No impeachment, STF e PGR fizeram o papel de Pilatos, por Eugênio Aragão

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Eugênio Aragão, ex-ministro da Justiça

Do 247

A semana que passou foi seguramente das mais tristes em minha vida de 57 anos.

Comparo à tristeza do falecimento de um pai maravilhoso que tive, do falecimento de minha amorosa mãe que tanto me ensinou, à prisão injusta e infame de José Genoíno, um dos mais consequentes, consistentes, coerentes e honestos políticos que conheci na minha vida e à perda da confiança que depositei no atual procurador-geral da república, que mostrou não ter o tamanho e a coragem que pensei que tivesse quando movi montanhas para auxiliar em sua indicação.

A cassação ignóbil do mandato popular de Dilma à traição, para satisfazer a ganância, a ambição desmedida e o ódio pelo que ela e seu governo significam para uma corja de politiqueiros desqualificados lembra-me a paixão de Cristo, traído por seu discípulo por dinheiro, entregue ao ódio de Caifás, o sumo sacerdote de Jerusalém, e deixado à própria sorte por Pôncio Pilatos, que o fez crucificar ao lado de bandidos.

Nos dias atuais, é o STF e o PGR que assumem o papel de Pilatos. Não mexeram um dedo para poupar uma pessoa que sabiam inocente, honesta, corajosa e sem qualquer compromisso com a bandidagem que diariamente a chantageava.

Pelo contrário: praticaram verdadeiro populismo judicial ao manejarem um inquérito fajuto por obstrução de justiça contra si às vésperas da votação da admissibilidade do processo pelo senado, para misturá-la aos bandidos aos quais nunca deu trégua como governante.

No governo, vi como usavam vazamentos de depoimentos que comprometiam a governabilidade, muitos sem qualquer substância jurídica. Vazamentos seletivos, em momentos calculados, que só se destinavam a colocar gasolina na fogueira.

Depois, quando houve um “descontrole” do noticiário alimentado pelos vazamentos seletivos a atingir atores do outro lado do rio, passou a haver a indignação seletiva de quem antes aplaudia vazamentos contra inimigos.

Finalmente, ao se dar o nefasto resultado da condenação da presidenta, com a esperta exclusão da pena de perda dos direitos políticos, passou-se a urdir a seletividade da aplicação da doutrina já previamente estabelecida na obra dos algozes de Dilma…

Isso, definitivamente, não é justiça, é um circo, um show do ratinho para animar os canalhas e os que são providos de dois ou menos neurônios apenas.

Mas domingo o sol voltou a raiar entre as espessas nuvens. A manifestação de mais de 100.000 cidadãos corajosos que não se deixaram intimidar pelo aparato golpista alimentou-me com a esperança por dias melhores.

Como disse Dilma ao se despedir por ora, VOLTAREMOS. E não esperem os mesmos erros. Aprendemos que conchavo com o inimigo de classe só pode levar a isso: traição, descompromisso com a causa pública e pilhagem do patrimônio que é de todos nós.

Não haverá perdão aos omissos e aos traidores, a história será severa em seu julgamento que começa agora. Serão reconhecidos, sim, os que lutaram e resistiram sem pensar na causa própria, os que se imolaram pela democracia.

E cabe a cada um de nós zelar com carinho e honestidade por essa narrativa, que não é nossa, mas do povo brasileiro, que teve seu voto pisoteado com sapatos Salamander e Gucci de políticos corruptos, como em 1964 pisotearam-nos com os coturnos de militares feitos instrumentos dessa mesma casa grande.

Avante Brasil, perdemos uma batalha, mas não a Guerra e eles terão seu Estalingrado mais cedo ou mais tarde, porque somos muitos e temos a vontade de projetar este País à posição das grandes nações do mundo e não reduzi-lo a um anão feito marionete dos grandes.

(Postado por Emanoel Messias, que admira a lealdade, sabedoria, honestidade e coragem do autor)

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

20 Comentários

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  1. Se Dilma voltasse

    Se Dilma voltasse provavelmente reconduziria Janot á PGR e Zé banana novamente a Ministro da Justiça. Ah sim, e entupiria a GROBO com publicidade oficial.

     

  2. Pilatos é elogio

    Muitos poderão considerar as palavras de Aragão fortes e de resistência, mas eu sinceramente penso que se enquadram na categoria “mimimi”. Ora se um juiz de futebol deixasse de marcar vários pênaltis contra o adversário, certamente não diríamos que ele agiu como Pilatos, mas sim como um LADRÃO. Resistência é se opor, falar claramente que sofremos um GOLPE e que todas as instituições apoiaram e participaram ativamente, não apenas lavaram as mãos.

