A pesquisa Genial/Quaest trouxe um dado sintomático: Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, é a liderança política com a maior confiança do mercado financeiro, amealhando 77% dos entrevistados ouvidos junto a 87 fundos de investimentos de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Campos Neto e o governo federal divergem sobre a taxa de juros, que mesmo com a redução recente, após pressão pública e dois novos integrantes no Comitê de Política Monetária (Copom) indicados por Lula, ainda está entre as maiores do mundo (13,25%).
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), vem em segundo, com 47% da confiança, e o governador de Minas Gerais Romeu Zema (Partido Novo) completa o pódio do mercado em terceiro, com 41% de confiança.
Campos Neto, Tarcísio e Zema têm em comum o fato de terem se destacado no cenário nacional a partir do governo Jair Bolsonaro.
Viés de confirmação
Diante das preferências, a confiança em Lula ficou em 2%. A de seu vice, Geraldo Alckmin, em 7%. A ministra do Planejamento e Orçamento Simone Tebet ficou em 1%. No governo, o ministro da Fazenda Fernando Haddad é o que angaria a maior confiança: chegou a 10%.
A pesquisa reflete, por outro lado, os interesses do mercado financeiro nos políticos a partir de demandas próprias de seu meio como privatizações, desinvestimento público a favor do privado, flexibilização de leis trabalhistas e defesa dos juros altos. O projeto de Lula não adota o receituário.
A sequência da pesquisa atesta esse viés de confirmação.
Outro dado a ser levando em consideração: apesar do presidente do Banco Central ficar no cargo até 2024, conforme a Lei de Autonomia do Banco Central, Lula poderá ter indicado, até o começo de 2025, sete dos noves diretores que compõem o Banco Central, incluindo o presidente.
O que antecipa a inquietação do mercado financeiro.
PAC
O novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é avaliado como uma medida negativa por 71% dos entrevistados pela pesquisa Genial/Quaest.
Outros 29% avaliam como positivo o novo PAC. A pesquisa, realizada entre os dias 13 e 18 deste mês, mostra que do ponto de vista dos gastos públicos, o mercado financeiro não aprova os investimentos de R$ 1,68 trilhões.
Estão incluídas no PAC, por exemplo, obras para o programa Minha Casa, Minha Vida, mas 85% dos entrevistados acham que é inadequado o montante investido enquanto apenas 15% entendem como adequado.
O novo PAC é dividido em nove eixos, que vão de cidades sustentáveis, passando por saúde, educação, transporte, transição energética, inclusão tecnológica e infraestrutura.
Mesmo com os recursos distribuídos em diversas áreas associadas ao crescimento econômico, geração de emprego e renda, 86% dos entrevistados acreditam que os investimentos não são eficientes para fazer o Brasil crescer. Já 14%, acreditam que sim.
Petrobras
Na linha do viés de confirmação, o fim do Preço de Paridade de Importação (PPI) na Petrobras, que designava os custos totais para importação de um produto, foi taxada como negativa para a indústria brasileira do petróleo por 81% dos entrevistados, sendo que 19% avaliam como positiva.
Tal política compreendia a variação dos preços de combustíveis brasileiros de acordo com as cotações do petróleo e seus derivados nos principais mercados mundiais de negociação, como o dos Estados Unidos e do Reino Unido.
Para além do preço internacional da commodity, no cálculo também eram considerados o câmbio do dólar e os custos de importação. Por conta disso, o preço dos combustíveis se tornaram mais altos, encarecendo a vida no país.
Ato contínuo, 97% dos entrevistados pela pesquisa acham que a política de preços está sendo influenciada por questões políticas – e não pelo o que o mercado financeiro acha mais adequado para si. Apenas 3% não concordam que a política esteja gerando influência.
Imagem do Brasil
Quebrando o viés de confirmação, 47% dos entrevistados acreditam que a imagem do Brasil no exterior melhorou depois da posse do presidente Lula. Outros 31% acham que nada mudou e 22% entendem que piorou.
Na esteira, 51% acham que os investimentos externos no Brasil ficarão iguais, 36% defendem que eles vão aumentar e 13% estão pessimistas: acham que os investimentos vão diminuir.
Brics
A incorporação de novos países ao grupo do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) não será positiva para a balança comercial brasileira para 74% dos entrevistados – 26% acreditam que sim.
O Brics é um grupo de países de mercado emergente em relação ao seu desenvolvimento econômico. Em agosto, Argentina, Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes se tornaram novos membros permanentes.
Se o acréscimo desses países ao bloco poderá ser positivo para as transações econômicas do Brasil, 78% dos entrevistados acreditam que não, ao passo que 22% acreditam que sim.
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Agiotas são sempre isso.
Quando se trata dos fundos de investimentos, as respostas tem que ser avaliadas em face do que é o investimento desses fundos no Brasil. Investimentos é uma das grandes questões do País. Não são feitos na suficiência das necessidades do País, o que põe a economia nesse quadro de baixo crescimento já há algum tempo. Para o ganho obtido por esses fundos as políticas econômica e monetária executadas no País é seguramente melhor aos seus interesses. Há que se considerar a manutenção de um artifício emergencial, como a isenção de tributos dada ao pagamento de lucros e dividendos. Isso faz com que os fundos não apóiem mudanças que impliquem fazer investimentos quer nos governos ou nas empresas, para pôr em risco ganhos sem risco. Para o conjunto da economia isso é péssimo, já para eles… O ingresso de dinheiro externo vai depender do que o Brasil apresentar para o porvir, e tem muito a ver com possibilidades de investimentos, já que esse espaço defendido pelos fundos está bem ocupado. O ônus que custa ao País os altos juros cobrados na economia e o empacamento de tudo e de todos, faz mal para a maioria, mas existem os que ganham. Não crescer é ruím pra qualquer país ou economia. Quando poucos ganham em detrimento do restante, o crescimento até existe e não pode ser negado. Mas de fato o que existe é o empobrecimento e o estreitamento das condições presentes e futura do País. Tirando o Tombini, que numa conjuntura normal se atreveu a reduzir a SELIC, todos os presidentes do BCB foram muito mais ou pouco menos apoiados, não é prerrogativa de Roberto Campos Neto. Parte de “O Mercado” quer continuar a ganhar como sempre ganhou: com o sacrifício do Brasil e toda a sua sociedade.