Força-tarefa do Paraná ajudou Janot nos inquéritos de políticos ao STF

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – O efeito do envio dos 83 pedidos de inquéritos, 211 pedidos de repasse a instâncias inferiores, 7 arquivamentos e 19 outras providências relacionadas a políticos acusados por delações da Odebrecht foi celebrado por Rodrigo Janot, procurador-geral da República. Em comunicado interno ao Ministério Público Federal (MPF), revelou a participação dos procuradores de Curitiba também no caso dos detentores de foro privilegiado.
 
Em carta aos demais membros da instituição, Janot adiantou uma auto-defesa de possíveis relações de parcialidade da atividade do procurador nas investigações da Operação Lava Jato que recaem, agora, com mais força, sobre políticos.
 
Em tom heróico, escreveu que o trabalho “extraordinário”, “sobre-humano” e “histórico” dos procuradores da República revelarão “a triste realidade de uma democracia sob ataque”, mas que diante dela, seu objetivo pessoal – “sou um democrata congênito e convicto”, acrescentou – não é o de “criminalizar a atividade política”.
 
“Por fim, é preciso ficar absolutamente claro que, seja sob o ponto de vista pessoal – sou um democrata congênito e convicto –, seja sob a ótica da missão constitucional do MP de defender o regime democrático e a ordem jurídica, o trabalho desenvolvido na Lava Jato não tem e jamais poderia ter a finalidade de criminalizar a atividade política”, disse Janot.
 
Ainda no comunicado, enfatizou que o MPF terá o desafio de manter “como sempre o fez, a imparcialidade diante dos embates político-partidários que decorrerão do nosso trabalho, e velar pela coesão interna”.
 
Em mais uma menção de auto defesa contra críticas na condução da Lava Jato, disse o PGR: “Não temos a chave mágica para a solução de todos os problemas revelados com a Lava Jato – especialmente agora, com a colaboração da Odebrecht –, mas, na parte que nos compete, asseguro a todos vocês que continuarei a conduzir o caso sob o viés exclusivamente jurídico, sob o compasso da técnica e com a isenção que se impõe a qualquer membro do Ministério Público.”
 
As palavras foram descritas pelo próprio procurador como “considerações sobre os reflexos metajurídicos decorrentes desse acordo histórico”.
 
A introdução do comunicado tratou de valorizar como os membros da instituição se esforçaram e se organizaram para as investigações, a coleta de depoimentos e os pedidos agora entregues de inquéritos e investigações ao Supremo Tribunal Federal (STF).
 
Neste trecho, Janot não disfarçou comentários para admitir que a atividade, ainda que por se tratar de políticos e, portanto, deveria se deter aos trabalhos de procuradores de Brasília e os indicados pela PGR, contou em todos os momentos com a participação dos investigadores do Paraná, onde tramitou o início da Lava Jato na condução pelo juiz Sérgio Moro.
 
“Não só o Grupo de Trabalho que me auxilia, como também os colegas da Força-Tarefa de Curitiba, em um trabalho de colaboração mútua, viabilizaram o êxito dessa empreitada. Preparamos, GT-PGR e FT-Curitiba, toda a logística necessária para elaborar, revisar, assinar os acordos e colher os 950 termos de declaração que, em seguida, foram encaminhados ao STF, por petições, para homologação”, narrou Janot.
 
E revelou que a participação “extra” dos procuradores da equipe de Deltan Dallagnol em Curitiba não se reteve com a coleta das delações, mas se estendeu, inclusive, nos pedidos finais entregues nesta semana. “Os termos dos 77 acordos celebrados foram homologados no fim do mês de janeiro pela Ministra-Presidente, Cármen Lúcia. Desde então, as dedicadas equipes do GT-PGR e da FT-Curitiba trabalharam incessantemente para organizar o material e dar o tratamento jurídico adequado e individualizado a cada caso”, disse.
 
“Por esse trabalho extraordinário, gostaria de publicamente empenhar meu sincero agradecimento e respeito aos colegas do Grupo de Trabalho – PGR e da Força-Tarefa – Curitiba”, completou Rodrigo Janot.
 