  3. E não esperem os mesmos erros?

    Deixe-me ver. PT era contra a privatizaçao da Telebras. Entrou até com a ADIN 1668 contra a criação da Anatel. No governo fez o que? Enterrou a ADIN, a tentativa de CPI da anatel, a satiagraha (abandonando Protogenes e desterrando Paulo Lacerda) e ainda deixou a pior agência (segundo Nassif) continuar agindo como sindicato das operadoras. Bens reversiveis e universalizacao da banda larga para que, cara palida?

    Ai vem Serra, Temer e companhia e privatizam o pré-sal. Pensa que a volta do PT em 2018 vai mover uma palha para desfazer? Nunquinha.

    Nem vou falar no DARF de R$600 milhões que não causo nem uma misera intervençao numa certa tv golpista. Nem nas dezenas de mentiras plantadas no PiG que nào mereceram uma minima açao judicial questionando, com direito de resposta ou mesmo idenizaçao

    Impeachment do Gilmar pra que? Melhor deixar a cara a bater.

    PT indicou quase todos os ministros do STF e o resultado é esse que vemos ai. A esquerda tem muito que aprender sobre real politik, meu caro.

  4. Habilidade política

    Muito se falou da inabilidade e a aversão da Dilma sobre política, principalmente num Congresso que mais parece um sindicato do crime.

    Dilma errou, e errou muito quando não podia errar, principalmente no período após o final da sua reeleição e a sua posse.

    Se escondeu sem nenhuma explicação. Não recebeu ninguém da base do governo para acertar a base de apoio no Congresso.

    Luiz Felipe Alencastro, Historiador que mora na França, faz uma análise perfeita da situação que desembocou na derrubada da Dilma.

    Profetizou em 2009 num artigo que a formação da chapa com Temer não daria certo.

    Dilma nunca se elegeu a nenhum cargo político através do voto.

    Foi galgada a presidência graças a Lula na primeira e na sua reeleição.

    Fez um péssimo mandato no primeiro governo.

    Se cercou só de medíocres.

    Mesmo que quisesse não poderia fazer política com aquela equipe.

    Um dos muitos erros dela foi manter José Eduardo Cardozo no ministério da Justiça, quando nós descobrimos, não ela, porque já o conhecia, o seu último ministro da Justça, Eugênio Aragão era a pessoa mais preparada par o cargo.

    Como ele pode ser tão vesga nesse caso?

    Esse brasileiro, que passeia a admirá-lo, mostra hoje que era um fiel e fervoroso das políticas progressistas dos últimos treze anos.

    Quando Dilma viu  que a canoa estava para virar, convida-o para o ministério. Tarde demais, sem contar as grosserias da oposição e judiciário que impediram que assumisse as funções de imediato com artifícios jurídicos.

    Cadê os varões do seu governo degolado e que foram ministros?

    Cadê Mercadante? Esse calado ajuda mais do que se abrir a bôca.

    Será que Dilma nunca soube dos “pegas” do Eugênio Aragão com o mafioso Gilmar Mendes?

    Tudo para defender o seu governo. Isso é o que nós sabemos agora. E antes? O que mais o ex-ministro fez para ajudar o governo e que nós não sabemos?

    Sinceramente, acho que a única coisa que Dilma fez de bom, embora por pouco tempo, foi dar oportunidade para esse grande brasileiro que passei a conhecer e admirar.

    É uma pena.

     

  5. Sujeito HOMEM esse Eugênio
    Sujeito HOMEM esse Eugênio Aragão.
    Poderia silenciar como muitos, por conveniência ou covardia.
    Optou em continuar defendendo a democracia e os direitos dos cidadãos.
    Tem o meu respeito e admiração.

    1. Homem seria se tivesse dito isto quando era ministro

      Acho que precisamos de mais contundência nas críticas, senão ficamos numa repetição de mimimi. Estas palavras seriam corretas quando ele era ministro, mas agora o golpe já foi dado, o momento é de desafio. Chamar esse pessoal de Pilatos é elogio, quando as ruas e o mundo já os nomeou com golpistas.

  6. Eles sempre souberam que os

    Eles sempre souberam que os canhões foram mirados na Dilma por único motivo: no início de 2012 ela começou a fechar as torneiras governamentais que inundavam essa cambada de ladrões. Foi o estopim para se colocarem – com o conluio do stf, da pgr e da mérdia, além, claro do juiz-idolatrado-por-parte-dos-procuradores-que-entre-tantos-processos-arquivados-por-incompetência-negligência-preguiça-nele-se-desmoronaram-em-fajutices – contra o governo dela; até foram algo contidos em 2013 e 14, visto que esperavam que ela não se reelegesse  (aliás, o sonho “dourado” do temerista). Como ela foi reeleita, embucharam o acunhado no pé da câmara e, de lá para cá, com ministrecos apequenados, associados et caterva, foram “cevando” seu mandato até o horror final. Já o dito presidente (falta pouco) do stf miseravelmente aceitou ser o guri-de-recados dos renantistas, pois, se o julgamento – em si – é apenas político, que raios foi ele fazer na casa-da-mãe-joana? Então, foi lewando em banho-maria, alegando estar o rito (rito?) sendo cumprido: envergonhou sua vida, sua carreira e, principalmente, seus (ím)pares, pois, os gilmares e os doutos teori(as) não ficaram longe do acobertamento do golpe: sim, GOLPE! Agora, talvez, estejam se “lambuzando”… Será?

