Oligarquia paulista, o atraso do Brasil, por João Telésforo

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Dos barões do café aos banqueiros e a movimentos com o MBL, elite de SP afirma-se há mais de cem anos como grande entrave à democratização do país (Imagem: mural anônimo na Avenida Paes e Barros, São Paulo-SP)

do Outras Palavras

Oligarquia paulista, o atraso do Brasil

por João Telésforo

Até mesmo nos meios “progressistas”, nunca faltam aqueles que consideram a sociedade e a política do Nordeste como mais “atrasadas” com relação às do centro-sul, em especial paulistas. Segundo representação predominante, em São Paulo estaria a “modernidade” das práticas econômicas e políticas, enquanto os velhos coronéis e regimes mais exploradores e clientelistas estariam concentrados entre a “baianada” ou os “paraíbas” lá de cima (termos que paulistas e cariocas utilizam pejorativamente para se referirem a nós, nordestinos).

Além de uma visão bastante seletiva – cega para nomes como Paulo Maluf, trensalão do tucanato paulista, trabalho escravo em pleno centro de São Paulo (ver aquiaquiaqui…) -, esse imaginário padece de graves problemas de memória. Esquece, por exemplo, que a maior e mais prolongada resistência à abolição da escravatura no Brasil não veio do Nordeste “atrasado”, mas dos prósperos cafezais paulistas, conforme explica Alfredo Bosi, professor da USP, no fulminante artigo “A escravidão entre dois Liberalismos”, publicado em 1992.

Replico algumas passagens do texto de Bosi, pertinentes à questão:

“Hoje, calados os louvores sem medida com que se exaltou a lucidez ou o espírito moderno dos fazendeiros do Oeste Novo, pode-se reconstituir com isenção os passos deveras prudentesdados pelos homens do café, desde a sua aberta recusa à Lei do Ventre Livre (os votos de Rodrigo Silva e Antônio Prado em 1871), até o seu ingresso no movimento já triunfante em 1887; então, o problema da força de trabalho já fora equacionado em termos de imigração europeia maciça subvencionada pelos governos imperial e provincial.

Os estudos de Conrad e Gorender, que ratificam, por sua vez, pontos de vista de Joaquim Nabuco e José Maria dos Santos, põem a nu a relutância dos republicanos paulistas, muito sensível nos anos 70, no que tocasse a medidas drásticas [de abolição da escravidão](…)

Em 1870, dizia-se na Assembléia Legislativa de São Paulo, que esta era a Província que menos deveria recear a diminuição de braços, pois aí estavam se concentrando todos os escravos do Norte do Império. Nessa ocasião, Paulo Egydio defendia a legitimidade do comércio de escravos, considerando-o ‘uma indústria muito legítima e consagrada entre nós’. Manifestava-se contra a restrição dessa liberdade pela sobrecarga de impostos: ‘meia sisa, impostos imperiais e municipais, gravando as vendas’.

A abolição que, para as províncias do Norte e Nordeste e para os profissionais urbanos, poderia vir sem maiores traumas, não interessava ainda aos fazendeiros de São Paulo que apenas esboçavam os seus projetos de migração.(…)

A adesão franca à campanha abolicionista da parte dos paulistas do Oeste [apenas em 1885] estava, pois, condicionada a um subsídio oficial que fosse bastante copioso para a obtenção dos braços livres. O subsídio veio em abundância: entre 1887 e 88 chegariam aos nossos portos quase 150 mil imigrantes. Proclamada a República, sob o domínio do café, põe-se em marcha a grande imigração“.

A oligarquia cafeicultora paulista foi o último bastião a ser derrotado pela luta abolicionista no Brasil – e sua suposta adesão à causa não veio de graça, mas em troca de um conjunto de privilégios subsidiados pelo Estado. Ademais, conforme explica Bosi, com base em ampla literatura, esse setor também bloqueou, à mesma época, a reforma agrária e a industrialização do país, sempre agarrada à defesa – tendenciosa e abusiva – dos sacrossantos direitos de propriedade e de “livre-comércio”, utilizados à exaustão para justificar, respectivamente, a escravidão e o tráfico negreiro.

Quando se observa o desenrolar da história do Brasil desde então sob esse prisma, constata-se uma grande linha de continuidade: a oligarquia paulista continuou a ser a maior adversária interna das lutas do povo brasileiro para edificar uma nação digna, justa e livre – a liberdade herdeira da luta abolicionista, e não do “livre-comércio” que era utilizado em defesa do tráfico, e que hoje vemos repetir-se no discurso de organizações como o “Movimento Brasil Livre”, cuja força também se concentra em São Paulo.

