Fragmentação do sistema político incentiva a fisiologia, diz Dilma ao DCM

Jornal GGN – Em entrevista para o Diário do Centro do Mundo, na TVT, a presidente afastada Dilma Rousseff voltou a criticar o presidente interino Michel Temer. “Faz parte da traição a pessoa não mostrar suas reais intenções. Se mostrasse, não seria traidor”, atacou, se referindo ao peemedebista como “interino provisório usurpador”.

Para ela, a crise política que levou ao processo de impeachment é resultado da fragmentação do sistema político brasileiro, dizendo que ele incentiva a fisiologia e a “perda de conteúdo programático dos partidos”, ressaltando a importância de uma reforma política. 

Caso ela volte para a Presidência, Dilma diz que não fará mais a mesma composição. “O presidencialismo de coalização terminou”, disse. “Teremos outras formas de relação com a população e o Congresso. Obama governa sem maioria e ninguém tentou tirá-lo porque é uma democracia madura. Aqui teremos também de lidar com esse fato. Não se trata de minha pessoa”.

A presidente afastada também comentou as restrições impostas pelo presidente interino para viagens aéreas, dizendo que “não vai ficar parada”. Assista a entrevista completa abaixo:

Enviado por will

Do Diário do Centro do Mundo

Redação

6 Comentários

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  1. o barco

    Puro auto engano considerar traição as atitudes do PMDB  , Temer no meio. A aliança com esta agremiação partidária sempre foi de alto risco para para os petistas.As diferenças ideológicas , sociais, programáticas descambariam fatalmente em atritos graves no enfrentamento de crise de governo. O PMDB era a tripulação do barco , o PT , o timoneiro de um barco abandonado e sem rumo.

  2. Diagnóstico ruim, cura impossível.

    Não se pode exigir tudo de Dilma. Aliás, sendo ela quem é, reagindo e enfrentando os fatos com a dignidade que demonstra, não podemos exigir nada.

    Mas também não podemos esquecer que suas falas são a manifestação política de um projeto (ou assim deveria), e são a representação de uma plataforma e de um ideário.

    É aí que a porca torce o rabo.

    Sua compreensão sobre “fragilidade institucional” e sobre “fisiologismo” a aproximam da Dilma secundarista, que foi presa e torturada.

    Aproximam não na dignidade e coragem, que é bom que estejam intactas, mas na pobreza conceitual e ingenuidade.

    A nossa suposta fragilidade institucional que, de acordo com nossa Presidenta, rivaliza com a fortaleza institucional estadunidense, guarda relação de causa e efeito recíporca, isso é, foi esse o arranjo regional e mundial que, mal comparando com a Divisão Internacional do Trabalho das nações, distribuiu os esforços e missões geopolíticas de cada país, e por sua vez, mediou os confitos de classe dentro de cada um dos entes nacionais.

    Os caras são institucionalmente mais fortes porque somos fracos e vice-versa.

    Claro que isso não explica tudo, mas dá boas pistas de como cada esforço capitalista local ou regional, desde Barão de Mauá, ou Solano Lopez no Paraguai, foi sistematicamente massacrado, até chegar nos Odebrecht ou Eike Batista.

    Isso também não os absolve de seus erros e mal feitos, porém nos revela que dentro dos multifacetados interesses dentro das classes empresariais e da elite nacional, sempre prevaleceu o que chamamos de síndrome do rabo de elefante (é melhor ser cabeça de mosquito a ser rabo de elefante).

    Quando fala em fisilogismo, Dilma ataca a si mesma, como portadora de mandato conferido dentro de um jogo onde a troca não é só normal, mas desejável.

    Fazer política é satisfazer interesses. O problema é dar a dimensão (política) de quais interesses devem ser atendidos primeiro. Essa postura diminui o ataque patrimonialista ao Estado e dimuniu a margem de manobra dos parasitas.

    Pagar juros de 15% ao ano a banca é o quê: Política do mais alto interesse de Estado? 

    Será que a Presidenta entende o “fisiologismo” como algum tipo de endemia tropical ou algum ser alienígena?

    O fisiologismo “político” sobre o aparato de Estado é a própria essência do funcionamento do capitalismo periférico (e central também), a questão dos representantes é conter esse ímpeto, modulando os dispositivos  (impostos e investimentos) para equilibrar as demandas.

    Aconteceu o mesmo no sistema estadunidense, ou o socorro do Fed (como emprestador de última instância) aos bancos e casas de hipoteca foi o quê? Não foi uma satisfação das necessidades fisiológicas do mercado sorver mais e mais dinheiro público? 

