Operação na Cisjordânia mata mais 10 palestinos e violência escala

Renato Santana
Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.
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Milhares de palestinos fugiram de suas casas em uma nova onda de refugiados na Cisjordânia. Violência escala e atinge Tel Aviv

Mulheres retornam aos escombros de suas casas no campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia ocupada, após a retirada das forças israelenses em abril de 2002. Foto: Kael Alford KRT/Newscom

A maior operação militar israelense na Cisjordânia ocupada em vários anos continua nesta terça-feira (4) em Jenin, depois de uma incursão que matou 10 palestinos nesta segunda-feira (3). Em 19 de junho, outro ataque já havia matado cinco palestinos e ferido mais de 90.

Milhares de palestinos fugiram de suas casas em uma nova onda de refugiados na Cisjordânia. Além disso, dez palestinos morreram e 100 ficaram feridos, 20 deles em estado grave, de acordo com o Ministério da Saúde palestino.

De acordo com a France Press, as Forças Armadas de Israel afirmam que a ação mirou a infraestrutura “terrorista” mantida. “Nossos civis estão sendo alvos do terrorismo”, disseram em um tuíte após os ataques em Tel Aviv.

Ocorre que não há notícias de civis israelenses atacados por palestinos. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que os objetivos da operação militar estão quase alcançados e não haverá recuo das tropas. 

As Nações Unidas e países mundo afora, incluindo o Brasil, condenaram os ataques, pediram o fim das incursões e incitaram o governo de Israel a suspender o programa de expansão de assentamentos na Cisjordânia ocupada considerando-o uma grave violação ao direito internacional.

Nada parece demover Netanyahu de sua decisão. O exército de Israel anunciou também que atacou um “centro de operações conjuntas” que serviriam como ponto de comando da “Brigada Jenin”, um grupo militante local.

Guerra contra palestinos

Netanyahu lidera o governo considerado como o mais conservador da história de Israel e lançou sobre os palestinos veículos blindados, escavadeiras militares e drones.

O ministério palestino das Relações Exteriores denunciou uma “guerra aberta contra a população de Jenin”. As ruas desertas da localidade estão repletas de escombros, pedras e barricadas improvisadas.

Nesta segunda, pela noite, quase 3 mil moradores do campo de refugiados fugiram. Lá vivem 18 mil palestinos, informou o vice-governador de Jenin, Kamal Abu al Rub.

No campo diplomático, a Liga Árabe se reúne nesta terça-feira. Jordânia e Emirados Árabes Unidos, países que mantêm relações diplomáticas com Israel, criticaram a operação. 

O governo dos Estados Unidos afirmou que apoia “a segurança de Israel e seu direito a defender sua população”. 

Desde o início do ano, a violência relacionada na Cisjordânia ocupada e Faixa de Gaza provocou as mortes de pelo menos 187 palestinos, 25 israelenses, uma ucraniana e um italiano, de acordo com balanço da France Press.

Escalada da violência

As consequências da operação de forças militares de Israel em Jenin, visando garantir a expansão de Netanyahu na Cisjordânia ocupada, segue escalando e provocando mais violência e morte.

Um motorista atropelou diversas pessoas em Tel Aviv, uma das principais cidades de Israel, na manhã desta terça-feira (4). Pelo menos 7 pessoas estão feridas, relatam agências de notícias estrangeiras. 

O autor do ataque foi morto no local por um civil armado. Segundo o chefe da polícia de Tel Aviv, o agressor é um palestino da Cisjordânia ocupada e agiu sozinho.

Direitos Humanos 

O chefe de direitos humanos da ONU, Volker Türk, já havia se pronunciado no dia 23 de junho afirmando que a região é atingida por uma escalada no uso de armamento militar israelense correndo o risco de “sair do controle”. 

“A violência desta semana na Cisjordânia ocupada corre o risco de ficar fora de controle, alimentada por uma retórica política estridente e uma escalada no uso de armamento militar avançado por Israel”, disse um comunicado de Türk.

As estimativas da ONU indicam que cerca de 700 mil colonos vivem em 164 assentamentos e 116 postos avançados na Cisjordânia ocupada. Os mais recentes planos do governo de Israel envolvem a expansão dos assentamentos com a construção de mais de 5 mil vilas de casas.

Suspensão de Israel 

O presidente palestino, Mahmud Abbas, exigiu, no dia 15 de maio deste ano, à ONU, que Israel seja “suspenso” da organização internacional pela “agressão” e a “ocupação” dos territórios palestinos no 75º aniversário do êxodo de seu povo, em 1948.

“Exigimos hoje, oficialmente, conforme o direito internacional e as resoluções (da ONU), que garantam que Israel respeite estas resoluções ou que sua adesão na ONU seja suspensa”, disse o presidente palestino.

O representante de Israel, Gilad Erdan, pediu a colegas de outros países-membros que não participassem da reunião, que chamou de “repugnante”.  

A secretária-geral adjunta de Assuntos Políticos e Consolidação da Paz da ONU, Rosemary DiCarlo, reafirmou, na ocasião, a “posição clara das Nações Unidas: a ocupação deve acabar” porque é “ilegal segundo o direito internacional”.

Protestos em Tel Aviv

Milhares de manifestantes israelenses tomaram nesta segunda-feira (3) o Aeroporto Internacional David Ben Gurion, a 15 quilômetros de Tel Aviv, para protestar contra a reforma judicial do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Os participantes exigiam democracia e qualificaram o governo como criminoso.  A manifestação ocorre em meio a ataques ordenados por Netanyahu contra a Cisjordânia ocupada.  

Também nesta segunda, manifestantes se reuniram em Tel Aviv, onde desde janeiro passado protestos acontecem todos os sábados contra a reforma judicial.

A polícia mostrou “tolerância zero” para os protestos.

A reforma judiciária proposta pelo governo israelense retira poderes da Suprema Corte para examinar e anular qualquer decisão governamental baseada em critérios de razoabilidade, o que diminui a independência do Judiciário.

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