Não espanta, então, que o núcleo duro da máfia do governo do PMSDB, de Michel Temer, José Serra, Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin e companhia, seja representação política desse mesmo velho setor oligárquico escravocrata. Não importa o quanto procurem disfarçar-se com tons “modernos” e “sofisticados”, com tinturas parisienses ou mesóclises, como já faziam seus ancestrais escravocratas; sempre terão cheiro de naftalina e prática de bandeirantes, matadores de índios/as e negros/as.

Esse setor nunca deixou de defender um mesmo projeto em suas linhas básicas, ainda que adaptado e reformulado ao longo dos tempos, desde o século XIX. Eis a síntese de seu programa, sintetizado por Alfredo Bosi: “entrosamento do país em uma rígida divisão internacional de produção; defesa da monocultura; recusa de toda interferência estatal que não se ache voltada para assegurar os lucros da classe exportadora”. Em suma, querem seguir fazendo sua fortuna e seu poder com base na exportação de soja, minérios, sangue, suor e lágrimas do povo brasileiro.

A situação periférica, subordinada e dependente do Brasil no sistema-mundo, nosso subdesenvolvimento social, econômico e tecnológico, não lhes incomoda; estão contentes com a perpetuação do “desenvolvimento do subdesenvolvimento”, que a eles gera grandes dividendos. Entregam sem cerimônia à superexploração gringa, pois, nossos recursos naturais e bens estratégicos, nossa força de trabalho e inteligência. Enquanto o leilão do país, de suas almas e carnes, continuar a lhes propiciar lucros e poder, seguirão adiante. Ao menos até que a rebeldia do povo brasileiro – aí incluído o povo paulista, em seu mosaico de diversidade, que não se confunde com sua oligarquia reacionária –, que segue se aquilombando em todo tipo de ocupação e luta pelo país, os destrone e proclame a nova abolição.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

52 Comentários

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  1. Modernizante e fundamental

    Modernizante e fundamental para o Pais é a oligarquia do Maranhã ou a do Rio Grande do Norte, onde tres familias, Rosado, Maia e Alves, governam o Estado há 120 anos. Curioso é quando algum deles tem uma unha encravada correm para os hospitais de São Paulo, erguidos pela “oligarquia” paulista, a mesma que se renova a cada geração enquanto em

    outros Estados, não todos, não há renovação alguma, são tataranetos de antigos coroneis do tempo do Imperio.

    Em São  Paulo não há mais nem barões  e nem café, hoje o cultivo subiu para Minas, Espirto Santo e Bahia mas

    há em São Paulo uma sociedade global, moderna e eficiente que faz de São Paulo o centro do Brasil perante o mundo, sem São Paulo, construido por fatores unicos, energia eletrica abundante e imigração europeia, o Brasil seria uma grande Guatemala, sorry mas dizer que São Paulo é o atraso do Brasil é um pouco demais.

    1. mas não esta de tudo errado.

      Por primeiro: Não acentuarei com acento grave, porque, não sei  o motivo, a tecla do acento agudo duplica o sinal e o lança a tr^^es espaços ( descobri agora que o circunflexo tamb´´em) . Caro Andre: O que o comentarista fala não e de tudo errado. A oligarquia paulista ´´e conservadora.  Tão conservadora quanto a nordestina. Porem aqui, o povo particpa mais das decisões e teve , ao longo do tempo, uma participação politica maior e com isto se dedicaram mais a obtenção de direitos. O proprio RJ nao seria o que ´´e se não tivesse sido a capital. Por´´em, ´´e verdade o que voc^^e fala. O correto seria, salvo opinião contr´´aria, que se critique todas as oligarquias.

    2. Penso que o autor refere-se

      Penso que o autor refere-se ao atraso moral, não material.  A questão de bens e riquezas é indiscutível, a questão moral é a falha, como já ouvi “presunção e água benta cada um carrega o quanto aguenta”, portanto, vide Alckmin e sua polícia, por exemplo.

    3. Preconceito Paulista.
      O

      Preconceito Paulista.

      O comentário de André Araújo é bastante ilustrativo da mentalidade atrasada e preconceituosa da “elite” de São Paulo.

      Para “defender” São Paulo, André Araújo recorre a considerações ignorantes e preconceituosas contra nordestinos e latino-americanos, vítimas favoritas da narrativa supremacista da provinciana elite paulista, que não se considera nem brasileira nem latino-americana.

      O discurso do preconceito é típico de sociedades atrasadas e decadentes. Lembro de um comentário de Araújo, ao referir-se aos traços indígenas do presidente boliviano, chamando-o de “cabelo lambido”, ou algo do tipo, o que denota toda a vulgaridade de seu caráter, expressão típica dos jecas endinheirados e sem cultura que em SP passam por elite.

