Pau que dá em Chico, dá em Francisco

[A história do vídeo em que Serra se declara contra a criminalização da homofobia]

Em 2010, a recém-eleita senadora Marta Suplicy (PT-SP) prometera encaminhar para o Senado o PLC-122/06 (projeto de Iara Bernardi, PT-Sorocaba-SP, que previa a inclusão de orientação sexual na lei geral de criminalização de preconceitos, a 7716/89.)

Por conseguinte, pode ser que Serra tenha visto uma oportunidade de capitalizar politicamente a desinformação generalizada (plantada por Malafaia desde a aprovação na Câmara dos Deputados do projeto, ocorrida em 2009) e os medos manipulados junto a parte do eleitorado (mais ou menos o mesmo público que foi bombardeado com a novela sobre aborto.)

O raciocínio seria o seguinte: o projeto, de desagrado da Assembleia de Deus (e na época também da CNBB e da Presbiteriana, só que estas depois retiraram suas objeções), era de deputada e senadora do PT. Logo, seria defendido por Dilma. Logo, ser contrário ao mesmo traria uma vantagem política. Afinal, faltava virar uns 4 pp…

Não há informação de data, mas já vi ser mencionado que o vídeo abaixo, em que Serra deixou-se gravar dizendo que seria contrário à criminalização da homofobia, teria sido disseminado pela internet 5 dias antes do 2º turno. Tornar-se-ia assim o “defensor da família” que Dilma não era? Depois do panfleto que ela distribuiu aos milhões garantindo que não descriminalizaria o aborto?

Vimos que, se houve essa intenção, não deu certo, mas graças a essa pataquada, que evidentemente vazou para blogs e redes sociais LGBT, ele conseguiu destruir uma imagem de simpatizante que levou mais de década para formar.

Não há sentido nenhum em LGBT (ou parentes que os amam e temem por sua integridade física e moral) votar em quem é contrário à criminalização da homofobia, certo?

Critique-se o eventual oportunismo eleitoral do episódio. Mas vamos combinar: que nenhum petista que passou os últimos dois anos “detonando” o PLC 122/06 (neste blog ou em qualquer outro lugar), aproveite agora a ocasião pra falar mal de Serra. Que não digam que ele é homofóbico e coisa e tal.

Isto porque, em meados de 2011, a própria bancada do PT no Senado desestimulou Marta e o projeto. Paulo Paim (PT-RS) propôs um placebo pró-fundamentalistas que foi criticado por todos os militantes LGBT mais conhecidos (Portal MixBrasil, Luiz Mott, Jean Wyllys, Toni Reis.) No fim voltou-se ao texto relatado pela ex-Senadora Fátima Cleide (PT-RO), que é tido como superior (e concordo com isso) ao texto original de Bernardi.

E, como se sabe, por não ser interessante para o governo federal, o projeto continua engavetado. Isto é… é bacana ter tantos nomes do PT assinando um projeto simpatizante. Mas sabemos que não haverá esforço para vê-lo aprovado.

Serra não conseguiu seu objetivo então, mas Malafaia, até o momento, sim.

Então, por coerência, quem quiser aproveitar o momento político atual para criticar Serra e Malafaia, pode evoluir seu pensamento e descobrir que é favorável a direitos civis LGBT. Ou, se não o é, concorda com Serra nessa questão.

Direitos humanos vêm antes que qualquer fla x flu.

Luis Nassif

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