Cristiano in, Zanin out, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Com suas decisões em favor da Constituição do Mercado, Zanin está empurrando parcelas imensas da população para fora da Constituição Cidadã.

Cristiano in, Zanin out

por Fábio de Oliveira Ribeiro

A nomeação de Cristiano Zanin para ministro do STF foi muito festejada. Em razão de sua atuação firme e decisiva contra o Lawfare promovido pela dupla Deltan Dellagnol/Sérgio Moro, ele conquistou o respeito da comunidade jurídica. O fato dele ter se tornado um pouco arrogante após ganhar notoriedade foi por mim considerado um detalhe irrelevante.

De maneira geral, fiquei satisfeito com a nomeação Zanin e até defendi a correção jurídica de uma decisão dele que desagradou a comunidade gay. Não compete ao Judiciário legislar e um tipo penal nunca deve ser interpretado mediante analogia. Todavia, o novo ministro do STF tem se mostrado um adepto empedernido do neoliberalismo jurídico sempre que é convocado a julgar questões importantes referentes a direitos sociais, trabalhistas e previdenciários.

Com suas decisões em favor da Constituição do Mercado, Cristiano Zanin está empurrando parcelas imensas da população para fora da Constituição Cidadã. O estrago social que ele e seus colegas da Suprema Corte estão provocando é imenso e em algum momento irá se voltar contra o Tribunal. O STF é o guardião do texto constitucional promulgado em 1988 e não o revisor ad hoc dele como se tivesse uma espécie de poder constituinte moderador.

A Suprema Corte não deveria se rebaixar à condição de um reles escritório de lobistas dos negócios como de costume defendidos pela imprensa neoliberal. Todavia, não é sobre esse assunto que pretendo falar aqui. O que me chamou a atenção e me deixou muito preocupado foi a decisão em que Cristiano Zanin se colocou como se pudesse ser editor jornalístico.

O texto constitucional brasileiro é claro. Ele garante a liberdade de expressão e de imprensa, proíbe a censura e garante aos cidadãos humilhados por veículos de comunicação o direito de ser indenizados. O Judiciário não pode se transformar num Ministério da Propaganda, com poder de ditar o que a imprensa deve divulgar ou reescrever o que ela divulgou.

Os prejudicados devem ser indenizados, conteúdos ofensivos podem ser tirados de circulação. Entretanto, o STF deve preservar e respeitar a competência que lhe foi conferida pelo texto constitucional. A Suprema Corte não pode atuar como órgão editor ou revisor em última instância daquilo que foi publicado. Essa função compete aos profissionais contratados pelos veículos de comunicação e aos publicadores em geral, não aos juízes.

Zanin errou e errou feio. E o erro dele é imperdoável.

No auge da Lava Jato, o então juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba selecionava e vazava informações para pautar a imprensa. Ele se tornou editor ad hoc de diversos veículos de comunicação, algo que dificultou bastante o trabalho dos defensores da democracia e aos advogados de Lula. Ao imitar Sérgio Moro, Cristiano Zanin corre o risco de desenvolver os mesmos vícios que deformaram a personalidade de seu antigo adversário. O dandismo jurídico e o culto à personalidade do herói lavajateiro comprometeram a distribuição de Justiça durante a Lava Jato e acarretaram a destruição da democracia brasileira.

As distinções entre mídia/imprensa e Judiciário devem ser preservadas. O equilíbrio entre esses dois campos deve ser mediado apenas pelo texto constitucional. Quando convocado a julgar processos referentes à liberdade de imprensa e/ou os danos causados por publicações, o Judiciário não deve imaginar que tem o poder de editar ou revisar o que deve permanecer publicado.

Cristiano Zanin começou a jogar sua reputação no lixo quando se tornou adepto do neoliberalismo jurídico. Ao cometer o mesmo erro que provocou a ascensão e queda de Sérgio Moro, o novo ministro do STF afundará num esgoto do qual não conseguirá mais sair.

Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.

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Fábio de Oliveira Ribeiro

1 Comentário

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  1. O pior foi votar a adf dos guardas municipais e nao deixar claro que nao estavam votando que guarda viraria policia , o que votaram era que guarda tinha o seu estatuto e ponto , pq depois dessa votaçao guarda começou a se achar policia , os prefeitos estam usando o guarda patrimonio como policia , vide o caso que o prefeito prendeu os gays que estavam fazendo uma parada gay , essa loucura de nao deixar claro que guarda é guarda , foi uma louucura .

    NO pais tem 27 policias militares , e tornar o guarda policia militar seria transformar , 5570 guardas em 5070 policias militares , isso é uma loucura oq querem . sera uma ditadura

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