      O comentário sobre a Guatemala é apenas mais uma demonstração dos notórios conhecimentos de botequim do sr. Araújo, que agora se apresenta como especialista em Guatemala. O processo de desenvolvimento da Guatemala foi interrompido por um golpe de Estado promovido pela CIA, resultando em um longo período de guerra civil e estagnação. Curioso como o que vitimou a Guatemala foi o mesmo tipo de neocolonialismo estadunidense que, no Brasil, é fortemente defendido pelo discurso submisso disseminado por figuras como o próprio Araújo.

      Por fim, é só a falta de noção(ou de vergonha na cara)que permite alguém oriundo de um estado há décadas governado pelo que existe de pior na política, como Ademar de Barros, Maluf, Serra, Alckmin e afins, apontar o dedo para outros estados, como os paulistas costumam fazer. 

      O comentário sobre uma “sociedade moderna, global e eficiente” decorre do discurso da “locomotiva”, recurso metafórico frequentemente empregado pelo que São Paulo tem de pior, desde grupos neonazistas, até políticos demagogos.

       

       

      https://www.youtube.com/watch?v=r_pX5wsr4DI

       

      https://www.youtube.com/watch?v=h0yYf135hpo

       

      https://www.youtube.com/watch?v=QgN-oVqgM8I

  2. Texto preconceituoso e ressentido

    Impressiona a ideia fixa de reduzir a elite paulista a barões do café e bandeirantes caçadores de índios. Esses estão extintos há muito tempo, e hoje são meras figuras alegóricas. A atual elite paulista é constituída principalmente de descendentes de imigrantes de vários países chegados ali na virada do século 19, gente de espírito empreendedor que diversificou uma economia até então centrada no café. Não fosse por eles, São Paulo teria vivido apenas um “ciclo do café”, tal como já houve no país um ciclo do ouro, da cana-de-açúcar, da borracha e do pau-brasil, findo o qual o estado se tornaria pobre e exportador de mão-de-obra. Mas também vale ressaltar que apesar da importância econômica, São Paulo não fez um único presidente brasileiro entre Campos Sales e FHC. Acredito que uma futura proeminência de São Paulo na política será benéfica ao país.

    1. São Paulo às margens da política

      Pode ser um motor economico, mas politicamente Sãoi Paulo nos tem agraciado com a pior politica que pode se  ter, reacionária e exclusiva!

    2. texto….

      Aí você está forçando a barra. A culpa de SP, dos paulistas e paulistanos é querer que o país se desenvolvesse como o estado o fez? São Paulo nunca se curvou, lutou não somente por ele mas por um país inteiro igualitário. Deu oportunidade a todos os brasileiros que aqui vieram de construirem seus sonhos. Uma nordestina da periferia, aqui chegou a Prefeitura mais imporante do país. Um nordestino, teve condições de trabalhar, aprender, se sindicalizar, seguir suas convicções e se tornar Presidente da República. Aqui se construiu o caminho para a manutenção politica que trouxe o país ao maior período democrático da sua história. Culpados pelo que? Por exigir? Por não aceitar a traição? Por exigir que promessas feitas, que foram arduamente protegidas para serem colocadas em prática, fossem cumpridas? Canalhas devem explicações à nação. Podem espernear à vontade. Não escaparão do banco dos réus, nem do julgamento da história.      

  3. São Paulo é sim a vanguarda

    São Paulo é sim a vanguarda do atraso.E´grande porque tem o mercado cativo de seus produtos para po resto do país que tem 160 milhões de habitantes e não precisa concorrer com o mercado externo. Tem uma polícia assassina onde temos constantemente um festival de chacinas. Liderou o golpe de 1964, culturamente divulga tudo de outros estados pelo tamanho de seu mercado mas produz muito pouco.  Depende para funcionar bem do petróleo do Rio de Janeiro, da energia do Paraná e dos minérios de Minas. Se não fosse Getúlio Vargas estaria até hj dependente do Café e ainda odeiam o Getúlio.

    1. Antes de Getúlio Vargas…

      Antes de Getúlio Vargas já havia empreendedores audazes em SP, como Martinelli e Matarazzo. Não nego o mérito de Vargas ao promover a industrialização, mas dizer que sem ele SP estaria até hoje dependente do café é um bairrismo tosco e ridículo. A isso se reduziu o PT hoje, cada vez mais afundado em seus recalques.

    1. Ops… pobreza. São Paulo é o

      Ops… pobreza. São Paulo é o centro do capitalismo brasileiro. Evidentemente, é em SP que os conflitos, inerentes ao capitalismo, se apresentam de forma mais aguda. Simples assim.

  4. Pregar o ódio a paulista, à

    Pregar o ódio a paulista, à classe média, e agora até ao morador da periferia que não vota mais no PT.

