Osasco e a tocha olímpica

Hoje o fogo olímpico será carregado pelas ruas de Osasco https://pt.wikipedia.org/wiki/Osasco cidade onde eu moro. Este acontecimento, porém, não me deixa nenhum pouco entusiasmado.

Há um mês a Câmara dos Vereadores da cidade foi objeto de uma operação policial http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2016/06/operacao-do-mpe-na-camara-de-osasco-prende-seis-pessoas.html. A prefeitura faz propaganda na TV e não paga pontualmente os Precatórios http://observatoriodaimprensa.com.br/feitos-desfeitas/cronica-da-republica-popular-dos-publicitarios/. Chacinas são comuns na cidade, a última ocorreu há um ano http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/08/chacina-em-osasco-e-barueri-veja-o-que-se-sabe-e-o-que-falta-esclarecer.html.  Na periferia favelas imensas continuam sendo cautelosamente escondidas dos noticiários produzidos pela municipalidade, exceto quando o poder público anuncia ou concretiza alguma obra.

A falta de água na periferia osasquence é uma cortesia da Sabesp. A Eletropaulo já chegou a deixar uma rua na periferia 22 dias sem energia elétrica, obrigando os moradores a recorrer ao Judiciário. Eles foram atendidos, mas o processo levou vários anos para ser solucionado. Afinal, a excelentíssima Justiça Comum também é lentíssima em Osasco.

A tocha Olímpica será conduzida pelo bairro do Rochdale, cuja baixada fica inundada toda vez que chove forte. Por sorte hoje o tempo está bom, o que significa que o cortejo oficial não ficará ilhado do outro lado do Rio Tietê. E já que estamos falando deste rio, que há alguns séculos foi a principal via de comunicação e comércio com o interior paulista, não podemos nos esquecer de um detalhe importante. Os bairros osasquences próximos ao maior esgoto urbano do Brasil são agraciados com um odor desagradável quando faz calor. Mas hoje está frio e, portanto, os repórteres que acompanharão o fogo olímpico não terão o prazer de conhecer as particularidades odoríferas da minha cidade.

O município é cortado pela Av. dos Autonomistas, a mais movimentada via da cidade. Todos os ônibus que circulam em Osasco cidade utilizam esta avenida para se deslocar dos bairros para o centro da cidade. Quando a tocha olímpica for conduzida pela Av. dos Autonomistas a cidade ficará inevitavelmente parada. O previsível desconforto dos osasquences, porém, não será objeto de cobertura jornalística. O show olímpico tem que continuar, mas o povo não faz parte dele.

Os gregos interrompiam suas guerras para realizar as Olimpíadas. A guerra entre ricos e pobres, que esgarçou o tecido social brasileiro antes, durante e depois do golpe de estado de 2016 comandado por Michel Temer (vice-presidente que atua como espião da Embaixada dos EUA) e Eduardo Cunha (bandido perseguido pela Justiça por vários crimes financeiros), também é vivenciada em Osasco. Em minha cidade, como em muitas outras, a Justiça do Trabalho também está abarrotada de processos que podem ser descritos como minúsculas guerras simbólicas ritualizadas entre empregadores pilantras e empregados lesados. A passagem da tocha olímpica será capaz de interromper estas guerras ou de impedir manifestações visuais e sonoras contra o tirano que assaltou o poder: FORA TEMER.

A cidade é cercada de quartéis. Suponho que todos eles estão de prontidão no dia de hoje. O medo de um atentado terrorista contra o símbolo das Olimpíadas é evidente. Nenhuma autoridade civil, judicial ou militar osasquence quer ter o desprazer de ver que um balde d’água estragou a festa justamente em Osasco. 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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