TVGGN 20 Horas: Nos bastidores da República, clima é de “apaziguamento” com militares golpistas, diz Duailibi

Para a jornalista, há "empenho" em punir financiadores e mentores políticos do 8/1, mas não os militares. Assista

A jornalista Julia Duailibi, da GloboNews, em entrevista ao canal TVGGN para comentar o novo documentário "8/1 - A democracia resiste", que conta os bastidores da reação do poder civil ao atentado bolsonarista à democracia
A jornalista Julia Duailibi, da GloboNews, em entrevista ao canal TVGGN para comentar o novo documentário “8/1 – A democracia resiste”, que conta os bastidores da reação do poder civil ao atentado bolsonarista à democracia

✅📲 Receba as novidades do Jornal GGN e do canal TVGGN no WhatsApp ou Telegram.

A jornalista Julia Duailibi, apresentadora da GloboNews, disse em entrevista exclusiva ao jornalista Luis Nassif, do GGN, que não acredita que haverá punição para militares envolvidos no atentado à democracia que ocorreu no dia 8 de janeiro de 2023.

Segundo Julia, as instituições estão inclinadas ao “apaziguamento” com as Forças Armadas. Por outro lado, na visão da jornalista, há um “empenho” em encontrar os financiadores e mentores por trás da tentativa de golpe de Estado.

“A minha impressão – e eu posso estar errada – mas as conversas que tive e tenho até hoje me mostram que há uma tentativa e apaziguamento. O que eu sinto é que está todo mundo meio ‘não vamos mexer nisso, não’, [é o que dizem] em off. ‘Vamos esperar um pouco, foi muito estresse. As instituições passaram por momento muito crítico, vamos esperar’. Agora, sinto que há um empenho muito grande na questão dos financiadores e mentores. Se vai andar a investigação para além dos executores que já estão presos, acho que vai ser na direção dos financiadores e mentores.”

Julia concedeu entrevista exclusiva ao programa TVGGN 20 Horas, do canal TVGGN [assista abaixo] na noite de segunda (8), para comentar a estreia na GloboNews do documentário “8/1 – A democracia resiste”.

A produção, que tem Julia Duailibi e Rafael Norton na direção, conta os bastidores da reação do poder civil na tarde do domingo, 8 de janeiro de 2023, quando uma horda bolsonarista invadiu os prédios dos Três Poderes, em Brasília, pedindo intervenção militar contra a posse de Lula, e deixando um rastro de destruição sem precedentes.

Para compor o documentário, Julia teve acesso a mais de 500 horas de gravação de imagens de câmeras de segurança, que foram casadas com entrevistas exclusivas. O documentário “8/1 – A democracia resiste” será exibido na próxima quarta-feira (10), na Rede Globo (canal aberto), após o programa Big Brother Brasil – BBB24.

Bastidores da crise

Uma das histórias resgatadas no documentário de Duailibi foi o papel de protagonista do secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, que mesmo sendo um civil assumiu o comando da tropa que guardava a segurança da sede do MJ, de onde trabalhavam os ministros Flávio Dino, Gonçalves Dias (exonerado meses após o atentado) e José Múcio, em meio à crise. O documentário também mostra como e por que Capelli foi nomeado interventor federal na segurança do Distrito Federal naquela mesma noite.

A produção mostra ainda a curiosa história de dois funcionários da equipe de segurança do governo Lula, que tomaram as medidas necessárias para impedir que o gabinete presidencial fosse invadido pelos bolsonaristas. No documentário, um deles explica que seu objetivo era impedir que um golpista sentasse na cadeira hoje ocupada por Lula, pois seria uma imagem chocante para a opinião pública. Por isso, tiveram essa preocupação de resguardar o gabinete a qualquer custo.

Ganhando tempo

Na análise de Julia Duailibi, o golpe não teve êxito por uma série de fatores combinados, desde o papel dúbio de Jair Bolsonaro – que deixou o País em 31 de dezembro de 2022, antes da posse de Lula – como também pela falta de consenso entre as Forças Armadas sobre a ruptura democrática.

Há militares que reconhecem que se o golpe fosse bem sucedido, o Brasil ficaria isolado no cenário internacional, havia essa reflexão. [Entre os militares] Há conservadores que são legalistas. Houve falta de organização e comando do Bolsonaro, que foi embora. Tudo isso levou a, de fato, não ter um apoio majoritário para que virassem o jogo, pontuou Dualibi. 

Ainda sobre os militares, Julia comentou na entrevista ao canal TVGGN sobre a resistência que o comando militar impôs à entrada da polícia no acampamento dos bolsonaristas na capital federal. Os militares alegaram que se os policias entrassem para cumprir a ordem de desmobilizar o acampamento e prender os golpistas, haveria risco de violência e morte. Com isso, Lula aceitou a ideia de cercar o acampamento e prender todos os manifestantes na manhã do dia seguinte.

Apesar da hipótese de violência ter sido a justificativa oficial dos militares para resistir à entrada da polícia no acampamento no dia 8/1, há informações de bastidor dando conta de que, na verdade, o que os militares queriam era “ganhar tempo” para remover seus familiares do acampamento e impedir que fossem presos.

