“O que se defende é nenhuma ciência a menos”, diz Renato Janine sobre o novo ensino médio

Cientista político e ex-ministro da Educação, Renato Janine é entrevistado pelo jornalista Luis Nassif no canal TVGGN

Renato Janine é fotografado em diante da logomarca do governo federal
Foto: Wikipédia

O programa TVGGN 20 Horas, apresentado pelo jornalista Luis Nassif, conversou na terça-feira (8) com o cientista político, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro, sobre o novo ensino médio. Pessoalmente, Janine é a favor da revisão da lei por meio de medidas infra legais.

Janine lembrou que a questão do ensino médio por si só já é um desafio para o País, pois existe uma evasão escolar enorme, com jovens abandonando as instituições de ensino em busca de trabalho.

Para Janine, é muito simplista a ideia de que retirar as humanidades da grade curricular do ensino médio, e deixar apenas as disciplinas relacionadas às ciências, vai reter a evasão e formar mais profissionais nessas áreas, para “aumentar o PIB” (Produto Interno Bruto).

“A escola não deve ser um lugar chato, deve ser um lugar de alegria, de prazer, de aprender coisas que mudem e melhorem a vida das pessoas”, afirma Janine.

Promessas vazias

Para Janine, o novo ensino médio promete coisas que não estão sendo entregues, como a possibilidade de o aluno escolher as disciplinas que mais têm relação com seus objetivos profissionais futuros – o chamado itinerário formativo.

Para um jovem fazer verdadeiramente uma escolha nesse sentido, seria necessário residir próximo de escolas que ofereçam mais de uma opção de itinerário, o que não é a realidade da maioria dos estudantes.

Para resolver essa questão, a matemática é simples: é preciso construir mais escolas, o que implica em investimentos em infraestrutura e também na contratação de professores. Esses recursos, por outro lado, não foram empregados em governos anteriores.

“Como nós faríamos isso [as obras e contratações] com o teto de gasto? Não tinha como”, lembrou Janine, frisando que o ex-presidente Michel Temer sancionou o novo ensino médio ao mesmo tempo em que criou a lei do teto de gastos, limitando as despesas públicas, inclusive os investimentos na Educação.

Nenhum ciência a menos

Para além do problema da oferta dos itinerários formativos, Janine debateu ainda a questão de se reduzir a carga de disciplinas ligadas às humanidades, para dar prioridades às ciências exatas e biológicas, numa tentativa de forçar a formação de mais profissionais nessas áreas.

Janine explicou que reduzir o acesso a determinadas disciplinas nesta fase em que o jovem ainda não tem maturidade para decidir qual profissão seguir no futuro, por si só, já é um contrassenso.

Ele ilustrou dizendo que, nos últimos anos, algumas faculdades públicas, como a UFABC, passaram a investir, inclusive, em bacharelados interdisciplinares. Assim, os ingressos podem ter contato com várias área do conhecimento para, somente depois disso, escolher qual delas seguir.

“Basicamente, o que se defende é nenhuma ciência a menos. Tem que ter química, física e biologia, tem que ter português e matemática […] e tem que ter filosofia e sociologia. Idealmente, a gente teria psicologia também, mas acho que filosofia e sociologia já dão um equilíbrio para a pessoa estudar ética, lógica, filosofia, conhecer a sociedade em que vive. Penso que é por aí que a gente tenha que caminhar.”

Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação e presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência)

Para Janine, fazer com que os estudantes escolham precocemente entre uma área do conhecimento em detrimento da outra, não é uma escolha razoável. Na verdade, para ele, é fundamental que se comece a pensar numa formação interdisciplinar dos jovens no ensino médio, a exemplo do que está ocorrendo a nível superior, de forma expansiva do ponto de vista do conhecimento, abrindo o leque de possibilidades.

“Nós precisamos formar pessoas, já no ensino médio, com uma base científica que permita que elas até mudem de profissão. Porque isso está rolando: não é só mudar de emprego, é mudar de profissão. (…) É um mundo que coloca em xeque a profissionalização. Antigamente você fazia um curso e estava formado para sempre”, pontuou.

Assista a entrevista abaixo:



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Isadora Costa

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