    A isso se reduziu o PT de hoje.

    O fim está próximo. 

    R.I.P.

    1. -Charlie-

      O fim do PT não está próximo não, sr. Charlie. Ou o sr. não assiste nunca os debates na Assembleia e no Senado. O Pt já foi escorraçado do Brasil, de acordo com os discursos de todos os PSDBistas. Eles não discutem nunca a PEC ou MP ou PL algum. Acho que nem o José Anibal (Paulista do PSDB) já leu a PEC 55, eles pedem a palavra somente p/ desqualificar o PT. Sabem que aquilo é meramente um circo e não se dão ao trabalho de ler a famosa PEC do fim do mundo. Já passou mesmo.

      E do alto dos milhares de votos  que o PSDB obteve em 4 eleições seguidas, eles só fazem rir do PT e nós que temos algum senso de humor, rir  da cara e das palavras deles.

      A isso se reduziu o PSDB de hoje. Um partido de canalhas , golpistas e cínicos, como se houvessem ganhado eleição e não roubado do PT a vitória. Um partido de famintos por dinheiro e poder. Penso que o Quércia estará dando umas boas gargalhadas , onde estiver, assim como o Maluf.

  5. O autor recorre a um paper,

    O autor recorre a um paper, que relatava a situacao no seculo 19, e a partir disto enuncia mais uma ladainha de nordéstino réssentido. Parece que ultimamente houve um cambio de alvos; antes eram os américanos, agora é a tal paulistada. No mais, é puro pópulismo.

    1. O interessante é q quando o

      O interessante é q quando o PT estava crescendo em São Paulo eles nem sonhavam em escrever esse tipo de texto contra o Estado! Mas agora que sofreram essa derrota humilhante eles resolveram soltar todo o veneno contra os paulistas! 

  6. Não chego a dizer que é

    Não chego a dizer que é atraso,

     

    mas o modelo de ditadura que estamos vivendo sem duvida exportaram daqui: instituições sequestradas e aparelhadas, midia contemplativa, nenhum orgão de fiscalização funcionando, o legislativo obsoleto e cumplice, judiciario apatico, isso tudo já existia em sp há mais de dez anos……

     

  7. O golpe é paulista, Collor

    O golpe é paulista, Collor foi eleito pela oligarquia cafeeira de SP, Aécio foi eleito presidente por SP mas derrotado em MG e no NE….

    Golpe paulista destrói o Brasil

    Crescimento global será de 3% enquanto o  Brasil crescerá 4%: prá baixo, assim como tem sido em Pindorama, onde a gasolina e o gás não param de cair de preço: prá cima!!!

    http://brasil.elpais.com/brasil/2016/02/18/economia/1455787563_076546.html?rel=mas

    1. Quando Collor foi eleito…

      Quando Collor foi eleito, São Paulo nem era mais produtor significativo de café. A oligarquia cafeeira de São Paulo nem existia mais. Isso mostra bem como a imagem que vocês têm de SP é meramente uma imagem alegórica, feita de ícones que impregnam o imaginário até hoje.

      1. Faça uma consulta básica ao

        De repente brota dessa elite caipira e bizarra alguém que capaz de acreditar que alguém neste pais cre que estamos na Era Cafeeira..quer dizer que se eu tivesse usado o termo oligarquia escravista vc iria dizer que já saimos da escravidão….por favor meu amigo, faça uma consulta básica ao dicionário e procura saber o significado da palavra ironia, vou facilitar prá vc tá bom

        “ret figura por meio da qual se diz o contrário do que se quer dar a entender; uso de palavra ou frase de sentido diverso ou oposto ao que deveria ser empr., para definir ou denominar algo [A ironia ressalta do contexto.].” 

         

  8. Um pouco mais da oligarquia paulista

    O exemplo mais acabado da oligarquia paulista a que o autor se refere, é o secretário de Alckmin, João Carlos Meirelles, bengala de madeira de lei e cabo de prata, que parece saído de um quadro do Museu Republicano de Itu, onde a família Meirelles possui muitas propriedades rurais. A matéria do DCM é de 2013, mas tem tudo a ver com o post.

    Endireita, São Paulo: o depoimento de um pessedebista histórico sobre o governo Alckmin

     Postado em 04 Apr 2013por :  

    A nomeação de Ricardo Salles, criador do Movimento Endireita Brasil, é só mais um sintoma da falta de rumo do partido.

