O responsável pela compra de pescoços de galinha superfaturados e que sequer chegaram ao indígenas, no governo de Jair Bolsonaro, foi o capitão do Exército Claudio da Rocha, que já foi acusado de assédio moral e de desvio de patrimônio de indígenas.
Denúncia divulgada nesta terça (16) pelo Estadão revelou que a Funai comprou carne de pescoço de galinha a R$ 260 o quilo, entre 2020 e 2022, e que os alimentos sequer estavam nas cestas básicas entregues aos indígenas Mura do Amazonas.
Até o ano passado, Cláudio José Ferreira da Rocha era coordenador regional da Funai na região do Rio Madeira, no Amazonas. Ele foi escolhido para o cargo pelo próprio ex-mandatário Jair Bolsonaro. E desde 2021, vem acumulando denúncias de crimes contra os povos indígenas da área.
Assédio moral
A primeira delas, registrada em março daquele ano, tratava de assédio moral.
Segundo uma liderança indígena vítima do assédio, o capitão Rocha o difamou e proibiu o acesso do representante dos povos dos territórios da região Madeira a computadores da Funai para divulgar e obter apoio a mais de 260 famílias que vinham sofrendo com a pandemia de Covid-19.
Trata-se do líder indígena Angélisson Tenharim. Ele registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil do Amazonas, narrando que o militar chegou a fazer uma comemoração de Dia das Crianças, “colocando em risco a saúde dos indígenas por meio do Covid”.
Segundo a denúncia, Rocha também proibiu Tenharim a usar os computadores da Coordenação Técnica Local (CTL) do Alto Madeira, em gesto de perseguição. O líder usava os equipamentos para buscar apoio e pesquisas de interesse dos povos indígenas.
“A Funai é uma autarquia responsável por promover as políticas públicas aos indígenas, incluindo auxílio aos estudantes indígenas por meio da (Coordenação de Processos Educativos) Cope/Funai, a perseguição e assédio moral é comigo, porque alguns servidores e terceirizados que trabalham na coordenação utilizam o computador e impressoras para estudarem e não são proibidos de fazer isso pelo coordenador”, narrava, à época, ao veículo Amazônia Real.
Desvio de patrimônio
Somente dois meses depois, o nome do capitãlo do Exército voltou a protagonizar uma nova acusação. Desta vez, de desvio de patrimônio dos indígenas.
O responsável pela Funai na região escolhido por Bolsonaro teria se recusado a entregar a indígenas do povo Mura equipamentos para o transporte fluvial das comunidades.
A compra de 5 motores de popa e 5 voadeiras, que são botes de alumínio, foi realizada em 2018, por meio de um pedido do cacique-geral Agnaldo Francisco da Costa Leite, da Terra Indígena Lago Capanã Grande, que apresentou o projeto de compra à Funai.
De acordo com as lideranças do Madeira, a compra dos botes foi feita no valor de R$ 60 mil. Mas os equipamentos nunca chegaram ou foram entregues pelo coordenador da Funai, Cláudio Rocha.
O cacique Costa Leite morreu, em 2021, de Covid-19. Segundo o filho do líder indígena, Ivan Mura, que assumiu a liderança em seu lugar, o cacique morreu “triste” com a não entrega do transporte fluvial para o povo Mura.
“O coordenador se recusa a entregar os equipamentos e o denunciamos de desvio do patrimônio à Funai”, narrou Ivan. Segundo ele, o militar disse a seu pai “que os patrimônios haviam sido comprados e estavam em Cacoal [em Rondônia], porém, não havia condições de ir buscar, até ajeitarem um caminhão”.
Indígenas Mura ficaram isolados na pandemia
Durante a pandemia, os indígenas Mura ficaram concentrados em aldeias a 36 horas de viagem de barco pelo rio Madeira até Humaitá, povoado mais próximo com alimentos e condições de sobrevivência, e que fica a 591 quilômetros de Manaus.
“Me sinto humilhado diante desta situação. Nosso povo faz de tudo para proteger a Amazônia. Lutamos pelo nosso patrimônio e aí acontece essa enganação? Nós pedimos comida, porque não temos mais dinheiro. A gente está tipo mendigando”, narrou o cacique Marcones Mura, da Aldeia São Carlos.
“Até agora nenhum servidor da Funai e nenhuma autoridade em Brasília tomou providência sobre isso”, completava Ivan Mura.
Um dia após a publicação da reportagem da Amazônia Real, com a situação vivida há meses pelo povo Mura com a falta dos meios de transportes fluviais durante a pandemia, a Funai informou ao veículo que os equipamentos já tinham sido entregues, mas “que o uso se dará mediante planejamento prévio e conforme as necessidades das etnias”.
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Pescoço de Galinha a preço de Picanha de Wagyu !!!!……pra que serve essa gente ???….