TVGGN 20H: “Está ruim com a ONU, pior sem a ONU”

Brasil se destaca no cenário global, mas não encontra vontade política de potências por mais pluralidade nas decisões da organização.

Lula faz o discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Foto: ONU

Desde o início da guerra entre Israel e Hamas, mais de 10 mil pessoas foram mortas, sendo 9.488 palestinos e 1,4 mil israelenses, tragédia descrita por muitos especialistas sobre Oriente Médio como genocídio e limpeza étnica. 

No Conselho de Segurança das Organização das Nações Unidas (ONU), a grande maioria dos países já se posicionaram a favor do cessar-fogo. Mas o veto dos Estados Unidos, membro permanente, à proposta do Brasil apresentada em 18 de outubro, demonstrou a fragilidade da organização para encontrar uma resolução, de fato, para o conflito. 

Para comentar o massacre cometido em Gaza e a crise vivida pela ONU, o jornalista Luís Nassif recebeu, na última sexta-feira (3), o diplomata Marcos Azambuja e a professora Cilene Victor. 

Cilene é uma das pesquisadoras responsáveis por um estudo sobre a reforma do multilateralismo, inclusive na ONU, levantamento que envolveu 48 países do Oriente Médio, África e América Latina. 

Crise longínqua

Uma das constatações da pesquisa de Cilene é que a crise de representatividade da organização não é recente, tendo em vista que a instituição não foi capaz de dar respostas a outras crises humanitárias, como a tomada de controle pelo Talibã  do Afeganistão, após a saída dos Estados Unidos do país. A guerra entre Rússia e Ucrânia, que já tem quase dois anos, também continua sem solução. 

Os pesquisadores ouviram 48 pessoas do Oriente Médio, América Latina e Caribe e do continente africano. E uma das constatações foi a importância da ONU na governança global, ao mesmo tempo em que relatam a falta de estrutura da organização em impedir o massacre de Israel contra os civis palestinos. 

“O sul global precisa ser ouvido. Então, aquela fala do Lula, quando ele esteve no G7, no Japão, e diz que a ONU precisa ser reformada, que a reforma da ONU é imperativa, começando pelo conselho de segurança, posso dizer que a imprensa brasileira desdenhou a fala do Lula. Ela ignorou a importância da fala do Lula. Se essa fala tivesse no chanceler alemão ou no presidente francês, ou nos próprios EUA, que dificilmente teriam esta fala, talvez tivesse um destaque”, aponta a pesquisadora, que critica a cobertura da mídia brasileira sobre o Brasil no cenário internacional. 

Trauma

Os entrevistados afirmaram ainda que será necessário um grande trauma internacional para que a ordem global seja revista. Sem ela, a ascensão de outras nações nas discussões mundiais será difícil, já que os atuais detentores do poder, como o veto no Conselho de Segurança da ONU, se manterão inertes. 

“Os acontecimentos no Oriente Médio poderiam ter sido observados há muito mais tempo para já pensar na governança da reforma global, porque não é só reforma da ONU propriamente dita. Talvez, com esse alargamento dos BRICs, agora sim falando sobre a entrada de outros países, talvez tenhamos uma mudança neste sentido, mas não na reforma do multilateralismo, mas na chegada do fortalecimento dos países em blocos. alguns especialistas em relações internacionais já tem feito este apontamento”, continua Cilene. 

Uma instituição capenga

Marcos Azambuja se mostrou cético em relação às possibilidades de mudança na ONU diante das atuais circunstâncias. “As tentativas de reforma são todas bem intencionadas, todas generosas, mas não encontrei até agora, em nenhum momento, em que houvesse condições políticas para que isso acontecesse.” 

Apesar da evidente crise da instituição, o diplomata se vale do ditado popular “mal com ela, pior sem ela”, tendo em vista que a ONU é hoje uma instituição “imperfeita e capenga”. “Não vejo ninguém abrindo mão do poder que tem, não vejo novos sócios sendo bem-vindos”, continua o Azambuja. 

Portas fechadas e resistência

Além da própria resistência dos países já membros permanentes da ONU, o diplomata aponta ainda que é comum que novas lideranças enfrentem resistências locais contrárias à ascensão no grupo. 

“Em toda candidatura regional, há um anticandidato que impede que o candidato natural prospere. Em outras palavras, México e Argentina não querem que o Brasil seja um membro permanente. Itália e Suécia não querem que a Alemanha seja um membro permanente. Indonésia e Tailândia não querem que a Índia seja permanente. O bloqueio é permanente e inevitável”, pontua o entrevistado.

O diplomata ressaltou ainda a falta de vontade política em promover a governabilidade mundial a partir da participação de outros países, inclusive em relação ao Brasil, que se destaca cada vez mais no panorama global.  

“O Brasil está mudando de patamar. Pouco a pouco, o Brasil vai fazendo parte natural do diretório central do poder mundial, pela sua presença , pelo poder econômico, pela influência, pela capacidade de mobilizar causas e aliados. a esperança sempre foi que houvesse uma vontade política, do alto, dos eua sobretudo, mas tb dos membros permanente para criar novas circunstâncias, o que não existe. Hoje somos muito mais fortes, mas as portas continuam quase fechadas”, concluiu Azambuja.

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6 Comentários

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  1. Sou brasileiro mas nosso país tem orçamento de Defesa ridículo para querer ter posição no CS.

    Mas a ONU virou a Liga das Nações pré Segunda Guerra.

  2. Sim, a ONU e suas subdivisões, embora como tudo, sujeitas a aperfeiçoamentos, são o que te(ría)mos de melhor para uma visão internacional mais equilibrada, justa e evoluída do mundo. Exatamente por isso, aqueles que querem manter seus privilégios a avacalham e sabotam propositadamente. Simples assim…

  3. Com sinceridade Nassif, o embaixador de Israel fez campanha velada na última eleição, criou até frente contra o atual governo, não houve uma resposta diplomática e nem nada, esse idiota de Israel continua aí, sabotando a nossa democracia, se não for verdade que a comunicação do governo explique.

  4. Falei só dessa questão Palestina, porque contribuição tão cara para a ONU, que não vale nada para os EUA e Europa, nem falo da Rússia, pediu, pediu por aquelas regiões e nada, ainda sofreu sansões por defender um povo oprimido, e o ocidente ainda os puniu com desprezo e desinformação, afinal, a ONU serve para quê?

  5. Netanyahu afirmou que não haverá cessar-fogo enquanto o Hamas não devolver os Reféns Israelenses. E se o Hamas condicionar a libertação dos Reféns ao prévio cessar-fogo? Se o tivesse alg ente querido do Netanyahu entre os Reféns, ele agiria diferentemente?

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