    Salles, do Endireita Brasil, agora secretário particular do governador de São Paulo

    Salles, do Endireita Brasil

    Um pessedebista histórico, ex-presidente de diretório em São Paulo, escreveu para o Diário um depoimento sobre a guinada à direita do PSDB e do governado Geraldo Alckmin. Ricardo Salles está na companhia de outros conservadores que têm cada vez mais espaço em um governo que tucanos amigos classificam de “feijão com arroz” e tucanos inimigos de “medíocre”.

    O advogado Ricardo Salles, criador do movimento Endireita Brasil, é a mais recente aquisição do governador de São Paulo no balaio da direita, mas não é a única e não será a última. Nomeado secretário particular do governador, Salles defende o regime militar, é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, contra o aborto, abomina o Estado e se define o único direitista assumido do Brasil, seja lá o que isso quer dizer. Geraldo já havia imposto na presidência do diretório estadual um deputado obscuro que brilha no papel de mascate, na base de promessas, tapinha nas costas e benesses às lideranças de pequenas e médias cidades do interior. O libanês Pedro Tobias, médico radicado em Bauru e que ganhou notoriedade fazendo consultas e partos gratuitos, é conhecido no meio político por sua visão estreita de mundo e nenhum compromisso ideológico. Mas quem se importa com isso se a massa de prefeitos quer mais é saber de verbas para a Santa Casa ou a reforma das praças com fonte luminosa?

     

    Salles, de 38 anos, é o terceiro secretário particular de Alckmin desde a posse, em janeiro de 2011. Antes dele, passaram pela função o ex-deputado Marco Antônio Castello Branco e Fábio Lepique, este oriundo da Juventude Tucana, hoje instalado no Comitê Paulista da Copa do Mundo e na tesouraria do diretório do PSDB na capital. Conservador, raso intelectualmente e cheio de formalidades, é natural que Alckmin, diferentemente da maioria dos líderes populares do país, faça questão de manter um secretário para cuidar da sua agenda (o prefeito Fernando Haddad, por exemplo, não tem essa figura).

    Ignorando a base partidária e vendo Serra nos estertores da aposentadoria após a humilhante derrota na corrida para a prefeitura do ano passado, Geraldo (é assim que ele é tratado nas internas) está finalmente livre para agir por conta própria, levando seu grupo e mais o que restou do partido aonde lhe convier. Desde 2006, quando ele e Serra digladiaram nos bastidores pela candidatura à presidência, os dois vivem às turras, um puxando o tapete do outro e ambos dando sinais cada dia mais claros de que caminham para o abraço dos afogados. No comando do partido na capital, o escolhido foi o deputado federal licenciado e atual secretário Estadual de Planejamento e Desenvolvimento Regional, Júlio Semeghini. Semeghini tirou licença médica durante o fogo-cruzado da campanha municipal de 2012 – chegou a ser chamado de covarde por membros do partido, menos por virar as costas para a campanha de Serra (o que para estava longe de ser uma exceção) e mais por evitar reuniões e se omitir nos permanentes embates por espaços de poder dentro da sigla.

    Geraldo

    Geraldo

    Chefe de um governo que os tucanos amigos classificam de “arroz com feijão” e os tucanos inimigos de “medíocre”, Geraldo aposta que, na hora do vamos ver, em 2014, vai sair às ruas e fazer prevalecer a sua fama de bom moço, o famoso picolé de xuxu. Na base da camaradagem, visitando pequenos comércios, tomando café em boteco, falando com os populares, indo a missas dia sim, outro também, garante que ninguém tira dele a chance de dirigir pela quinta vez o estado mais rico e mais importante do país. 

    Para dar visibilidade e, principalmente, dinamismo à sua gestão, convenceu o veterano João Carlos Meirelles, que já ocupou a secretaria de Ciência e Tecnologia e coordenou sua campanha em 2006, a devolver o pijama à gaveta e voltar para o front, agora na condição de assessor especial de assuntos estratégicos. Legítimo representante dos quatrocentões paulistas, Doutor Meirelles, como Alckmin faz questão de tratá-lo, ostenta um bigodão impecável, usa abotoaduras douradas e uma bengala de madeira de lei e de cabo prateado. Certamente uma figura de referência para o jovem Ricardo Salles.

    Agora livre da sombra de Serra, mas também sabendo que não vai contar com os serristas no ano que vem, o governador está testando sua capacidade de liderança e de estrategista. Nas duas últimas vezes em que tentou isso, em 2006 e 2008, o resultado não foi lá grande coisa, com a derrota para Lula no segundo turno da eleição presidencial e o vexame do terceiro lugar na corrida pela prefeitura com Kassab e Marta. Geraldo se considera ungido e não ouve ninguém. O staff que está sendo montado com a chegada do reacionário Salles é uma amostra de que não ouve nem Fernando Henrique Cardoso, que criticou as alianças do partido com “setores conservadores”.