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Leia a íntegra da carta interna de Janot, disponibilizado pelo JOTA:
 

Gostaria de prestar diretamente a vocês algumas informações sobre o trabalho realizado a partir da colaboração da empresa Odebrecht, no âmbito da investigação Lava Jato, considerando a relevância do caso, sua magnitude e seus impactos para o futuro da Instituição.

Como já é de conhecimento geral, no fim do ano passado, firmamos um grande acordo de colaboração com a empresa e com diversas pessoas físicas que integram seu corpo diretivo. No total, 77 executivos e ex-executivos da Odebrecht firmaram o acordo e prestaram declarações em que revelam os meandros da corrupção em nosso país de forma jamais imaginada. Isso sem falar nos acordos de leniência firmados com as empresas do grupo.

A preparação do acordo exigiu a realização de pelo menos 48 reuniões entre as partes, no período de fevereiro a dezembro de 2016. Na sequência, envolvemos mais de 100 colegas, em 34 unidades do Ministério Público Federal, para colher os 950 termos de declaração dos colaboradores em apenas uma semana.

Esse trabalho exigiu de todos nós envolvidos no processo um esforço sobre-humano para colher-se os depoimentos, organizá-los, elaborar petições e, por fim, encaminhar todo o caso ao Supremo Tribunal Federal. Todas essas tarefas foram ultimadas em apenas 15 dias, de modo que, antes do recesso, o material já estava à disposição da Corte para exame e homologação.

Por óbvio, um trabalho dessa envergadura só poderia ser fruto de uma equipe realmente comprometida com as graves responsabilidades que pesam sobre a Instituição. Não só o Grupo de Trabalho que me auxilia, como também os colegas da Força-Tarefa de Curitiba, em um trabalho de colaboração mútua, viabilizaram o êxito dessa empreitada. Preparamos, GT-PGR e FT-Curitiba, toda a logística necessária para elaborar, revisar, assinar os acordos e colher os 950 termos de declaração que, em seguida, foram encaminhados ao STF, por petições, para homologação.

Os termos dos 77 acordos celebrados foram homologados no fim do mês de janeiro pela Ministra-Presidente, Cármen Lúcia. Desde então, as dedicadas equipes do GT-PGR e da FT-Curitiba trabalharam incessantemente para organizar o material e dar o tratamento jurídico adequado e individualizado a cada caso.

Ainda como efeito do acordo celebrado, realizamos, sob a liderança do MPF, no mês de fevereiro, reunião com chefes de 10 Ministérios Públicos ibero-americanos e reuniões específicas com um MP africano para tratarmos das repercussões do caso Odebrecht naqueles países, já que parte dos fatos revelados nas colaborações e acordos de leniência dizem respeito a atos de corrupção ocorridos naquelas jurisdições estrangeiras. Podemos, com isso, dizer que antecipamos em 3 anos o objetivo previsto no Planejamento Estratégico Institucional de ser o Ministério Público Federal reconhecido nacional e internacionalmente pela excelência na atuação no combate ao crime e à corrupção.

Dos pedidos de homologação encaminhados, originaram-se 320 providências requeridas ao STF, assim distribuídas: 83 pedidos de instauração de inquérito, 211 pedidos de declínio de atribuição, 7 promoções de arquivamento, 19 outras providências.

Por esse trabalho extraordinário, gostaria de publicamente empenhar meu sincero agradecimento e respeito aos colegas do Grupo de Trabalho – PGR e da Força-Tarefa – Curitiba. Agradeço profundamente aos membros que nos auxiliaram, a partir de suas unidades, na coleta dos depoimentos, sem prejuízo de suas atribuições ordinárias, e aos dedicados servidores que trabalharam arduamente nas tarefas de logística fundamentais para o sucesso do empreendimento.

Devo ainda ressaltar, para reflexão geral, que, sem uma equipe de natureza permanente e composta por membros para apoio ao Procurador-Geral da República, seria impossível levar a bom termo as graves responsabilidades do cargo que ora desempenho, em prejuízo não só do MPF como de todo o Ministério Público brasileiro.

