Enquanto bolsonaristas se sentem representados por Musk, bilionário mira mundo pós-Estado

À TVGGN, Leandro Demori ressalta que bilionário se interessa apenas em novos negócios, especialmente minérios para a fabricação de baterias

Crédito: Reprodução/ Redes sociais

Ao atacar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Alexandre de Moraes nas redes sociais no último final de semana, o bilionário Elon Musk fez um afago na extrema-direita brasileira, inflamando os bolsonaristas que voltaram a ter voz no X. 

Mas engana-se quem pensa que o empresário está preocupado com Jair Bolsonaro (PL) e seus seguidores, assim como os reais interesses giram em torno da preservação da liberdade de expressão, como Musk afirmou nas redes sociais nos últimos dias. 

As intenções do bilionário sul-africano giram em torno de dois objetivos de longo prazo: a exploração de minérios necessários para a produção de baterias e componentes de seus carros elétricos fabricados pela Tesla e o mundo pós-Estado, em que as grandes corporações dominariam as cadeiras estratégicas de produção em escala global.

A conclusão é do jornalista Leandro Demori, convidado do programa TVGGN 20H desta segunda-feira (8). “Tem muita coisa misturada nisso, mas a gente tem de ter na cabeça que todas elas levam a um único caminho. O Elon Musk, pelos seus meios, está até manipulando muito o discurso e manipulando boa parte da extrema-direita brasileira, não claro essas pessoas que estão no alto da pirâmide da extrema-direita brasileira que sabem muito bem o que estão fazendo. Estão fazendo isso por cargo, por poder, para fugir da cadeia, por dinheiro.”

Segundo o jornalista, os ataques ao ministro do STF demonstram apenas interesse financeiro e econômico de Musk na região. Não há ideologia por trás da estratégia das publicações nas redes sociais. Há, porém, negócios concatenados em todo o mundo.

Hipocrisia

Musk pode até usar a defesa da liberdade de expressão como justificativa para os ataques ao STF no Brasil. Mas na China, onde está instalada a principal fábrica da Tesla, o Twitter é proibido. E o bilionário nunca disse uma palavra sobre a censura imposta à rede social.

Em contrapartida, enquanto Bolsonaro era o chefe de Estado brasileiro, Musk participou de diversas reuniões e quase conseguiu concessões para monitorar, a partir de seus satélites, o desmatamento da Amazônia. “Quase fechou negócios para ter acesso sobre os dados do desmatamento da Amazônia. Obviamente o Elon Musk ia usar aquilo para mapear os minérios mais interessantes e as terras raras”, continua Demori.

Diante das facilidades oferecidas por líderes da extrema-direita, o bilionário está obviamente de olho nas eleições na América Latina e Estados Unidos nos próximos anos, a fim de influenciar os resultados para que os vencedores favoreçam os negócios da Tesla, SpaceX, entre outros empreendimentos do sul-africano.

Tanto é que a plataforma X acumula prejuízos, mas é vista por Musk como uma ferramenta de um jogo de longo prazo, já que a rede social acumula prejuízos de operação ano após ano e perdeu mais da metade do valor de mercado desde a venda para o bilionário. 

Mas ao afrontar Alexandre de Moraes, o empresário conseguiu manter os bolsonaristas inflamados, com o objetivo de mantê-los engajados até as eleições majoritárias.

“Musk já entendeu que para a esquerda, direita e centro, as democracias liberais já não funcionam mais. Estão disfuncionais por motivos variados, como falta de emprego e achatamento de salários”, comentou o jornalista. “Elon Musk está olhando para o pós-Estado. Não está nem na fase de atalhar os caminhos do poder pela política”, emenda.

Assim como outros grandes empresários, Elon Musk aposta que a era pós-Estado terá corporações supranacionais no comando de cadeias de suprimentos, mineração e distribuição. Até porque há empresas que apresentam o faturamento superior ao produto interno bruto (PIB) de vários países. É o caso do Facebook, cujos ganhos superaram o PIB de Portugal.

“Elon Musk forneceu o que é necessário para a extrema direita e forneceu o que é necessário para ele enquanto homem de negócios”, conclui Leandro Demori.

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Camila Bezerra

Jornalista

6 Comentários

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  1. Eu compreendo a observação do Demori, mas dicordo.
    O Estado é e continuará sendo o papai-noel dos banqueiros e empresários neoliberais. Ele salvou os bancos que afundaram a economia mundial em 2008. O Estado norte-americano deu toneladas de dinheiro às Big Techs durante a pandemia.
    O capitalismo neoliberal só existe porque o Estado pós-moderno transforma prejuízos em lucros garantindo a sobrevivência de bancos e empresas consideradas grandes demais para falir.
    Ademais, o que sustenta o desenvolvimento tecnológico norte-americano não é o dinheiro privado e sim os recursos públicos do DARPA.
    Os empresários e banqueiros certamente querem fazer os tolos acreditar que eles odeiam o Estado. No fundo, eles amam o Estado. Mas para que esse amor possa se consumar (e para que os ogros neolinerais possam cosumir mais e mais dinheiro público) é necessário a população em geral acreditar que o Estado é malvadão e merece ser objeto de desprezo e ódio. Nesse sentido, me parece que o Demori embarcou numa típica “bad trip” ideológica neolineral.

    1. *Há uma trama golpista por trás deste embate entre Elon Musk e Alexandre de Moraes que passa pela sala de Jorge Paulo Lemann*.
      *A ligação é quase indisfarçável e tem a ver com Starlink, Fundação Lemann e golpe de Estado.
      Dono da rede X afirmou que o ministro do STF ‘deveria ser julgado por seus crimes’ e, sem provas, disse que ele ‘colocou o dedo na balança’ para eleger para eleger Lula.