    Meirelles: bengala de madeira de lei com cabo prateado

    Meirelles: bengala de madeira de lei com cabo prateado

    Educado à moda antiga, do tipo que sempre inicia uma conversa perguntando da família, o governador de São Paulo é um adepto das historinhas de salão. Principalmente aquelas relacionadas à ascensão e queda das antigas e tradicionais famílias de São Paulo. Narra com brilho nos olhos, e riqueza de detalhes, coisas como a teia de intrigas dos herdeiros de Luiz Dumont Villares na antiga gigante metalúrgica. Também gosta de se divertir lembrando da maior vaia que já presenciou na sua vida pública. Foi no Primeiro de Maio da Força Sindical de 2005, quando 1,5 milhão de trabalhadores não deixaram o então presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, concluir o discurso. “O eco batia na serra da Cantareira e voltava num barulho ensurdecedor”, conta, rindo. “Uma coisa de louco”.

    É notória sua amizade com Campos Machado, dono do PTB e cacique do conservadorismo mais anacrônico. Campos Machado, autointitulado herdeiro de Jânio Quadros, foi candidato a vice na aventura fracassada de Alckmin de tornar-se prefeito de São Paulo em 2008 e foi também quem iniciou o colega na leitura da obra de Jânio. (Ele guarda com carinho os livros de JQ na sua estante pessoal em seu apartamento no Morumbi). Geraldo também gosta de convidar o comediante Sérgio Mallandro para visitar sua chácara em Pindamonhangaba, para divertir a família. Mallandro confidenciou a amigos que, na verdade, é ele quem ri dos Alckmin.

    Mallandro: ele faz visitas à chácara do governador

    Mallandro: ele faz visitas à chácara do governador

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  9. Aliás quem eram os

    Aliás quem eram os vicentinos? Povos que a partir da capitânia de S. Vicente saiam Brasil afora, escravizando e matando índios e depois matando escravos. Sempre foram de um reacionarismo extremo.

  10. Oligarquia

    O Brasil está passando o atual momento justamente pela atuação nefasta desses caciques do PSDB que no fundo no fundo são conspiradores querendo separa o Brasil. O PSDB comandado por Serra quer separar o Brasil. Por isso estão criando esse caos. Eles não aceitam o norte, o nordeste e o centro-oeste ricos. Com certeza a imesna maioria do povo paulista não aceita isso, porém, estão tentando cooptá-los de qualquer maneira.

    1. O PSDB comandado por Serra?

      O PSDB comandado por Serra? Serra não comanda o PSDB há muito tempo, se é que algum dia comandou.

      E Serra pode ter mil defeitos mas nunca em tempo algum propos separação do Brasil, que delirio.

      1. Serra

        Também concordo. Porém ele o Serra é um sem vergonha traidor entrguista. Você com seu comentário mostra que também faz parte do time dele. Sua resposta o condena.

  11. Se é paulsita, carioca,

    Se é paulsita, carioca, nordestina, nortista… não importa! O que importa é fora temer! fora cambada de ditadores golpistas! Aliás, no golpe de 1964 houve resistencia… eram filmes que eram censurados, músicas que tambem eram censuradas, exilados  e etc… e hoje, não vemos um artista sequer batalhando alguma coisa  contra a ditadura que estamos vivendo… até os políticos não golpistas estão parecendo gato de armazem!… cadê o pessoal com mais poder de fogo? não dá para entender…

    1. O golpe é paulista, nao há como negar.

      Também nao entendo como já esta todo mundo resignado com o golpe … algumas manifestacoes contra alguma PEC e já se acha que o dever de protestar esta cumprido. É muito triste ver o que a camarilha do Temer está fazendo com o país com o apoio do parlamento, do judiciario e da midia. 

  12. Todos Esperando os paulistas “fazerem alguma coisa”

    Já que não conseguem nos próprios estados. Com exceção do Paraná e as incríveis ocupações de estudantes, aliás inspiradas nas ocupações feitas pelos estudantes paulistas  no ano passado.

    A esses paulistas…

  13. O fato é que há um

    O fato é que há um descompasso entre o que São Paulo acha que é e o que é de fato. 

    No entanto o maior problema de São Paulo é querer negar o Brasil e procurar de todas as formas ser apenas reconhecida pelos oligarcas mundiais como algo que mereça ser comparada a Paris ou Nova Iorque. Ao apenas querer ser parte da elite mundial São Paulo deixa de cantar a sua aldeia que é o Brasil e por isso mesmo se torna desiteressante.

    A oligarquia nacional está sediada em São Paulo, disso ninguém tem dúvidas. E é uma oligarquia medieval, parasitária, excludente, tola e avessa a ideais republicanos como bem mostrou o artigo.