    As guerras por petróleo não atendem às necessidades fisiológicas de sobrevivência do complexo bélico-industrial dos EUA?

    Dilma está mal assessorada, e isolada em meio a conceitos “morais” sobre política e sobre si mesma.

    1. Entre os bons e os maus
      Meio mundo não entende o que vc fala.
      Não tenho intenção de desconstruir seu comentário, que acho até verdade, mas nao acho que há a pretensão de ser a verdade absoluta. É uma hipótese, digamos.
      Mal e maus parlamentares, ingênuos e ruins de matemática que, o Fisilogismo tem um grude que se chama “verbas”.
      Criminosamemte o grude, ou o fisiologismo não foi por ideais e aí concordo…e faz parte da politica até certo ponto.
      A partir do momento que essa gosma é produzida por um cara que tem 4 contas na Suíça e como não é comigo, fica por isso mesmo? Simples assim?
      Tô vendo muita gente se.conformando e ja fazendo planos dentro do Governo Golpista.
      Ela tem obrigação de esclarecer exatamente o que está acontecendo no país, como é a política, o que inclue sua hipotese.
      Aos eleitores deve se direcionar, principalmente, e validar a democracia.
      Senão, seremos decorativos e descartaveis.

      1. Caro Will, vamos ao debate

        Caro Will, vamos ao debate fraterno:

        Não há verdade absoluta, mas verdades complementares.

        Você confunde causas com efeitos: A corrupção não é causa (não existe uma moralidade a ser seguida) ou uma distorção do capitalismo e do jogo de poder político que se desenvolve como forma de determinar quais classes terão mais ou menos poder sobre o Estado e seu orçamento, a corrupção é um sintoma.

        Imagine o capitalismo como um circuito elétrico, onde os cabos de energia conduzem o fluxo (corrente), nesse caso o dinheiro, de uma ponta a outra. Imagine que os capitalista veem os estados soberanos, os impostos e as regulamentações (leis e outras formas de controle social) como resistências, que geram perdas (calor).

        Os capitalistas então saem a caça de alternativas: Ou driblam as resistências (com medidas legais e ilegais, ao mesmo tempo, pois se legislam em causa própria, não hesitaram em financiar e cobrar pelo apoio dado, seja no caixa 1 ou 2), ou aproveitam o qeu seriam perdas (calor) e transformam em outras formas de acumulação (troca de favores e o “jetinho” para agilizar processos).

        A essência do capital é circular entre pontos assimétricos, é a desigualdade que faz o capital circular, como acontece com a diferença de tensão (medida em volts), que impulsiona a corrente (medida em ampéres). 

        Então, diagnosticar caras com 4 ou 400 contas na Suíça não serve absolutamente para nada. O problema do Cunha não é ter contas ou não ter contas, mas o serviço que ele presta a quem está subordinado.

        Judeus e nazistas mantiveram dinheiro na Suíça, uns tentando escapar e outros guardando o espólio roubado de suas vítimas.

        Não há chance de reunir capitalismo e Democracia sob o mesm o teto. Não é o presidencialismo de coalizão que acabou, mas sim a ilusão burguesa, pós 1789, de que a Democracia, do tipo como aprendemos, é o melhor sistema para gerir o capitalismo. É isso que Dilma ainda não enxergou (ou não quer).

        Estamos, no mundo do deus-mercado, voltando ao voto censitário. O que você chama de deputados corruptos é a volta dos sistemas de votos por castas.

        1. Lente de filtro mecânico

          Existem mais elementos neste sistema análogo aos cabos elétricos, reguladores de tensão etc. que conduzem a energia.

          Eu preferiria, Hydra.,  que fizesse uma analogia mais orgânica, menos mecânica, como corpo, vírus e bactérias.

          Nesse aspecto, um corpo saudável, não há perdas. mas transformações. 

          neste momento, nosso país está muito doente, então. 

          A questão da corrupção externa contaminando outro corpo, ou o surgimento local dela, só indica que esse corpo, democrático, não tem defesa, e dessa forma somos vulneráveis.

          No entanto, olhando para os poderes da república mais a mídia, as feridas estão abertas na carne, e os vermes parasitas estão expostos mas camuflados, em meio a sangue, pus e osso. Ou seja, em meio a nós, a energia e a estrutura, respectivamente.

          Esse governo Temer Golpista e quem o apóia, quer nos transformar em energias baixas, limitadas e controladas para a distribuição de seu sustento. Não digo que não havia isso nos governos Lula e Dilma, mas a coisa ficou bem mais saudável para o organismo chamado Brasil.

