Ministro da Defesa inventa “anistia prévia” para militares e Bolsonaro pelos crimes de 8/1

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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Múcio nega liderança para a tentativa de golpe, e não se arrepende de não ter removido extremistas da frente dos quartéis

O futuro ministro da Defesa, José Múcio, durante anúncio de ministros no CCBB Brasília. | Foto: Agência Brasil/Marcelo Camargo

Às vésperas de completar um ano da tentativa de golpe e dos ataques de bolsonaristas às sedes dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023, o atual o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, concedeu uma polêmica entrevista na qual contraria uma das linhas de investigação sobre o atentado à democracia, ao negar que havia lideranças intelectuais no movimento.

A entrevista – na qual a veia corporativista de Múcio parece exaltada – gerou uma série de críticas ao ministro nas redes sociais. O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), por exemplo, considerou gravíssimas as declarações de Múcio sobre a falta de um “líder” para consumar o golpe.

“Uma das linhas mais importantes da investigação conduzida pelo STF é sobre a autoria intelectual dessa tentativa de golpe. O próprio Mauro Cid em sua delação premiada revela que foi o próprio Bolsonaro que aprovou uma minuta do golpe que falava em anulação das eleições e prisão do Ministro Alexandre de Moraes. Essa fala é quase a defesa de uma anistia prévia da cúpula golpistas, de militares envolvidos na trama e do próprio Jair Bolsonaro”, disparou Lindbergh.

Ao ser indagado sobre a posição das Forças Armadas diante dos pedidos eufóricos de intervenção militar pelos golpistas, o ministro afirmou que algumas pessoas da instituição queriam abraçar o plano, mas que o Exército não queria um golpe. 

No final, me parecia que havia vontades, mas ninguém materializava porque não havia uma liderança. Você pode dizer: ‘No governo anterior havia pessoas que desejavam o golpe’, mas não havia um líder que dissesse assim: ‘Nós queremos, eu sou o chefe, vamos’. Não existe revolução sem um chefe“, declarou. 

A narrativa de Múcio se choca com as revelações de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. Cid confessou que o comandante da Marinha, o Almirante Garnier, por exemplo, era um dos entusiastas do golpe e chegou a discutir o atentando à democracia com seus pares nas Forças Armadas. Exército e Aeronáutica negaram embarcar na aventura golpista.

As investigações também trouxeram à tona nomes de outras figuras do governo Bolsonaro envolvidas em planos golpistas, inclusive com circulação de minutas de decreto que previa intervenção no Poder Judiciário, prisão de ministro do Supremo e anulação da vitória eleitoral de Lula em 2022.

Piquenique

Nas declarações dadas em entrevista ao O Globo, Múcio também comparou os atos golpistas de 8 de janeiro de 2022 a um grande “piquenique”.

Havia um ambiente já de confusão. Ficamos bem perto das pessoas. Não havia um líder com quem negociar. Eram senhoras, crianças, rapazes, moças… Como se fosse um grande piquenique, um arrastão em direção à Praça dos Três Poderes. Foi um movimento de vândalos, financiados por empresários irresponsáveis”, afirmou. 

Múcio também demonstrou que não se arrepende de ter deixado a massa bolsonarista acampar em frente aos quartéis do Exército após a posse de Lula. Ele disse que não mudaria sua atuação no 8 de Janeiro e jogou para o Poder Judiciário a responsabilidade pela remoção dos extremistas.

No dia 6 ou 7 de janeiro, o comandante do Exército disse que o movimento (em frente aos quartéis) estava enfraquecido. A inteligência tinha detectado uns ônibus, mas nada significativo. Combinamos que eles não entrariam no acampamento. Acho que cometemos um erro. Não era para ter entrado nem os ônibus nem as pessoas que vinham neles, mas as pessoas entraram”, avaliou. 

Será que se nós tivéssemos tomado uma providência mais dura, não teríamos promovido uma cizânia dentro das Forças Armadas? Fomos dentro do que a lei mandava. Por que a Justiça não determinou que se tirasse? Por que tinha que ser um ato imposto pela Defesa? A Justiça não tirou, só depois do dia 8. O ministro Alexandre de Moraes mandou tirar, poderia ter mandado dias 7, 6, 5… Não poderia partir de nós”, acrescentou.

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Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

3 Comentários

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  1. que democracia pode existir sob tutela militar?
    a nossa… que portanto não é democracia
    como já disse sérgio buarque, a democracia sempre foi um mal-entendido entre nós
    e os milicos não são enquadrados nem por governos ditos de esquerda
    como agora anda em xeque a própria democracia no mundo ocidental, o brasil voltou a sua posição originaria e histórica de vanguarda do atraso

  2. A História da América Bananina está cheia de ministros das FFAA traidores da democracia, seja no braZil, no Chile, na Argentina ou outros. Esse aí declarou com todas as letras que “entre a esquerda e a direita (a política civil, republicana, democrática…), escolhe os militares”. Não passa de um “peligroso” passador de pano…sujo.

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