     

    1. não é bem assim…..

      “O fato é que há um descompasso entre o que São Paulo acha que é e o que é de fato”

      Bela frase mas voce pode substituir SP por Rio de Janeiro,Porto Alegre, Belo Horizonte, Nova York, Paris, Londres, Moscou ou Dakar……Habitantes de cidades grandes e importantes economicamente no contexto nacional ou mundial, tem tendencia a creer que são o centro do mundo……é humano…

      Quanto a oligarquia, não me parece que a oligarquia de outros estados seja um modelo de modernidade……

  14. Análise precária e falsa.


    É muito engraçado o hábito de algumas pessoas ao criticar de forma injusta São Paulo e sua gente.

    FHC nasceu no Rio, mas fez sua vida profissional e política em SP. Assim como Lula, que nasceu em Pernanbuco.

    Será que todos que vivem em SP recebem influências de Satanás ou há uma histeria desenfreada em acusar os paulistas como entes do mal?

    O missivista afirma que os paulistas têm fissura por Maluf. Desinformado que é, não sabe que Maluf ganhou aqui uma única eleição majoritária.

    Sarney, Collor, Renan, Cabral, Jader, Henrique Alves, Negromonte e etc, estes sim, são brasileiros sérios e patrióticos.

     

  15. Se alguem conseguir definir paulista…..

    Se alguem conseguir definir paulista(mistura de tudo com tudo desde sempre………..)acho engraçado e de uma inutilidade imensa, toda essa critica aos paulistas…..dizer que a elite paulista é um atraso de vida é digamos assim, obvio,e ate onde sei, não creio que as elites de outros estados sejam modernissimas……. Tem mesmo um post que critica as bandeiras ….Bandeirantes que nem eram “paulistas” e sim portuguesesn a maior parte deles….Quanto a terem matado e escravizado, isso era o normal nos seculos 16-17, julgar periodos historicos anteriores ao nosso com os valores morais de hoje em dia, não tem o menor sentido…….

  16. A elite sempre mimada…

    Do jeito que o texto fala e lendo as reações nem sempre lúcidas dos comentários fica parecendo que é somente uma velha rixa infantil São Paulo contra Rio, ou contra nordeste. Mas se a gente analisa com calma e isenção a história do Brasil fica fácil perceber como a elite majoritariamente paulista (não é só paulista e não envolve todos os paulistas ou paulistanos) sempre foi a “vanguarda do atraso”. E consegue perceber que muito mais de “ressarcimentos” em leis e dinheiro do governo federal se baseia a “riqueza” de São Paulo do que em verdadeiro “espírito empreendedor”. Todos os golpes e “revoluções” que aconteceram no país desde o segundo reinado sempre foram para manter a situação de privilégio da elite majoritariamente paulista. E sempre que aconteceram estes golpes em seguida vinham “ressarcimentos” em altos valores para esta mesma elite que deu o golpe. Foi assim na abolição, foi assim no golpe de 30, no golpe de 64 e de novo temos todos os esforços do governo da Temeridade em retirar dinheiro da União para enviá-lo para os já abarrotados cofres da elite paulista. Mas como o Brasil dominado pela mídia (que fora a Globo é inteiramente paulista já reparou???) virou uma grande partida de futebol de cartas marcadas os torcedores (o estágio mais baixo da inteligência que um ser humano pode chegar) só se preocupam em defender o seu “time”. Assim todos os paulistas e moradores de SP que leram o texto se revoltam como se estivessem obtendo vantagens dessa sangria eterna que faz o Brasil inteiro se matar de trabalhar para que os bairros nobres de São Paulo se tornem cada vez mais ricos!

  17. “Fascistas de esquerda”,minha

    “Fascistas de esquerda”,minha denominação a quem culpa SP por tudo no Brasil ,se esquecem de

    Aécio(mineiro),Gilmar Mendes(Mato Grosso) só para citar estes dois,e q tal pesquisarem estes Oligarcas

    de SP,se não saíram de seus estados e se instalaram aqui em Sampa,onde financistas do Brasil e mundo

    embarcaram e NATURALMENTE deve haver protagonismo,seus burros e coxinhas de esquerda !!!

  18. A “oligarquia” paulista…..

    A “oligarquia” paulista e as 10 maiores fortunas do Brasil:

    Jorge Paulo Lemann carioca mora na Suiça

    Jose Safra (libanes naturalizado,quando esta no Brasi..)Morumbi SP

    Marcel Herrmann Telles carioca (quando esta no BR) mora no rio

    Carlos Alberto Sicupira talvez NY

    Eduardo Saverin mora em Singapura

    Irmãos Marinho moram no Rio

    AbilioDiniz mora em São paulo

    Jorge Moll Filho carioca mora no RIo

    Irmãos Moreira Salles moram em SP e Rio mas a familia é carioca…;

    Walter Faria carioca mora no Rio

    Finalmente os ricos Brasileiros estão muito mais “mundilazados”  do que imaginamos……

    e a tal da “oligarquia” paulista…….  