Eis assim um relato objetivo do que representou, em tempo e números, o acordo da Odebrecht. Poderia encerrar o texto por aqui, mas a singularidade do momento impõem-me tecer ainda algumas considerações sobre os reflexos metajurídicos decorrentes desse acordo histórico.

A expectativa em relação ao encaminhamento que daríamos aos depoimentos decorrentes do acordo da Odebrecht tem provocado muita apreensão no meio político, na imprensa e na sociedade de forma geral. As revelações que surgem dos depoimentos, embora já fossem presumidas por muitos, lançadas assim à luz do dia, em um procedimento formal perante a nossa Suprema Corte, nos confrontarão com a triste realidade de uma democracia sob ataque e, em grande medida, conspurcada na sua essência pela corrupção e pelo abuso do poder econômico e político.

Certamente o MPF terá dois desafios institucionais a vencer a partir de hoje: manter, como sempre o fez, a imparcialidade diante dos embates político-partidários que decorrerão do nosso trabalho e velar pela coesão interna. Não temos a chave mágica para a solução de todos os problemas revelados com a Lava Jato – especialmente agora, com a colaboração da Odebrecht –, mas, na parte que nos compete, asseguro a todos vocês que continuarei a conduzir o caso sob o viés exclusivamente jurídico, sob o compasso da técnica e com a isenção que se impõe a qualquer membro do Ministério Público.

Por fim, é preciso ficar absolutamente claro que, seja sob o ponto de vista pessoal – sou um democrata congênito e convicto –, seja sob a ótica da missão constitucional do MP de defender o regime democrático e a ordem jurídica, o trabalho desenvolvido na Lava Jato não tem e jamais poderia ter a finalidade de criminalizar a atividade política. Muito pelo contrário, o sucesso das investigações sérias conduzidas pelo MPF até aqui representa uma oportunidade ímpar de depuração do processo político nacional, ao menos para aqueles que acreditam verdadeiramente que é possível, sim, fazer política sem crime e que a democracia não é um jogo de fraudes, nem instrumento para uso retórico do demagogo, mas um valor essencial à sociedade moderna e uma condição indispensável ao desenvolvimento sustentável do nosso país. Coragem e confiança!

Forte abraço.

Rodrigo Janot

 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

12 Comentários

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  1. 160 K

    “sou um democrata congênito e convicto”

    A cento e sessenta mil merrecas por mes eu escrevo cartinha melhor que essa.

    Essa moleza vai acabar!

    1. Tens razão emerson57. Me

      Tens razão emerson57. Me parece que esse cabra está debochando de todos nós. É muita senvergonhice desse ludibriador sem caráter.

      Para o janota desconjuntado do pgr janot, assim como, para seus comparsas e subalternos da mesma corporação basta realizar apresentações carnavalescas com denúncias idiotas em PowerPoint. Ou ainda, como faz agora o plantonista do pgr através dessa ridícula e auto-laudatória cartinha à imprensa, à guisa de dirigir-se aos seus cupichas do pgr.

      Como são todos mamados marajás do Serviço Público(?). Provas mesmo, zero! Isso, não é necessário. Basta a convicção dos canalhas marajás. Todavia, estes filhos da puta só chegaram a tanto, pela descarada conivência dos acovardados e acomodados suínos do stf.

      Agora mesmo, soube que o marajá GM, o Beiçola de Diamantino MT, vai promover um regabofe, digo, um jantar, na mansão dele(?), para a alta cúpula da bandidagem tucano-governamental.

      O diabo nisso tudo é que, somos nós, as vítimas desses canalhas, quem paga e mantém esses mamadores arrogantes e desonestos marajás.

      Orlando

  2. Eu quero ver a conta de

    Eu quero ver a conta de palavra por acusado e por partido.  Quero ver aonde aparece “corrupcao” e aonde aparece “propina” e aonde aparece “caixa 2”, entre varias outras palavras.

    Eh pra desconfiar DO QUE MAIS quando os LavaBundas estao envolvidos?

