Jornal GGN – Três meses após deixar o governo de Jair Bolsonaro, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), mantém sua imagem ativa na imprensa, criticando a condução de Jair Bolsonaro no enfrentamento ao Covid-19. Para Mandetta, deixar o combate ao coronavírus nas mãos dos militares é como deixar “nas mãos de jogadores de futebol ou físicos nucleares no momento de maior risco da história do país” e que teremos um capítulo da história chamado “Cloroquina no Brasil”, “já que somos o único país em que ainda se discute isso com mais empenho do que enfrentar os graves problemas causados pela pandemia”.
Em entrevista dada ao Deutsche Welle Brasil, Mandetta afirmou que a autonomia dos municípios para o combate ao pandemia, hoje, está “sujeita à pressão política, por conta das eleições municipais que se avizinham” e que também os governadores estão sendo impactados por depender dos repasses do governo Bolsonaro para adotar políticas de combate ao vírus.
O ex-ministro responsabiliza diretamente a postura de Jair Bolsonaro para o enfraquecimento das políticas restritivas e do comportamento da sociedade, em não adotar as medidas que prefeitos e governadores orientavam, “sob o argumento que o presidente as condenava”. “Foi uma sinalização fora de compasso”, disse.
Ao ser questionado se “deveríamos ficar preocupados” com a militarização na pasta, o ex0ministro disse que se abriu “mão da academia, de séculos de construção do saber em saúde pública”. E disse que “não foram anunciadas novas medidas [de enfrentamento ao novo coronavírus] porque não há competência para isso”. E que o comando militar, pelo interino desde o dia 15 de maio, é temporária e segue diretrizes meramente políticas.
“Os militares só estão esquentando a cadeira do Ministério da Saúde para uma indicação política, provavelmente alguém do ‘centrão'”, resumiu.
Sobre a defesa insistente de Bolsonaro à cloroquina, Mandetta afirmou que ao dizer ao presidente sobre a falta de comprovocações da medicação, quando ainda estava no governo, assim como um paciente que recebe um diagnóstico duro, o mandatário “ficou estacionado na primeira fase, que foi de negação; no máximo se movimentou para a fase de raiva”.
“Então ele começou a se cercar daquelas pessoas que em tempos de crise adoram falar o que o chefe quer ouvir. Ele acreditou e se expôs ao ridículo de ir à rede nacional de televisão dizer que o coronavírus seria só uma ‘gripezinha’ que não mataria ninguém. Depois, apegou-se a essa cloroquina porque o [presidente dos EUA, Donald] Trump disse que o medicamento era bom para tratar a doença. A influência do Trump para ele, nesse ponto, foi muito negativa. Então ele [Bolsonaro] apareceu com uma caixinha na mão, dizendo que a cloroquina iria salvar todo mundo.”
E ironizou: “O presidente sempre diz para ‘deixarmos a história julgar’. Então provavelmente teremos um capítulo chamado ‘Cloroquina no Brasil’, já que somos o único país em que ainda se discute isso com mais empenho do que enfrentar os graves problemas causados pela pandemia.”
Leia a entrevista completa na reportagem do DW Brasil.
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