O Rio de Janeiro continuará dominado pelas milícias?, por Luis Felipe Miguel

O crime organizado executa pessoas, sem se importar com câmeras ou testemunhas, num bairro chique do Rio de Janeiro, sem a menor cerimônia

O Rio de Janeiro continuará dominado pelas milícias?

por Luis Felipe Miguel

A matança no Rio de Janeiro chocou o país.

O triste é constatar que uma combinação perversa – entre a penetração do crime organizado na política brasileira e a radicalização acéfala da direita – impede que a sociedade se una para dar um basta.

Sim, chacinas acontecem com frequência absurda e sem sempre chamam a mesma atenção. Essa diferença é própria de uma sociedade capitalista, hierárquica, desigual como a nossa.

Jornalistas e autoridades se colocam mais facilmente no lugar das vítimas, pessoas de classe média, profissionais de nível superior. Quantos de nós já não foram tomar uma cerveja com colegas, de noite, depois de um evento?

O fato de que uma das vítimas era irmão de uma deputada federal, que sofre constantes ameaças por causa de seu trabalho corajoso, despertando a suspeita de crime com motivação política, também atrai atenção.

As investigações ainda vão avançar, mas parece que foi mesmo um erro dos pistoleiros, que confundiram um dos médicos com um miliciano. (Os perfis “de esquerda” que recusam liminarmente esta hipótese, abraçando variadas teorias da conspiração com base em evidência nenhuma, são irresponsáveis.) E que os assassinos já foram mortos, desta vez pelo Comando Vermelho, que não gostou da atenção que o crime atraiu.

Seja como for, uma coisa está clara: o crime organizado executa pessoas, sem se importar com câmeras ou testemunhas, num bairro chique do Rio de Janeiro, sem a menor cerimônia.

O crime organizado se considera o dono da cidade.

Isso é que exigiria um basta.

Mas uma grande parcela da elite política carioca, fluminense e brasileira está associada às milícias, seja de maneira umbilical, seja por conveniências de momento, e não se dispõe a enfrentá-las.

E a extrema-direita prefere inventar as suas mentiras de costume, importunando as famílias enlutadas a fim de desorientar e promover o ódio.

Pobre Rio. Pobre Brasil.

Luis Felipe Miguel é professor do Instituto de Ciência Política da UnB. Autor, entre outros livros, de O colapso da democracia no Brasil (Expressão Popular).

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

Luis Felipe Miguel

1 Comentário

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  1. Não sei o quanto eu e milhões de Brasileiros perguntamos quem matou Marieli.
    Agora no Rio lugubre 4 assassinos matam 3 médicos por “engano”,segundo a policia, e no dia seguinte os assassinos são assassinados.
    Como morto não fala será mais um crime sem solução posto que a inteligência policial de nossos policiais não vai além de um pau de arara ou de chantagens torturantes escoladas na Lava Jato.
    O Brasil não é um Pais seguro para nenhum Brasileiro , quando marcam pra morrer matam e ponto final. Restam o luto a dor da perda e a tragédia na vida de muitos pois quando se mata alguém mata-se também pais,filhos,irmãos, amigos e todos nós por nos sentimos presentes na lista de possiveis mortos devido a insanidade que toma conta do País onde viver é um perigo, onde a vida nada mais vale.

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