  3. Cachorrão. Deve estar

    Cachorrão. Deve estar trocando a legalização do caixa 2 dos seus “corruptos favoritos” do governo golpista pela aprovação do auxílio aluguel dos procuradores/marajás para ficar mais um ano mamando as mordomias do cargo que ocupa. Está praticando o  Caixa 2 próprio que garantirá votos para a sua recondução e impunidade para os seus chicos e franciscos. 

  4. Só os tolos perderão tempo lendo essas bobagens previsíveis.

    Prezados,

    A auto-defesa que Rodrigo Janot e comparsas da PGR, do MPF – seja em Brasília, seja em Curitiba – expressa de forma reiterada nessa esdrúxula e ridícula carta auto-laudatória demonstra, de forma cabal, TUDO aquilo de que tanto Janot como como a camarilha do MPF são freqüentemente acusados: atuação político-partidária escancarada, perseguindo a Esquerda, o PT e os petistas, ao passo que protege e blinda acintosamente TODOS os tucanos, a começar por Aécio Cunha e o afilhado político, Antônio Anastasia.

    Se Janot tivesse um pingo de vergonha na cara, ficaria calado e não escreveria essa carta, que ao contrário de melhorar a imagem dele e do MPF serve apenas para confirmar aquilo que os brasileiros mais bem informados atentos e observadores percebem há muito tempo: a atuação mafiosa da burocracia estatal (PIG, PF, MP e PJ) em favor da direita política golpista (cujo representante-mor é o tucanato) e a perseguição contra a Esquerda, contra o PT e contra Lula. 

    Quem assistiiu ao depoimento de FHC a sérgio moro e viu a forma submissa como o juizeco da guantánamo paranaense se portou diante do ex-presidente que comprou uma reeleição e vê a forma desrespeitosa como o torquemada tupiniquim trata Lula e os advogados que fazem a defesa do Ex-Presidente operário JAMAIS vai cair nessa conversa mole do Janot.

     

  5. se a lei é pra todos…
    Tal

    se a lei é pra todos…

    Tal qual com juízes  ..se vc encontrar um procurador por aí grite: LADRÃO, BANDIDO, gatuno !!

    7 em 10 vezes vc acertará  ..pois 70% deles ganham, como os “exlmos meretrícios”, acima do teto constitucional

    ..duvida: a lei é pra todos, ou pra tolos ?

  6. A pizza do Janot(a) ops a lista do Janot

    Me engana que eu gosto democrata congênito, esses gens devem estar escritos psDb….e ter a carinha do tarja preta.

    1. Mas cadê o novo powerpoint

      Mas cadê o novo powerpoint ?????

       Aguardo ansioso por ele contendo aquelas entrevistas estrepidantes, proporcionadas por aquelas notorias celebridades do “heavy metal juridico nacional” e  que alimentarão, por dias,  a  isenta seção “este Brasil nao presta mesmo porque……………”, do pressuroso Jornal Nazistal, hoje esfaimado daquelas noticias ruins que eram o encanto da classe média tupiniquim  todas as noites, de segunda a sabado,…

      deduzo que, dessa vez, a Presidente  Dilma estará ao centro do novo powerpoint visto que, da ultima vez que incluíram o Presidente Lula, ao invés de destruí-lo, a “Gang 90 e as  Absurdetes” da “farsa ajato” ( para os intimos: “FT de curitiba”…) contribuiram para alçá-lo  à condição de primero posto nas pesquisas eleitorais divulgadas posteriormente……

       

  7. Força-tarefa do Paraná ajudou Janot nos inquéritos de políticos

    EIS AI O PORQUE OU O MOTIVO CLARO, DOS NOMES DO EX-PRESIDENTE LULA E DA PRESIDENTE DILMA, TEREM APARECIDOS NA LISTA DO JANOT. 

    “”

  8. O que eu quero saber é qual

    O que eu quero saber é qual candidato tem no seu programa de Governo para 2018:

    – QUEBRAR AS PERNAS DO MP E TCU PARA QUE AS OBRAS VOLTEM E O PAIS VOLTE AO CAMINHO DO PROGRESSO.

    Pode ser o Dória, o Bolsonaro, que eu to votando….

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