  2. O tecnofeudalismo arreganha os dentes. As Big Techs reivindicam soberania sobre o ciberespaço e proclamam independência em relação a governos democráticos, tolerantes demais com os intolerantes que lhe ameaçam. Hora de reforçar o serviço secreto e convidar bilionários abusados a tomar um chazinho com o capeta.

  3. Elon Musk e Jorge Paulo Lemann são figuras centrais em trama golpista. Lemann é useiro e vezeiro em jogadas já comprovadas como as da Eletrobrás, Americanas e Kraft Heinz.
    Musk financiou golpe de Estado na Bolívia que derrubou Evo Morales.
    E agora Musk acusa Alexandre de Moraes de ter favorecido Lula na eleição de 2022.

  4. Repito um comentário que fiz aqui, no ano passado, ctrl+c, ctrl+v:

    “Eis aí o Binômio Bancos/Corporações, ou o que podemos ver (e/ou supor) de sua existência e funcionamento. Eis aí a verdadeira governança do mundo, da qual mídia e políticos e burocratas dos três poderes (executivo, legislativo e judiciário) são meros moleques de recados. Paddy Chayefsky escreveu o roteiro de “Rede de Intrigas”, lançado em 1976. Traduzo aqui no GGN, pela enésima vez, a fala do Sr. Jensen – que se gaba de ser capaz de vender qualquer coisa – ao atônito Sr. Beale, locutor de telejornal:

    Sr. Jensen: “Você interferiu com as forças primais da natureza, sr. Beale, e isso eu não vou tolerar!! Fui claro?! Você pensa apenas que interrompeu uma negociação. Não é o caso. Os árabes tiraram bilhões de dólares desse país, e agora tem que devolvê-los! É o fluxo da maré, maré gravitacional! É equilíbrio ecológico!
    Você é um homem das antigas, que pensa em termos de nações e povos. Não há nações. Não há povos. Não há russos. Não há árabes. Não há terceiros mundos. Não há ocidente. Há apenas um sistema holístico de sistemas, um vasto e imenso, entrelaçado, interativo, multifacetado, multinacional domínio de dólares. Petrodólares, eletrodólares, multidólares, marcos, letras, rublos, libras, e shekels.
    É o sistema monetário internacional que determina a quantidade de vida neste planeta. Essa é a ordem natural das coisas, hoje. Essa é a estrutura atômica, subatômica e galática das coisas, hoje. E você interferiu com as forças primais da natureza, e vai pagar por isso!
    Estou me fazendo entender, sr. Beale?
    Você se ergueu em sua pequena tela de 21 polegadas e gritou sobre a América e a democracia. Não há nenhuma América. Não há nenhuma democracia. Há a IBM e a ITT e a AT&T, e DuPont, Dow, Union Carbide, e Exxon. Essas são as nações do mundo, hoje.
    Do que você acha que os russos falam, em seus conselhos de Estado – Karl Marx? Eles consultam seus gráficos de programação de linha de produção, teorias e estatísticas de decisão, planejamento, e computam as probabilidades e o custo-benefício de suas transações e investimentos, assim como nós. Não vivemos mais em um mundo de nações e ideologias, sr. Beale. O mundo é um colegiado de corporações, inexoravelmente determinado pelos estatutos imutáveis dos negócios. O mundo é um negócio, sr. Beale. Tem sido assim desde que o homem engatinhou para fora do limo. E nossos filhos viverão, sr. Beale, para ver esse mundo perfeito em que não haverá guerra ou fome, opressão ou violência – apenas uma imensa e ecumênica companhia corporativa, para quem todos os homens trabalharão em prol de um ganho comum, em que todos terão sua cota de ações, todas suas necessidades satisfeitas, todas suas ansiedades pacificadas, e todo tédio dissipado. E eu estou escolhendo você, sr. Beale, para pregar esse evangelho.
    Sr. Beale: “Mas por que eu?”
    Sr. Jensen: “Por que você está na televisão, idiota. Sessenta milhões de pessoas o assistem toda noite, de segunda à sexta.”

    Isso em 1976. Basta substituir o nome de alguns países, o nome de algumas companhias, incluir as gigantes da tecnologia, e trocar a televisão pela internet e redes sociais, e percebemos que nada mudou, de lá para cá, a não ser a velocidade com que o controle social por parte do Binômio hoje avança, e a extensão que é capaz de alcançar.”

  5. Os “filhos de Ayn Rand” não conhecem limites. Eles querem implantar a ditadura do alto-empresariado – eles, quatro ou cinco gatos pingados – podres de ricos, com multidões de puxa-sacos – são os novos césares – governando, “sem a balbúrdia da democracia”, diretamente com seus algoritmos e rede sociais, sempre terceirizando a força bruta, e em alguns casos terceirizando governos a grupos de pistoleiros, enfemisticamente chamados militares. O processo cada vez mais se concentra. A gente sente isso na cada vez mais rápida obsolência de software livres; na concentração da informação mundial em quatro ou cinco grandes grupos, todos eles fusão, convergindo entre informação e finanças, principalmente. Adeus impressos. Adeus TV, rádio, telefone, cinema… agora é tudo streaming. Manipulado pela “matrix”. Não haverão mais Hitleres; salvo casos de Netanyahu pontuais. Por diversão. A Roma pós-Augusto será uma brincadeira pro que estamos começando a ver. Estamos no limiar da era dos Musk. Bolsonaro e “seus meninos”? Ah, coitados! Daqui pra frente é o misto de Orwell e Huxley.

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