  19. Comparacoes?

    O texto eh sim uma prococacao direta a Sao Paulo. E eh curioso alguns comentarios responderem apontando comparacoes que nao foram apresentadas pelo autor. Afinal, nao se esta colocando o nordeste, ou mesmo as oligarquias nordestinas, como bom exemplo perante Sao Paulo.

    O que acho injusto por parte do autor eh depois da critica sobre a resistencia paulista a abolicao da escravidao ja se adiantar para os politicos contemporaneos, MBL e “PMSDB”. Pulou a industrializacao? A principal fonte da sensacao de superioridade paulista e devido em parte dos imigrantes?

    Ficaram muitos outros prontos a ser tratar. Como a justificativa do desenvolvimento pautada na vinda dos imigrantes europeus (que nao acredito que eles sejam dessa forma superiores, ja que imigracao procura oportunidades, ou seja, um lugar mais facil; quem migra pra lugar pior ou eh burro ou esta procurando ouro). Tambem o argumento dos paulistas de que trabalham melhor, e quem vem de fora (como eu) nao demora pra perceber que mercado grande nao siginifica pessoas mais competentes, ha um mar de gente ignorante para aqueles que dou realmente muito valor. E a sensacao de que aqui tem mais do espirito empreendedor, que acaba muito distorcido pelo desenvolvimento do setor de servicos, adiantado em Sao Paulo em comparacao aos outros estados. Sem querer entrar na questao de se a industrializacao deveria vir antes, mas a megalomania daqui frequentemente desconsidera o crescimento dos servicos nas outras capitais, e esse crescimento abre muita oportunidade de empreeender.

  20. Eu acho que toda a oligarquia

    Eu acho que toda a oligarquia brasileira, do Oiapoque ao Chuí é o atraso. Fato é que a elite econômica do país, ao contrário da americana, é entreguista e não pensa o Brasil.

    Em cada estado a oligarquia tem suas características regionais. Atualmente a de São Paulo é a mais nefasta para o país, porque é a mais poderosa economica e politicamente. E representa o capital financeiro globalizado que boicota o desenvolvimento social brasileiro. A cara da elite brasileira é essa e a voz é a Veja. Não é o culto e nacionalista, nosso querido AA.

    PS: Poderíamos dizer que talvez a elite mais nacionalista seja a gaúcha, daonde veio Getúlio e Brizola. Mas seria um terreno perigoso que descambaria para determinismos que poderiam beirar a eugenia. Vide o tal Delagnol sugerindo que o Paraná “e superior” porque colonizado por alemães e italianos, inves de portugueses. 

  21. Eu acho que toda a oligarquia

    Eu acho que toda a oligarquia brasileira, do Oiapoque ao Chuí é o atraso. Fato é que a elite econômica do país, ao contrário da americana, é entreguista e não pensa o Brasil.

    Em cada estado a oligarquia tem suas características regionais. Atualmente a de São Paulo é a mais nefasta para o país, porque é a mais poderosa economica e politicamente. E representa o capital financeiro globalizado que boicota o desenvolvimento social brasileiro. A cara da elite brasileira é essa e a voz é a Veja. Não é o culto e nacionalista, nosso querido AA.

    PS: Poderíamos dizer que talvez a elite mais nacionalista seja a gaúcha, daonde veio Getúlio e Brizola. Mas seria um terreno perigoso que descambaria para determinismos que poderiam beirar a eugenia. Vide o tal Delagnol sugerindo que o Paraná “e superior” porque colonizado por alemães e italianos, inves de portugueses. 

  22. Conheço certos paulistas cuja

    Conheço certos paulistas cuja a mulher é quem sustenta a casa, o marido é vagabundo, a mãe do otário é velha e o filho é meio devagar quase parando. Odeiam o PT, odeiam as esquerdas, zombam de deficientes e nutrem repulsa por amor ao próximo. E no domingo vão assistir à missa e pedir benção ao padre! Esse é o típico coxinha hipócrita paulista!

  23. Conheço certos paulistas cuja

    Conheço certos paulistas cuja a mulher é quem sustenta a casa, o marido é vagabundo, a mãe do otário é velha e o filho é meio devagar quase parando. Odeiam o PT, odeiam as esquerdas, zombam de deficientes e nutrem repulsa por amor ao próximo. E no domingo vão assistir à missa e pedir benção ao padre! Esse é o típico coxinha hipócrita paulista!

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