Os asiáticos de Nova York

Por MiriamL

DO UOL

Nova-iorquinhos asiáticos ultrapassam um milhão e se unem

The New York Times

Kirk  Semple

Em Nova York (EUA)                                                                                                                                                            

Há não muito tempo, a frase “Chinatown de Nova York” significava uma coisa: um bairro na Baixa Manhattan perto da Canal Street. Atualmente pode se referir a até seis enclaves altamente chineses na cidade.

Koreatown era conhecida como uma zona comercial em Manhattan, mas agora partes de Queens, para onde se mudaram milhares de coreanos, parecem um subúrbio de Seul. A cidade gerou bairros com apelidos como Pequena Bangladesh, Pequeno Paquistão, Pequena Manila e Pequena Tóquio.
 
Os asiáticos, um grupo que costuma ser mais associado à Costa Leste, estão crescendo em Nova York, onde por muito tempo foram ofuscados pela mistura racial e étnica caleidoscópica da cidade. Pela primeira vez, segundo números do censo divulgados em abril, o número deles ultrapassou 1 milhão –quase um entre oito nova-iorquinos– um número que é maior do que a população asiática das cidades de San Francisco e Los Angeles somadas.
 
Esse marco, por sua vez, se tornou um chamado de convocação para os nova-iorquinos asiáticos, que trabalham há anos para obter mais representação política, assistência do governo e reconhecimento público. Muitos líderes adotaram o número de 1 milhão como nova motivação para os imigrantes e seus descendentes, provenientes de todo o continente asiático, pensarem em si mesmos como um só povo com uma só causa –da mesma forma que muitas pessoas das culturas de língua espanhola passaram a abraçar termos genéricos como latinos e hispânicos.
 
“Nós somos 13% da população desta cidade!” gritou ao microfone Steven Choi, um organizador comunitário de 35 anos e filho de imigrantes coreanos, em um microfone para uma multidão de ativistas asiáticos que se reuniram recentemente diante da Prefeitura, para protestar contra cortes nos serviços sociais. “Nós somos 1 milhão de pessoas e não vamos desaparecer!”
 
O censo mostra um aumento notável de 32% na população asiática de Nova York desde 2000, transformando-a no grupo racial que mais cresce na cidade. A população latina cresceu apenas 8% no mesmo período, enquanto as fileiras de brancos não-latinos diminuíram 3% e de negros diminuíram 5%.
 
Enquanto cresce o número de asiáticos, um grande número de grupos que operam independentemente, às vezes em conflito, começou a se reunir em coalizões pan-asiáticas nos últimos anos, particularmente à medida que as gerações mais jovens e os recém-chegados veem as vantagens da unificação.
 
Mas fazer com que isso aconteça não é fácil, porque a população que chama a si mesma de asiática é extremamente diversa. Os ásio-americanos em Nova York têm raízes em dezenas de países e falam mais de 40 línguas e dialetos. Certos grupos se saem melhores do que outros: a taxa de pobreza entre os filipinos, por exemplo, equivale a um sexto da dos bengaleses, segundo dados de 2009 do Levantamento Comunitário Americano.
 
Imigrantes mais velhos têm preconceitos persistentes contra outras nacionalidades, enraizados em rivalidades históricas entre seus países de origem. Algumas organizações, particularmente as chinesas bem estabelecidas que estiveram na vanguarda da luta pelos direitos dos imigrantes durante o último século, podem hesitar em compartilhar os ganhos duramente conseguidos. E grupos do Sul da Ásia às vezes se sentem excluídos ou ignorados por seus pares mais estabelecidos do Leste Asiático.
 
Um ponto em comum entre tantos grupos é “a tensão constante que nossa coalizão enfrenta”, disse Choi, líder da Coalizão 12% e Crescendo, um lobby formado em 2008 que une mais de 45 organizações lideradas por asiáticos ou que servem a população asiática.
 
“É importante como uma coalizão não deixarmos que uma narrativa predomine sobre outra.”
 