“Está na cara que eles ganharam tempo para sair. Tinha familiar de gente importante que ia, frequentava [esse acampamento]. O presidente chegou a mencionar em uma das entrevistas que a mulher ou filha do Villas Boas frequentava acampamentos [golpistas]. Então, eram parentes de gente de importância e relevância das Forças Armadas [ali dentro]. É uma teoria que se tem, mas não temos as imagens para comprovar.”

Assista a entrevista completa abaixo:

LEIA TAMBÉM:

Camila Bezerra

Jornalista

7 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. As entrevistastas com Júlia e Streck foram ótimas, mas saí delas com a nítida impressão que estamos fazendo a pergunta errada. Não precisamos compreender Mucio, um ser irrelevante. Precisamos compreender que são hoje o que são os militares e principalmente o que são as Forças Armadas. Porque tememos tanto o que chamamos de corporativismo das mesmas forças que não moveram uma palha para defender Almirante Othon (visado sobretudo por forças externas ).

    1. Se realmente ocorrer a não punição aos militares infratores da lei, pelos diversos crimes já contabilizados em CPI e nas diversas denúncias divulgadas pela imprensa de vários paises do planeta, eu avalio que será a mais grave, a mais repugnante e a mais humilhante demonstração de covardia e de fraqueza que poderei vir a assistir. Corrijo a avaliação da não punição dos graúdos militares envolvidos de “grave” para “gravíssima”, pelo fato de estar sendo cometida pela Instituição da Justiça Federal Brasileira, que tem o dever não apenas de ser a guardiã da constituição e da lei, como tem também por dever e obrigação aplicar a lei e a punição exemplar em todas as pessoas que dela se desviarem, que a ela desafiarem e que a ela ignorarem.
      Assim sendo, eu acredito que acontecendo essa espécie de arrego, pela justiça federal, estará definitivamente comprovada que a justiça brasileira é seletiva, e que a igualdade de todos, perante a lei e que a imparcialidade da lei perante todos é uma imensa traição e injustiça ao governo, a instituição, a população e ao Brasil.
      Pelo lado das Forças Armadas, se realmente houver pressão contra a justiça federal, para que não haja a condenação de militares em troca de acordos, que por si só levanta suspeitas contra a cúpula e a instituição das FA, elas estarão transgredindo as leis e se alinhando ao lado de dos já condenados e ao lado dos que ainda irão a julgamento por uma sequência de graves crimes contra a nação brasileira.
      Então fica a pergunta: será que os dois lados pensam que haverá algum vencedor, se fizerem não acontecer a punição exemplar, legal e merecida?
      Será que não observaram que se assim acontecer, os dois lados além de se mostrarem covardes e criminosos também perderão o respeito, a autoridade, o poder e levarão para o esgoto da história o nome e a imagem de instituições que historicamente e soberanamente são muito maiores, muito mais respeitáveis, muito mais admiradas e muito mais confiáveis que todos os atuais, de ambos lados, juntos e multiplicados?
      Deletem a arrogância, a vaidade, a ambição, a ganância e a busca de um poder que não liberta, não evolui e só destrói e arrasa.
      Pensem grande, engrandecendo o Brasil.

  2. E pacífico que tem que existir governo. Seja ele o qual for. Se não tem ninguém, se inventa um Bolsonaro da vida; mas tem que ter algo parecido com governo.
    TAMBÉM que à loucura de tirar o PT de qualquer jeito, na qual caiu de braçada a direitona brazurca, desde os acenos greencasrdianos da Madame Hilária e seus golpes na América Latina mediante o Departamento de Estado, aos “cansismos” (Canseira soa menos esquisito), com a mais pesada campanha de calúnias e injúrias, jamais feita no Brasil, não poderia restar nada que preste, todo mundo já sabia; desde Argos, Grécia, 370 a.C., que é assim.
    E QUE, esse vale tudo tinha tudo para trazer os militares DE NOVO à política, como modestamente alertei aqui, sobre uma declaração do general-mor daquele momento. Lembro que afirmei vai ter que entrar.
    MAS O general estava só de gracinha porque sua turma de viúvas do Frota (sempre eles) já estavam de vento em popa nos bastidores, na corrida do poder PELO PODER, como sempre. Sem projeto; recheados de entreguismos… a barbárie. Em 8 de janeiro, depois de perder nas urnas, resolveram “terceirizar” a dita barbárie.
    Se afrouxar, os frotistas retornarão mais fortes.
    Porque eles só entendem de força. Bruta, claro.

  3. No Caminho, com Maiakóvski
    (Eduardo Alves da Costa)

    Na primeira noite eles se aproximam
    e roubam uma flor
    do nosso jardim.
    E não dizemos nada.
    Na segunda noite, já não se escondem:
    pisam as flores,
    matam nosso cão,
    e não dizemos nada.
    Até que um dia,
    o mais frágil deles
    entra sozinho e nossa casa,
    rouba-nos a luz e,
    conhecendo nosso medo,
    arranca-nos a voz da garganta.
    E já não podemos dizer nada.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador