Israel impõe “colapso econômico” à Autoridade Palestina com sequestro de receita, diz site

Veremos uma crescente privação social e incapacidade da AP em pagar seus salários e prestar serviços aos pobres, diz economista

Reprodução/Democracy Now
Reprodução/Democracy Now

A Autoridade Palestina na Cisjordânia vem sofrendo uma espécie de asfixia econômica por parte de Israel, que tem retido e redirecionado sua receita em impostos para um fundo na Noruega, reduzindo a capacidade do governo em pagar salários do funcionalismo público e fazer os investimentos necessários para tentar conter os efeitos da guerra na Faixa de Gaza. A informação é do Democracy Now.

Em entrevista ao canal, o economista Raja Khalidi, diretor-geral do Instituto de Pesquisa de Política Econômica da Palestina, explicou os efeitos das ações de Israel e sublinhou que o cerco econômico à Autoridade Palestinas antecede a guerra contra os palestinos em Gaza, deflagrada em outubro de 2023, após um ataque do Hamas ao sul de Isral.

“Mesmo antes do último ataque israelita, a vida quotidiana e o comércio em Gaza desmoronavam-se como resultado de um cerco de 15 anos ao território imposto por Israel e pelo Egito. Entretanto, Israel está a reter milhões em impostos cobrados em nome dos palestinos, deixando a Autoridade Palestina incapaz de distribuir salários a muitos funcionários do setor público, enquanto mais de 150.000 trabalhadores palestinos da Cisjordânia estão agora impossibilitados de trabalhar dentro de Israel devido a novas restrições impostas”, resumiu o Democracy Now.

Para o economista Khalidi, Israel está a utilizar uma série de ferramentas na sua “guerra econômica” contra os palestinos e adverte: “Estamos à beira de uma situação bélica na Cisjordânia”.

“Israel está a reter milhões em impostos cobrados em nome dos palestinos destinados a Gaza. No domingo, Israel aprovou um plano para enviar as receitas fiscais congeladas desde novembro para a Noruega, para serem mantidas em depósito, em vez de [repassar] para a Autoridade Palestina.”

Embora a Autoridade Palestina tenha sido expulsa de Gaza em 2007, muitos dos seus trabalhadores do setor público mantiveram seus empregos e continuaram gerando receitas fiscais transferidas à Autoridade Palestina, mas que estão na posse de Israel, agravando ainda mais a crise em Gaza.

O cerco de 15 anos

O economista Raja Khalidi explicou ao Democracy Now que a influência de Israel sobre as finanças da Autoridade Palestina remonta ao acordo de Oslo, que estabeleceu que, durante cinco anos, Israel ficaria autorizado a “controlar” os tributos sobre o comércio externo palestino nas suas fronteiras. 

“Isso criou um mecanismo de desalfandegamento, através do qual todas as importações registradas, através de Israel ou de Israel para a Autoridade Palestina, são calculadas e entregues mensalmente à Autoridade Palestiniana. Este foi um acordo que deveria terminar em 2000, mas depois foi perpetuado e depois foi gradualmente interpretado unilateralmente por Israel à sua maneira – de acordo com a sua própria segurança financeira e interesses políticos”, descreveu o economista.

Diante do envio dos recursos da Autoridade Palestina para a Noruega, com anuência dos Estados Unidos e o silêncio das demais nações, o governo palestino possivelmente terá de “contrair empréstimos” para “financiar parte do seu déficit”. Segundo Khalidi, autoridades ainda tentam dialogar para “chegar a um acordo que mantenha o tesouro em condições de pagar parte da sua folha salarial”.

Os trabalhadores

De acordo com o Democracy Now, a massa salarial palestina na Cisjordânia é de cerca de 4 mil milhões de dólares por ano, o que representa cerca de 80% do orçamento público. Hoje, os assalariados “estão a receber menos, têm menos capacidade para pagar suas dívidas”. 

Já os trabalhadores palestinos que regressaram de Israel após a guerra somam cerca de 180 mil pessoas que estão com dificuldade de recolocação no mercado.

“Portanto, há uma grande transformação em curso na economia local. Veremos o aumento da pobreza extrema na Cisjordânia, onde houve incidentes menos graves no passado do que em Gaza, por exemplo. Veremos uma crescente privação social e incapacidade da Autoridade Palestina para pagar os seus salários e prestar serviços aos pobres. O sistema educacional continua, mas está começando a ficar prejudicado, e assim por diante. Portanto, há uma gradual – não quero chamar de colapso da capacidade da Autoridade Palestiniana de prestar os seus serviços – mas certamente uma retração e um entrincheiramento.”

Leia a entrevista completa aqui.

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Redação

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