Como a Jovem Pan serviu de instrumento para militares golpistas, segundo investigação da PF

Evidências em posse da Polícia Federal mostram papel de "blogueiro" da JP em núcleo da "organização criminosa" que planejou o golpe

A Polícia Federal reuniu indícios de que a emissora Jovem Pan serviu, ainda que involuntariamente, de instrumento para pressionar militares resistentes ao golpe arquitetado pela cúpula do governo de Jair Bolsonaro ao longo de 2022.

No centro das investigações está o blogueiro Paulo Renato de Oliveira Figueiredo, ex-comentarista da Jovem Pan, economista e neto do ex-presidente João Figueiredo, o último da ditadura militar.

Em 2022, na bancada do programa “Os pingo nos is”, Paulo Renato divulgou o nome de três militares do Alto Comando que supostamente resistiam à pressão do governo Bolsonaro para aderir ao plano de golpe que visava impedir a posse de Lula e manter o extremista de direita no poder.

Segundo informações da Polícia Federal, Paulo Renato – que foi demitido da Jovem Pan em 2023, quando já era investigado – atuou na “propagação de desinformação golpista e antidemocrática“, sendo parte de um dos seis núcleos que formam o gabinete de golpe investigado sob a batuta do Supremo Tribunal Federal. A emissora não é investigada.

A PF apurou que o ex-comentarista da Jovem Pan integrava o mesmo núcleo criminoso em que estavam Walter Souza Braga Netto, Ailton Gonçalves Moraes Barros, Bernardo Romão Correa Neto e Mauro Cid. O grupo determinava “ataques pessoais direcionados a militares em posição de comando, que resistiam às investidas golpistas”, descreveu a PF, segundo despacho do ministro Alexandre de Moraes, a que o GGN teve acesso.

Na fase ostensiva da Operação Tempus Veritatis – que atingiu militares e aliados de Bolsonaro – Paulo Renato foi declarado proibido de se comunicar com os demais investigados.

A reunião preparatória

Ao analisar mensagens apreendidas no celular do ex-ajudantes de ordens de Jair Bolsonaro e agora delator, Mauro Cid, a PF descobriu indícios de que militares inclinados ao golpe contra a democracia usaram a Jovem Pan, através do blogueiro Paulo Renato, para pressionar membros do Alto Comando que resistiam ao plano.

Conversa entre os militares Mauro Cid e Correa Neto mostra que os golpistas sabiam com antecedência da exposição na Jovem Pan dos comandantes que resistiam ao plano golpista. Imagem: Reprodução/Polícia Federal

O relatório da PF narra uma reunião organizada pelo coronel do Exército Bernardo Romão Correia Neto, à época assistente do comandante militar do Sul, apontado como um dos resistentes. Da reunião, Correia Neto extraiu uma carta endereçada aos comandantes militares, cobrando adesão ao golpe.

A carta, segundo a Polícia Federal, foi parar nas mãos do então comentarista da Jovem Pan, Paulo Renato. Além disso, ele usou uma edição de “Os pingos nos is” para divulgar o nome dos generais que viriam a sofrer pressão interna e ataques organizados nas redes sociais por bolsonaristas.

Os nomes divulgados

Na bancada da Jovem Pan, em novembro de 2022, Paulo Renato teceu comentários a respeito dos membros do Alto Comando que resistiam ao golpe, e decidiu divulgar seus nomes ao público. Na ocasião, ele falava a partir dos Estados Unidos, segundo anunciou o âncora do programa.

“São 14 generais de Exército que participam do Alto Comando. Eu apurei que há três dele que têm se colocado de forma aberta na articulação contra uma ação mais direta das Forças Armadas. Nem sempre nós jornalistas podemos falar tudo que nossas fontes contam. Mas hoje, por um dever cívico, eu vou ter que dar nome aos bois. Vou fazer isso porque acho que o povo brasileiro tem direito de saber quem é quem. Os três que estão agindo abertamente são o comandante militar do Nordeste, o general Richard Fernandes Nunes, o comandante militar do Sudeste, general Tomaz Miguel Ribeiro Paiva, e o comandante militar do Sul, general Valério Stumpf Trindade, divulgou Paulo Renato.

General Richard foi definido pelo então comentarista da Jovem Pan como dono de “posições ideológicas muito à esquerda para o padrão do Exército brasileiro”. Já o general Ribeiro Paiva, que foi ajudante de ordens do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso por 6 anos, foi descrito como “o que mais entende de política e articulação”. O general Stumpf foi dado como “amigo de infância” de José Levi Mello do Amaral Junior, “muito bem relacionado com o STF”.

Levi Mello atuava como secretário-geral do então presidente do STF, ministro Alexandre de Moraes. “O STF tem um brother dentro do Exército. Será que é por isso que Alexandre toma suas decisões com tanta tranquilidade, sabendo que não haverá reação?”, indagou o blogueiro no programa dedicado a pressionar os militares a chegarem a um consenso sobre o golpe.

O núcleo da desinformação e ataques

Na visão da Polícia Federal, “os elementos colhidos apontam que os ataques [aos militares que resistiram ao golpe] eram realizados a partir da difusão em múltiplos canais e por meio de influenciadores em posição de destaque perante a audiência militar”, como Paulo Renato.

Esse núcleo lançou mão da “tática de investir contra militares não alinhados às iniciativas de golpe, também por meio de disseminação de notícias falsas, tudo com o objetivo de incitar os integrantes do meio militar a se voltarem contra os comandantes que se posicionam contra o intento criminoso“, apontam os investigadores.

Confira, abaixo, o despacho do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que reúne elementos da investigação da Polícia Federal sobre o gabinete golpista.

PET-12100-DECISAO-ASSINADA

Leia também:

Redação

4 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Chamar ditador de “ex-presidente” eh mau jornalismo, etica e ideologicamente duvidoso e equipara o GGn a Folha de Sao Paulo, Veja, Estadão, O Globo e outros orgaos de comunicação financiados pela ditadura. O ditador Joao Figueiredo jamais, em absolutamente nenhum momento da história humana, exerceu o cargo de “presidente” seja do Brasil ou de qualquer outro ente politico conhecido.

  2. Então a jovem pan, “involuntariamente” colaborou com os militares. Que coisa, hein? Parece até que estão passando pano para a emissora: um tremendo pano de chão.

  3. Não foi só isso Nassif, com o devido zelo, pois não tenho as ferramentas do jornalismo investigativo e nem institucional, foram apenas observações comportamentais do mercado publicitário das tvs de assinatura, e na época fiz diversos questionamentos, pode ser nada, ou pode ser alguma coisa. ULTRAFARMA, fonte das gravações publicitárias REDETV, chamadas TVs de assinatura, foram massivas, fora do comum de êxito negocial, toda propaganda focada no 8/01, a propaganda dizia sobre o dia do remédio e etc. o dono com aqueles trajes e cheio de referência religiosa, me chamou a atenção. Fizeram em meses depois em menor escala, depois sumiu, então o dia 8 de cada mês não é bom para vender remédios. mas o 8/01 eram algum tipo de informação.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador