Whatsapp, o habitat perfeito da extrema-direita, por Jorge Alberto Benitz

As redes sociais da internet são uma clara demonstração de quanto o avanço tecnológico pode representar um disseminador do discurso antidemocrático

© Marcelo Camargo/Agência Brasil

por Jorge Alberto Benitz*

O que mais me surpreende e me decepciona nos avanços científicos e tecnológicos é, por exemplo, quando eles acontecem não em benefício da humanidade e do avanço civilizatório e democrático, mas, por exemplo, graças a ganância e psicopatia dos donos das plataformas Big Tech, em favor dos burros e ignorantes.

As redes sociais da internet são uma clara demonstração de quanto o avanço tecnológico pode representar um disseminador do discurso antidemocrático, a favor da barbárie. Nela o imbecil descobriu o habitat perfeito que é a bolha. Destaque para a bolha no whatsapp que é perfeita para o imbecil e ignorante falar só com os seus iguais. Quem discorda um milímetro do pensamento dominante no grupo é “saído” seja de modo civilizado, mas principalmente de modo truculento, se for um grupo majoritária ou totalmente bolsonarista. Não por acaso, ele é o preferido da extrema direita. Dizem que o Tik Tok é mais imbecilizante, só que no sentido da superficialidade informativa. Como não o conheço me eximo de fazer qualquer juízo de valor mais aprofundado.

Os imbecis transitam também nos outros aplicativos. No entanto, nestes eles procuram seus iguais para não só serem bem acolhidos como para não serem ridicularizados dado o baixo nível de seus comentários. Na bolha do whatsapp ele se esbalda. Ali ele é feliz que nem pinto no lixo. Toda a sua carga de preconceitos de classe social, raça, gênero, enfim,  contra o diferente e contra o que ele considera inimigo, pode ser exposta. Mais, será aplaudido, digo, curtido.

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As bolhas não são exclusividade da direita ou extrema direita. Quem é progressista e democrático ou de esquerda, também, cria suas bolhas. No meu caso, se é que sou exemplo de algo, cortei no facebook muitos direitistas truculentos por ver que de onde menos se espera, dali mesmo é que não sai nada, como diz o aforisma do Barão de Itararé, ou que de determinada pessoa só esperava desaforo e truculência. De outra parte, tenho amigos de direita que continuam integrando minhas amizades nas redes sociais. São pessoas que respeito e se pautam pela defesa de suas convicções de modo racional e civilizado. Não sei se outros usuários das redes sociais usam este critério. Somente se i que isso tornou mais saudável e agradável meu uso destes aplicativos.

O whatsapp aprimorou o sentido de bolha. Nele só pode participar o sujeito que pensa igual os seus participantes. Sei que nos outros aplicativos pode- se criar uma bolha de iguais. No whatsapp esta possibilidade, no entanto,  chegou a perfeição. Por exemplo, quem é um pouquinho racional não vai querer frequentar um grupo onde acreditam em terra plana, em contato com ETs para ajuda- los em um golpe militar ou mesmo aturar um bolsonarista mesmo que use uma linguagem moderada. Acredite! Tem muito bolsonarista enrustido. Hoje mais enrustido ainda, por razões óbvias.

Em reportagem no Fantástico de 06.02.23 fica demonstrado a falta de comprometimento das plataformas Big Tech (Apps como You Tube, Facebook, Google, dona também do You Tube) com valores democráticos e civilizatórios. Como diz a reportagem contida no link acima citado “Assim, desde agosto de 2022 — antes das eleições — até o fim de janeiro de 2023— ou seja, muito depois das invasões em Brasília —, os pesquisadores da UFRJ e da Global Witness foram fazendo testes. Eles criaram anúncios pagos contra a democracia, pondo em dúvida a integridade das urnas eletrônicas e pregando a violência política. E iam submetendo esses anúncios ao Facebook e ao Youtube, que é de outro grupo, dono do Google.

Os pesquisadores já tinham detectado o alto tráfego de anúncios atacando a democracia nas redes sociais.

Isso vai contra os princípios que as plataformas dizem seguir e desrespeita a lei eleitoral brasileira, que proíbe compartilhar informações falsas sobre o processo das eleições.

*Jorge Alberto Benitz é engenheiro e escritor.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

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