Um emaranhado de narrativas emerge dos mais recentes números demográficos do governo. Pessoas que disseram ser descendentes de chineses representam quase metade de todos os asiáticos em Nova York e se multiplicaram na maioria dos bairros da cidade, especialmente naqueles onde se estabeleceram em grande número décadas atrás, em partes de Queens e do Brooklyn.
 
Assim como o segundo maior grupo, o dos indianos, cuja presença cresceu significativamente, particularmente no extremo leste de Queens. Enquanto isso, outros grupos se tornaram cada vez mais concentrados em novos enclaves, como os coreanos em Queens; filipinos em Queens e os vietnamitas no Brooklyn e Bronx. Mas essa diversidade, dizem líderes ásio-americanos, dilui sua força.
 
“Apesar do aumento dos números, eles de alguma forma sentem que, politicamente e em outros aspectos, os asiáticos não são visíveis”, disse Madhulika S. Khandelwal, 54 anos, diretora do Centro Asiático/Americano do Queens College e uma imigrante indiana.
 
Os asiáticos em Nova York ainda permanecem sub-representados em cargos eletivos, dizem os líderes comunitários, com apenas um ásio-americano no Legislativo estadual, dois no Conselho Municipal e um em um cargo municipal, o superintendente fiscal John C. Liu. Defensores argumentam que dinheiro público e privado para suas organizações de serviços comunitários não se equipara ao tamanho e necessidade da população.
 
Choi, que também é diretor-executivo do Centro MinKwon para Ação Comunitária, um grupo de defesa em Queens, disse que apesar dos asiáticos representarem 13% da população da cidade, as organizações de serviços sociais que se concentram neles recebem apenas 1,4% das verbas alocadas pelos vereadores, e menos de um quarto de 1% do dinheiro para contratos de serviços sociais da cidade.
 
Alguns líderes comunitários disseram que um estereótipo de “minoria modelo” –a percepção equivocada de que os asiáticos são universalmente autossuficientes e com alto desempenho– cega as autoridades e outros para as necessidades daqueles que não são.
 
A renda per capita média dos asiáticos está bem abaixo da meta da cidade, e os lares asiáticos são em média mais lotados do que os de negros, latinos e brancos não-latinos, segundo o Levantamento Comunitário Americano. Os asiáticos também têm a taxa mais elevada de isolamento linguístico, uma classificação na qual ninguém com mais de 13 anos de idade em um lar fala inglês bem.
 
Os esforços para formação de coalizões mais amplas são alimentados em parte por líderes jovens com escolaridade alta e que estão mais dispostos, e são mais capazes, do que seus pais ou avós de se unirem a outros.
 
Margaret May Chin, professora associada de sociologia do Hunter College, disse que muitos desses novos líderes cresceram em comunidades pan-asiáticas nos Estados Unidos, nas quais as barreiras que mantinham seus antepassados separados – diferenças de língua, preconceitos étnicos ou simplesmente as exigências cotidianas de sobrevivência como novos imigrantes– podem ter desaparecido.
 
“As pessoas têm olhado além”, disse Chin, filha de imigrantes chineses. “Coreanos estão conversando com chineses; chineses estão conversando com bengaleses.”
 
Sheebani S. Patel, uma coordenadora de políticas da Coalizão para as Famílias e Crianças Ásio-Americanas, um grupo de defesa da Baixa Manhattan, disse que ela viu essa mudança ocorrer dentro de sua própria família. Seus pais eram imigrantes da Índia; Patel, 27 anos, nasceu e foi criada no Texas.
 
“Grande parte daquela geração estava imersa em sua própria comunidade e trabalhava em sua comunidade”, ela disse, “enquanto a segunda geração conseguia ver as semelhanças que nos uniam”.
 
Os líderes ásio-americanos dizem que já veem o impacto de seu trabalho de formação de coalizões sobre as autoridades eleitas. “Nós brincamos que algumas pessoas conhecem a Coalizão 12% e Crescendo melhor do que conhecem nossas organizações individuais, devido ao poder coletivo”, disse Patel, apontando para a Prefeitura.
 
“Nós estamos aqui”, acrescentou Choi, “e nossos números são maiores do que todo mundo pensa”.

Luis Nassif

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