Ódio vence eleição; amor, não, por Marco Piva

Depois de tantas atitudes, decisões e atos contra o povo brasileiro, presidente ainda mantém chances de reeleição

Ódio vence eleição; amor, não

por Marco Piva

Nunca duvide da capacidade infinita do ser humano em praticar o mal na hora que menos se espera. O mal é intrínseco ao único habitante da terra com capacidade de articular pensamento e ação. Cabe ao seu outro lado, que é o bem, puxar o freio de mão e dizer: “Pera aí, assim não!”.

O sistema de valores construído ao longo dos tempos pela humanidade foi moldando critérios de convivência para se chegar ao que conhecemos como civilização. O Iluminismo é a maior prova disso e a democracia representa seu modelo mais avançado, apesar dos vários defeitos e limitações no sistema de pesos e contrapesos.

Não podemos esquecer, porém, que territórios além mar foram conquistados como é o caso das Américas e a conta foi o massacre dos povos originários e suas ancestralidades- diga-se de passagem muito mais evoluídas em termos de relação com o próximo e a natureza.

A atual campanha eleitoral no Brasil, especialmente a disputa presidencial, remete ao que há de mais básico na tomada de decisão para um ser humano. Estamos diante de um candidato que desfruta e goza de uma autointitulação (mito) que o transporta para o panteão de heróis imaginários por conta de supostas batalhas épicas. Em outras palavras, a luta contra o comunismo, o aborto, o movimento LGBTQIA+, os indígenas, as mulheres e os quilombolas. Para tanto, o candidato se arma da religião e a confunde com a política. Para uma população sem educação formal completa e arredia a tudo o que se refere à política, principalmente depois da criminalização incentivada pela operação Lava Jato, se trata de um golpe fácil de capturar mentes e corações.

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Este pano de fundo religioso misturado com a política não pode ficar apenas nas palavras bonitas e de esperança da Bíblia. Para acontecer de fato é necessário acrescentar o discurso de ódio onde o oponente é tratado como inimigo e não como adversário de ocasião. Com este verdadeiro sequestro dos valores morais, as violências física e verbal, de forma digital ou não, são justificadas como a luta do bem contra o mal. Em outras palavras, é o combate do cidadão de bem, patriota, ordeiro, cumpridor dos seus deveres cívicos e defensor da família contra aqueles que querem impor seus pontos de vista e assim destruir os pilares da nação. Nada mais falso, mas nunca antes na história deste país, tão verdadeiro na medida que captura o bom senso e estabelece um senso comum autoritário, que naturaliza o ódio. Sem precisar de decreto, o atual presidente instaura a violência como fator prioritário do embate político visando a garantia e a continuidade de seu poder.

Este é um tipo de jogo que nunca havia sido jogado antes na jovem democracia brasileira. Escaramuças pontuais, xingamentos de lado a lado, ameaças esparsas de violência constituíram a praxe das disputas eleitorais anteriores até 2014. Agora, não. Existe um perigo real que usa o sistema democrático para destruí-lo e estabelecer regras autoritárias, cujos resultados conhecemos bem em passado recente.

Não há espaço para hesitação ou dúvida. O que temos bem diante dos nossos olhos é um projeto de gangsterismo com pinceladas econômicas liberais sem planejamento. O Estado brasileiro, caso continue nas mãos de quem o detém atualmente, estará fadado ao desastre completo com graves consequências sociais, ambientais e institucionais. Se assim for, o ódio pode vencer a eleição. O amor, não.

O pior cego é aquele que não quer ver, diz o ditado. Prorrogar este pesadelo por mais um turno significará a potencialização de um conflito que o povo brasileiro não merece mais e talvez nunca tenha merecido.

Marco Piva é jornalista, apresentador do programa Brasil Latino na Rádio USP e pesquisador do Centro de Estudos Latino-americanos de Cultura e Comunicação (CELACC) da Universidade de São Paulo.

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Redação

1 Comentário

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  1. Na minha cidade, tenho visto somente propaganda fascista pró-Bolsonaro. Não vejo nem bandeiras, nem adesivos em carros dos candidatos adversários. Então, penso que há um consentimento e uma aprovação velada à candidatura do “coiso”. O silêncio é constrangedor e mete medo. Na abertura dos resultados, em 02 de outubro, veremos a verdadeira face do nosso povo e a estrada que pretende trilhar.

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