Sakamoto, os comentários e a questão da poluição do ar

Nassif e pessoal todo, o Sakamoto fez um belo texto sobre o problema da poluição do ar em São Paulo.

Abaixo segue a íntegra. Os comentários são de doer.

Há um PL que, caso aprovado, obrigaria as montadoras a realizarem compensação ambiental. O Sakamoto talvez não o conheça ainda:

http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=352090

Ementa
Obriga fabricantes e importadores de veículos a realizar plantio de árvores para compensar a emissão de gases geradores de efeito estufa por veículos novos colocados a venda no mercado nacional.

A compensação ambiental é chorar sobre o lei derramado, embora instrumento útil para coibir e tornar efetiva as remediações necessárias quando há dano ambiental e à saúde humana. É uma política consagrada no mundo, mas que não deveria ser acionada se o mundo fosse mais justo.

Esse PL foi desarquivado pelo seu autor em 16 de fevereiro de 2011.

Precisa ser melhorado, mas é o primeiro e único PL que obriga montadoras, aqui no Brasil, à compensação. Ou há outro?

Um colega de debates ambientais fez as seguintes considerações.

“Só gostaria de alertar que o projeto de lei que obriga as empresas a plantarem árvores sobre cada veículo novos produzidos ou vendidos, já foi massacrado na Europa, visto que essa ação não melhora o trânsito das cidades. Não basta compensar. Em mobilidade sustentável é necessário criar políticas que diminuam a quantidade de carros circulando nas ruas. Essa lei vai dar uma leitura errada para sociedade e pelas montadoras, de que é possível colocar mais carros nas ruas desde que compensado os gases emitidos…Sei que já é consenso entre o grupo e eu só participei de uma reunião peço desculpas mas não posso deixar de emitir minha opinião sobre esta questão, visto que esta lei da forma como está não ajuda a cidade e o pior irá agravar o problema de trânsito. Acho importante dinamizar as atividades florestais, incentivos ao aproveitamento de terras, recuperação de áreas degradadas e afins, mas não em deslocamentos, isso trará um colapso na cidade, porque as montadoras acharão que fazendo isso já estão colaborando com as questões ambientais, o que não é verdade. Aliado as questões de mudanças climáticas temos que cuidar dos ruídos, particulados, ozônio, NOx, SOx, trânsito, saúde, impactos economicos etc…

Nos EUA a Toyota esta desenvolvendo um sistema (STI) se eu não me engano… Está no plano de mitigação de CO2 da Montadora, este sistema falará com os sistemas de trânsito das cidades… Isso vai permitir que o motoristas evitem áreas de congestionamentos… As montadoras deveriam investir em tecnologias para reduzir o trânsito e não apenas compensar plantando arvores… Vai ser mais uma licença para poluir e congestionar mais as cidades. Para esta finalidade seria mais prudente colocar paras as empresas no geral outras fontes de emissões do seu processo produtivo ou de ciclo de vida do produto. Para descolamentos  essa lei não fará nenhum efeito nas questões de mobilidade sustentável.

Estou tomando partido da Mobilidade Sustentável pois é totalmente transversal… Não se pode trabalhar mobilidade sustentável sem uma boa política ambiental, social e econômica aliado a boas políticas de gerenciamento e infraestrutura.

Peço-lhes que pelo menos insiram na proposta, um artigo que obriguem  as montadoras desenvolverem mecanismos para mitigar o trânsito das cidades.

Um projeto interessante seria alocar parte do ICMS e IPVA para programas de mobilidade sustentável ou mitigação do trânsito, assim como funciona no Estado de Washington.

Outra questão a ser levantada é a contrapartida dos governos para financiamento de infra-estrutura pelo Banco Mundial, uma parte dos financiamentos deveria ir para projetos de gerenciamento de mobilidade sustentável nas cidades.

Peço novamente desculpas se meus comentários trazer transtornos.

Minha humilde contribuição”

Antes de encerrar, vejam:

Qualidade do ar

Efeitos da Poluição Atmosférica

Na saúde humana

Irritantes pulmonares – atacam pulmões e o trato respiratório (Ox, SOx, Clx, Nox);

Asfixiantes – causam asfixia quando em grandes quantidades (CO, HxS);

Cancerígenos – câncer no pulmão (amianto, alcatrão), câncer no nariz (cromo);

Na vegetação

Alteram a fotossíntese e destroem folhas (NOx, SOx, particulados)

Nas edificações

Corroem metais, atacam mármores e paredes (SOx, Clx, NOx).

Abraços, Gustavo Cherubine.

 

http://blogdosakamoto.uol.com.br/2011/07/16/a-pior-catastrofe-ambiental-de-sao-paulo-esta-em-curso/

A pior catástrofe ambiental de São Paulo está em curso

16/07/2011 – 17:53 – Sem categoria 298 Comentários »

 

O que os olhos não vêem, o coração não sente. Porém, o ar de São Paulo deixou de ser transparente há muito tempo. Ele tem cor, cheiro, às vezes gosto e forma – que pode ser vista quando decolamos de avião da cidade. Hoje, ao vir para o Rio de Janeiro, fiquei triste ao ver o cobertor cinza sobre a minha cidade e, depois, comparar com o céu da metrópole vizinha.

