Bolsonarismo retoma narrativa antissistema nas redes sociais
por Danilo Strano e João Bolito
O governo Lula ganha forma e lança suas primeiras medidas, mesmo ainda em transição, a frente ampla que se uniu para derrotar Bolsonaro ocupa os espaços de poder para governar. Por outro lado, o bolsonarismo se vê em uma posição até então desconhecida, como oposição.
Em 2018, em uma eleição que a população ansiava por mudança, Bolsonaro conseguiu, com sua postura antiestablishment, canalizar esse sentimento anti política tradicional. Com inteligência e ineditismo, utilizou as redes sociais para defender suas ideias e atacar adversários. Enquanto os políticos tradicionais brigavam por segundos na Televisão e Rádio, ele fazia lives e comentários simplificados em seus canais digitais. Dessa forma, mesmo com 17 segundos de propaganda política na televisão no primeiro turno, conseguiu passar para o segundo turno como candidato mais votado.
Eleito, o bolsonarismo teve que adaptar sua forma de comunicação, o discurso antiestablishment, para um Presidente da República, se faz difícil de sustentar. O que foi feito nos últimos 4 anos foi uma postura antissistema parcial. O governo se aproveitou de verbas publicitárias milionárias e espaços em mídias tradicionais para defender suas ações.
Mas mesmo que o governo utilizasse esse método tradicional, o presidente em seu perfil pessoal, nas redes sociais, continuou se vendendo como antiestablishment, sempre acusando uma perseguição dos outros poderes, em um primeiro momento o legislativo e judiciário, prioritariamente só o judiciário. A base de sustenção do governo atuou no mesmo sentido, defendendo o governo nas mídias tradicionais e nas redes sociais se colocando como perseguida pelo sistema.
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O movimento não é desordenado. Acontece estruturado a análise de dados sociais que possibilitam ótimos resultados nas redes e nas urnas, apresentar-se como antiestablishment fortalece o enfraquecimento das instituições políticas e aumenta o índice de confiança do brasileiro em instituições como as Forças Armadas, que segundo pesquisa feita pelo Instituto Datafolha em setembro de 2021, obteve 77% de confiança popular, sendo a instituição em que os brasileiros mais confiam. No contraponto, partidos políticos, Congresso e Presidência da República figuram entre os menores índices de confiança. O Bolsonarismo cresceu atuando com uma comunicação política que nega partidos e poderes.
Nessa primeira semana como oposição, os bolsonaristas iniciam a retomada de sua origem, atacando todas as medidas iniciais do governo de transição. Os senadores eleitos, Mourão (RS) e Moro (PR), fizeram ataques efusivos as mudanças que o governo Lula prepara para o orçamento do próximo ano.
A frente ampla que governará oficialmente a partir de janeiro precisa se preparar para essa batalha de narrativas que se fortalecem nas redes sociais. Figuras como Nikolas Ferreira, Carla Zambelli, Cleitinho, Bia Kicis, Ricardo Salles e os filhos de Bolsonaro são exemplos da força bolsonarista nos meios digitais. Os mesmos métodos de comunicação utilizados pelos governos petistas de 2002 à 2015, certamente não obterão sucesso neste novo modelo de comunicação consolidado no Brasil.
Danilo Strano – Cientista Político
João Bolito – Cientista Político
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