          Ainda temos duas ou 3 tentativas de evitar o golpe na cronologia do processo.

          A primeira é no Senado.

          Difícil cederem por pressão popular, mas se ela for forte, (pois Temer é muito ruim no sentido cruel e incompetente)  e está aumentando, como sugeriu a Presidenta, ” há muitos arrependidos” tudo pode acontecer.

          A segunda, é o STJ.

          Não há crime, e o mérito político, não pode ser maior que o mérito jurídico. pode-se aceitar dentro do Congresso. Mas em nenhum Tribunal, e em nenhum Palácio do Planalto, com o devido apoio popular à volta da Presidenta, é claro.

          O terceiro possa talvez vir das cortes internacionais, o que seria bem constrangedor para todos os golpistas. Cientes, e desvinculados com a cachorrada, à distância, e sem motivações partidárias, é um grande mistério, pois não se sabe quais são os interesses que influenciame o peso das nações sobre o Brasil.  Mas até lá, o poder Judciário vai passar tanta vergonha, que é bem capaz que o golpe pare no Senado.

           

           

    2. Comentário para post se houvesse conceito prévio de fisiologismo

       

      Hydra (terça-feira, 05/07/2016 às 11:31),

      Muito bom, muito bom mesmo. Esse atraso na concepção de política por parte da presidenta Dilma Rousseff é uma crítica que eu venho fazendo a ela há muito tempo.

      Eu faria a correção de não associar o fisiologismo com o capitalismo, mas com a democracia e mais especificamente com a democracia representativa e faria também um acréscimo de fazer uma definição prévia do fisiologismo. O fisiologismo como ato ilícito tem um nome específico, tal como peculato, corrupção etc. O fisiologismo como ato lícito refere-se ao toma-lá-dá-cá, ao é-dando-que-se-recebe, às barganhas, aos conchavos, e que é da essência do sistema democrático representativo. E é a esse fisiologismo que eu me refiro e por isso é preciso que se faça a definição prévia do que seja fisiologismo.

      Se a democracia direta fosse um processo, ela também permitiria o fisiologismo. Vamos supor que fossem só cinco os habitantes de uma ilha, sendo dois estrangeiros e sendo dois bem ricos. E que eles fossem também os legisladores que se reúnem semanalmente discutindo os projetos de lei. Há um projeto de lei para aumentar o tributo em relação aos mais ricos e um projeto de lei para expulsar os estrangeiros. Os mais ricos prometem apoiar os estrangeiros, não aprovando o projeto de lei que os pretende expulsar, se os estrangeiros apoiarem os mais ricos, não permitindo o aumento do tributo. Isso é fisiologismo e é uma demonstração de que a democracia representativa por permitir o fisiologismo é superior à democracia direta porque, de modo geral, o fisiologismo é um instrumento de defesa das minorias.

      A cultura universitária paulista faz crítica ao fisiologismo e a presidenta Dilma Rousseff embarcou nessa cultura. O PSDB sabe que essa cultura é equivocada porque eles sabem que o fisiologismo é da essência da democracia americana e apesar da formação marxista de muitos dos fundadores do PSDB eles adquiriram muito conhecimento com os teóricos americanos (Theodore J. Lowi deve ter sido professor de muitos deles). Só que o PSDB preferiu aproveitar o caldo de cultura contra o fisiologismo que os intelectuais paulistas divulgavam para, quando se lançaram como partido, apresentarem-se como um partido pela ética e contra o fisiologismo.

      Hoje o termo é utilizado igual ao termo guerra fiscal. Benefício fiscal existe desde os templos bíblicos. Agora quando se acusa um governante de fazer a guerra fiscal na verdade está acusando-o de corrupto, sem o risco de sofrer ação de calúnia. O mesmo se dá com o termo fisiologismo. Acusa-se alguém de fisiológico como se acusa de corrupto sem correr o risco da ação de calúnia.

      Provavelmente o capitalismo não existirá nos fins dos tempos, mas a democracia representativa sim e com ela o fisiologismo. Agora no estágio atual tanto o capitalismo como a democracia precisam de se aperfeiçoarem e o aperfeiçoamento de um acaba sendo o aperfeiçoamento de outro. O aperfeiçoamento do capitalismo significa reduzir as desigualdades inerentes ao próprio sistema. E o aperfeiçoamento da democracia significa permitir que a representação se aproxime o máximo possível da realidade social.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 05/07/2016

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