 

Na minha opinião, essa é uma das piores catástrofes ambientais do país, embrulhada em um pacote bonito de pôr-do-sol avermelhado, que nos faz chorar de emoção com a vista embotada de pó e sujeira. Um repórter na TV, dia desses, exaltou o lindo fim de tarde, chamando as pessoas para saírem das suas casas e sentirem o clima, fazerem exercícios. Afe! Em seu momento de desserviço à pólis, esqueceu de pedir para trazerem os inaladores para a criançada e os idosos.

 

O melhor de tudo é que essa capa preta que encobre a cidade não é fruto de alguma entidade maligna que veio estabelecer o caos onde habitava a ordem, mas resultado de nossa ignorância acumulada – que comemora recordes de carros vendidos e fica besta de orgulhosa pelo fato de a capital ter quase um veículo a cada dois habitantes (e viva o ozônio em níveis estratosféricos!). Que reclama da falta de transporte público de qualidade, mas taxa de baderneiros e fanfarrões os manifestantes que resolvem se insurgir contra o aumento no preço da passagem de ônibus. Que diz que a cidade tem que encontrar meios alternativos de transporte mas, sempre que possível, acelera e não dá passagem para um ciclista.

 

Não temos a aplicação decente de uma política de compensação ambiental que considere o número de carros vendidos e reverta parte dos lucros dos impérios automobilísticos em recursos para o transporte público (lucros obtidos com a ajudinha de grandes subsídios públicos, diga-se de passagem). Afinal de contas, fala-se da geração de empregos com a produção industrial, mas não dos impactos silenciosos que vão ceifando vidas ao longo de anos. Ao mesmo tempo, temos uma altíssima taxas de enxofre no diesel, problema cuja solução já foi adiada diversas vezes por pressão de empresas de veículos, governos e produtoras/distribuidoras de combustível.

 

(Ah, mas você não está considerando os biocombustíveis, que vieram salvar o mundo da sanha poluidora do petróleo! Bem, o problema é que os impactos sociais e ambientais causados pela produção de etanol (cana) ou de biodiesel (soja, sebo de boi, girassol, mamona, pinhão-manso…) não são vistos e sentidos na capital paulista, mas sim a centenas ou milhares de quilômetros de distância, e vão do desmatamento ao trabalho escravo. Mas, aí, quem se importa, né?)

 

Em cidades de inverno rigoroso, há governos estrangeiros que decretam feriado quando neva muito. Em lugares escaldantes, ondas de calor muito intensas liberam os trabalhadores de seus afazeres. Com isso, resguardam a saúde de seus moradores. Os feriados religiosos fazem bem à alma dos que crêem em algo. Mas e uma pausa para o corpo? A instituição de um feriado em dias muito poluídos faria um bem enorme ao corpo dos mais de 11 milhões de moradores da cidade. Pois não é necessário acreditar no pó e em gases tóxicos, eles estão aí. Quem sabe a redução nos lucros, impostos e salários provocada por feriados forçados não mude a forma com a qual o setor empresarial, governo e sociedade encaram o problema?

 

A verdade é que nos acostumamos a viver dentro de um fumódromo, literalmente (quem vive em Sampa, traga o equivalente a três cigarros por dia). Quem vive em São Paulo mesmo sem consumir tabaco está mais sujeito a desenvolver câncer de pulmão do que moradores de cidades menos “desenvolvidas”.

 

Chamam de inversão térmica o maldito efeito que dificulta a dispersão de poluentes nessa época do ano. Os noticiários salpicam aqui e ali a inversão térmica, mas nada de falar sobre o nosso modo de vida e seu conseqüente modelo de desenvolvimento – verdadeiros réus pela nhaca. Carbono, enxofre, chumbo e uma sopa de produtos químicos expelidos principalmente por veículos. Eu sei, eu sei… isso gera empregos, roda a economia, é progresso! Mas se por um lado esse crescimento econômico dá a possibilidade de ter acesso a coisas que não tínhamos antes, por outro outro ele nos tira preciosos dias de nossa vida.

 

E não é a inspeção veicular que vai dar conta de resolver o problema. Vamos expulsar Fuscas, Brasílias, Variants, 147s, caminhões velhos de circulação (ou seja, eliminar o meio de locomoção da ralé), mas as propagandas que anunciam carros grandes e potentes, beberrões de gasolina e diesel na televisão continuarão povoando o imaginário e sendo adquiridos pelas classes abonadas.

 

O ritmo de destruição do meio foi acelerado para atender a consumidores, mas não a cidadãos. E vem cobrando um preço alto, cuja fatura será paga por aqueles que ainda são pequenos. A cidade está envolta em um bizarro chumaço escuro. É um modelo diferente de urbanidade que eu quero. Um em que não tenha que ficar angustiado por causa do pôr-do-sol estranhamente avermelhado. Trocar uma sociedade estritamente consumista, em que o “eu sou” se confunde com o que “eu tenho”, leva tempo. Talvez o meio ambiente não tenha esse tempo.

Redação

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