  7. É agora, Aragão?

    Depoimento correto. Mas como já deixei aqui registrado, palavras agora não valem nada. A sociedade brasileira, duante da delicada e conturbada situação que vivencia atualmente, exige ações concretas daqueles que podem adotá-las.

    Ora, Eugênio Aragão, se esse pulha do PGR agiu como Pilatos e você testemunha isso, cabe uma ação por prevaricação?

    E se José Genoíno foi injustiçado, cabe uma ação na Justiça pela nulidade dá AP 470?

    Aguardamos seus gestos subsequentes, Sr. Eugênio Aragão e esperamos que você najaão  como Pilatos. 

  8. Pilatos ou Padeiros?

    Foi muito mais que simples Pilatos, foram padeiros mesmo!, amassaram a massa, botaram fermento e deixaram para outros GOLPISTAS safados assar.

  9. Até comentar está difícil

    As palavras têm de ser medidas, devemos ser respeitosos, usar muitos “datas venias” e tratar os golpistas como se fossem pessoas sérias e respeitáveis. Enquanto isso a direita atira pedras em todo mundo, usa os mais baixos adjetivos e métodos. E quando falo direita, estou falando das instituições.

  10. Para falar a verdade pela metade é melhor continuar calado

    PGR Pilatos no impeachment?!

    Apenas isso?

    Só posso debitar essa declaração do Eugenio Aragao a um constragimento em chamar seus colegas do MPF pelo que realmente foram na conspiraçao e seguem sendo:

    – golpistas!

    Protagonistas das maquinaçoes do golpe, que torpedearam todas as tentativas de rearticulaçao da base de apoio do governo Dilma no Congresso.

    Alem, é claro, de, atraves da instrumentalizaçao de investigaçoes parciais, terem criado o pano de fundo policial-judicial-midiático que instou a comspiraçao politica a “estancar a sangria”.

    Grande Eugenio Aragao, perdoe-me. Mas para falar a verdade pela metade é melhor continuar calado.

    1. Você diz o que vc pensa. Ele

      Você diz o que vc pensa. Ele não tem q falar exatamente o q vc pensa, para que considere uma atitude corajosa e positiva. É um homem muito destemido e sério. Para meu consolo, parece que ainda tem alguns no Judiciário e Procuradoria.

       

      1. Saudades do Technicolor? Tem filtro no Instagram

        De fato não falou o que eu penso.

        Mas tampouco falou o que ele pensa.

        Na verdade, a própria citação a “Poncio Pilatos” ficou meio forçada, já que no seu próprio texto ele elenca ações da PGR que foram muito além do “lavar as mãos” do magistrado romano – que, alias, não foi para o Céu.

        Respeito o seu enquadramento dos atores políticos. Mas tenho ojeriza a maniqueísmos e simplificações.

        “Heróis de todo virtuosos”, incapazes de errar, contra “bandidos de todo imundos”?

        Não é para mim…

        Sim, admiro Eugenio Aragão e no meu comentário me referi a ele como “grande” em virtude dessa admiração.

        Contudo isso não o exime de cometer deslizes.

        Aliviar para o lado do seu MPF neste artigo é sim um deles.

        As cores um tanto desbotadas do mundo real talvez sejam menos atraentes aos olhos que os tons quase estourados do Technicolor dos anos de ouro do Cinema, gravados em leitosa película. Mas é assim que o mundo é – pro bem e pro mal.

        Menos mal que ao menos no Instagram, Snapchat, etc. podemos encher de filtros, não é mesmo?

        Só não se deve confundir a foto “trabalhada* que se posta nas redes sociais para os outros verem com a realidade do modelo e dos cenários.

        Em grau elevado a dissociação entre os dois pode passar ao nível de patologia psíquica.

    2. Falou como estadista. Foi

      Falou como estadista. Foi claro e incisivo. Não importa se usou os termos que seriam do seu agrado. Importa o conteúdo.

  11. Vênia

    Com a devida vênia do Procurador Eugênio Aragão, um dos poucos (ou talves o único) dignos de admiração dentre os que têm aparecido na mídia, o PGR e o STF estão mais para Herodes Antipas. Pilatos foi apenas omisso, lavou as mãos.

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