As polêmicas do militar da Funai responsável pela compra de pescoço de galinha a indígenas

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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O capitão do Exército Claudio da Rocha já fo acusado de assédio moral e desvio de patrimônio

Capitão do Exército Cláudio Rocha era coordenador da Funai no Madeira (AM) – Foto: Reprodução/Amazônia Real

O responsável pela compra de pescoços de galinha superfaturados e que sequer chegaram ao indígenas, no governo de Jair Bolsonaro, foi o capitão do Exército Claudio da Rocha, que já foi acusado de assédio moral e de desvio de patrimônio de indígenas.

Denúncia divulgada nesta terça (16) pelo Estadão revelou que a Funai comprou carne de pescoço de galinha a R$ 260 o quilo, entre 2020 e 2022, e que os alimentos sequer estavam nas cestas básicas entregues aos indígenas Mura do Amazonas.

Até o ano passado, Cláudio José Ferreira da Rocha era coordenador regional da Funai na região do Rio Madeira, no Amazonas. Ele foi escolhido para o cargo pelo próprio ex-mandatário Jair Bolsonaro. E desde 2021, vem acumulando denúncias de crimes contra os povos indígenas da área.

Assédio moral

A primeira delas, registrada em março daquele ano, tratava de assédio moral.

Segundo uma liderança indígena vítima do assédio, o capitão Rocha o difamou e proibiu o acesso do representante dos povos dos territórios da região Madeira a computadores da Funai para divulgar e obter apoio a mais de 260 famílias que vinham sofrendo com a pandemia de Covid-19.

Trata-se do líder indígena Angélisson Tenharim. Ele registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil do Amazonas, narrando que o militar chegou a fazer uma comemoração de Dia das Crianças, “colocando em risco a saúde dos indígenas por meio do Covid”.

Segundo a denúncia, Rocha também proibiu Tenharim a usar os computadores da Coordenação Técnica Local (CTL) do Alto Madeira, em gesto de perseguição. O líder usava os equipamentos para buscar apoio e pesquisas de interesse dos povos indígenas.

“A Funai é uma autarquia responsável por promover as políticas públicas aos indígenas, incluindo auxílio aos estudantes indígenas por meio da (Coordenação de Processos Educativos) Cope/Funai, a perseguição e assédio moral é comigo, porque alguns servidores e terceirizados que trabalham na coordenação utilizam o computador e impressoras para estudarem e não são proibidos de fazer isso pelo coordenador”, narrava, à época, ao veículo Amazônia Real.

Desvio de patrimônio

Somente dois meses depois, o nome do capitãlo do Exército voltou a protagonizar uma nova acusação. Desta vez, de desvio de patrimônio dos indígenas.

O responsável pela Funai na região escolhido por Bolsonaro teria se recusado a entregar a indígenas do povo Mura equipamentos para o transporte fluvial das comunidades.

A compra de 5 motores de popa e 5 voadeiras, que são botes de alumínio, foi realizada em 2018, por meio de um pedido do cacique-geral Agnaldo Francisco da Costa Leite, da Terra Indígena Lago Capanã Grande, que apresentou o projeto de compra à Funai.

De acordo com as lideranças do Madeira, a compra dos botes foi feita no valor de R$ 60 mil. Mas os equipamentos nunca chegaram ou foram entregues pelo coordenador da Funai, Cláudio Rocha.

O cacique Costa Leite morreu, em 2021, de Covid-19. Segundo o filho do líder indígena, Ivan Mura, que assumiu a liderança em seu lugar, o cacique morreu “triste” com a não entrega do transporte fluvial para o povo Mura.

“O coordenador se recusa a entregar os equipamentos e o denunciamos de desvio do patrimônio à Funai”, narrou Ivan. Segundo ele, o militar disse a seu pai “que os patrimônios haviam sido comprados e estavam em Cacoal [em Rondônia], porém, não havia condições de ir buscar, até ajeitarem um caminhão”.

Indígenas Mura ficaram isolados na pandemia

Durante a pandemia, os indígenas Mura ficaram concentrados em aldeias a 36 horas de viagem de barco pelo rio Madeira até Humaitá, povoado mais próximo com alimentos e condições de sobrevivência, e que fica a 591 quilômetros de Manaus.

“Me sinto humilhado diante desta situação. Nosso povo faz de tudo para proteger a Amazônia. Lutamos pelo nosso patrimônio e aí acontece essa enganação? Nós pedimos comida, porque não temos mais dinheiro. A gente está tipo mendigando”, narrou o cacique Marcones Mura, da Aldeia São Carlos.

“Até agora nenhum servidor da Funai e nenhuma autoridade em Brasília tomou providência sobre isso”, completava Ivan Mura.

Um dia após a publicação da reportagem da Amazônia Real, com a situação vivida há meses pelo povo Mura com a falta dos meios de transportes fluviais durante a pandemia, a Funai informou ao veículo que os equipamentos já tinham sido entregues, mas “que o uso se dará mediante planejamento prévio e conforme as necessidades das etnias”.

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Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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