amor, é o mesmo que atormenta”.

 A penúltima faixa do CD é “Me Faz Uma Canção”, cuja melodia do saudoso Geraldo Flach (1945-2011) ganhou versos de Jerônimo. Tendo Adriana Sperandir cantando com ele, a canção impregna de amor a memória do grande Flach.

Feito um haragano, Jerônimo é arisco, difícil de domar, não se atém a formalidades estéticas bobas nem a simplismos facilitadores. Muito mais um intérprete de suas próprias melodias (as quais apresenta com o denodo de um artesão perfeccionista) do que propriamente um grande cantor, a voz de Jerônimo Jardim embute a paixão que nos pega ao ouvi-lo. Pulsa firme em cada uma delas a dignidade e a fortaleza do compositor que expõe em versos a alma gaúcha.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4

Aquiles Rique Reis

Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.

2 Comentários

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  1. É de Bagé!

    Aquiles, até onde sei o Jerônimo viveu em Bagé, cidade igualmente fronteiriça com o Uruguai. Filho de um militar, ele cresceu na Vila Dois Irmãos, perto do Prado. Ganhou um desses festivais da Globo, com “Purpurina”, interpretada por Lucinha Lins. Ganhou vários festivais nativistas e teve sua música “Moda de Sangue”, parceria com Ivaldo Roque, gravada por Elis Regina.

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