O desmonte por trás da parceria de “inovação” entre Tarcísio e o Google

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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Segundo SINTPq, iniciativa que entregou prédio histórico do Instituto de Pesquisas Tecnológicas a BigTech é “privatização disfarçada”

Edifício histórico “Adriano Marchini” foi o local escolhido para sediar o centro de engenharia da Google. | Foto: Divulgação/IPT

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), anunciou com entusiasmo uma “parceria estratégica” com o Google “para impulsionar inovação no estado”, em uma solenidade no Palácio dos Bandeirantes, no dia 21 de fevereiro. Contudo, o Sindicato dos Trabalhadores em Pesquisa, Ciência e Tecnologia (SINTPq) alerta que a ação tem como plano de fundo a submissão do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) à gigante das buscas.

Um dos pontos altos da parceria prevê a criação do segundo “centro de engenharia” do Google no Brasil, que deve ser construído no campus do IPT, localizado na Cidade Universitária. Com isso, supostos 400 funcionários da BigTech devem ocupar o prédio 1 da entidade, o edifício histórico “Adriano Marchini”. Para isso, foi autorizada a transferência da biblioteca do IPT para outro local. 

Segundo a avaliação do SINTPq, esse e outros pontos do acordo levantam dúvidas sobre os reais impactos positivos da parceria, que “parece mais uma privatização disfarçada do instituto público de pesquisas”. 

A reforma desse prédio para acomodar os interesses da Google levanta questionamentos sobre os verdadeiros benefícios para a instituição. O investimento anunciado pela Google não se reverte em melhorias para o IPT, mas na valorização imobiliária para a multinacional”, afirma Priscila Leal, diretora do SINTPq. 

Leal destaca que o prédio escolhido para sediar o centro de engenharia da Google é “parte fundamental do patrimônio histórico do instituto, tendo abrigado importantes laboratórios de pesquisa que contribuíram significativamente para o desenvolvimento industrial brasileiro”. Sendo assim, “a iniciativa é um contraponto ao discurso oficial de desenvolvimento, sendo na verdade um ato de submissão aos interesses do capital estrangeiro e das grandes empresas de tecnologia”, alerta. 

A expectativa é que o centro de engenharia da Google comece a operar em 2026. Para o sindicato, “essa data representa não apenas o início de uma nova fase para o IPT, mas também o aprofundamento de um processo de desmonte que ameaça a própria existência e relevância do instituto na cena científica e tecnológica nacional”. 

Na esteira da concessão da sede do IPT, o sindicato também contesta a promessa de que a Google deve apresentar soluções inovadoras ao setor, uma vez que investimentos em Ciência e Tecnologia são prioritariamente financiados pelo Estado. 

A parceria com a Google não apenas ignora essa premissa básica, mas também não se traduz em benefícios concretos para a instituição de pesquisa (…) É sempre uma dificuldade muito grande conseguir aprovação para realização de concurso público. O último grande concurso foi fruto de denúncia do Sindicato ao Ministério Público sobre a terceirização da atividade fim, e já se vai mais de uma década. Enquanto isso, o governo de São Paulo entrega o IPT para iniciativa privada, sob o pretexto da lei paulista de inovação. O IPT vem abrigando diversas empresas em seu campus, inclusive uma universidade foi instalada lá. Agora é a vez da Google entrar pela porta da frente e ocupar um patrimônio histórico dentro do IPT”, completa Leal.

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31 Comentários

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  1. O Google faz estas parcerias mundo afora.

    Até onde isto não é apenas uma implicância política (Tarcísio) ou por ser uma bigtec capitalista ?

    Não conheço detalhes da parceria para julgar todavia.

    1. Faltou complementar. Mentalidade tacanha às vezes dá nisso.Reportagem da Época:
      Nascia então a Akwan – o nome quer dizer “ligeiro”, em guarani. Além de Berthier, a sociedade tinha os professores Alberto Laender e Nivio Ziviani, os investidores Ivan Moura Campos e Guilherme Emrich e cinco alunos. Todos rasparam suas poupanças e chegaram a um investimento inicial de US$ 500 mil. Mesmo com um aporte de R$ 5 milhões feito pelo investidor Marcos Regueira meses depois, era urgente buscar mais capital. A primeira ideia foi recorrer ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Hoje, a resposta soa irônica. “O banco respondeu que internet não era negócio”, diz Berthier, rindo. No primeiro ano, a Akwan não gerou um real, enquanto o volume de buscas crescia 15% ao mês.

  2. Parabéns pela parceria. O IPT é a USP devem servir ao progresso e à sociedade brasileira. O trabalho com o Google vai recuperar o brilho do IPT.

  3. O mundo é movido por resultados, quais resultados o IPT trouxe para o povo paulista nos últimos anos? Quanto isso custou?
    Acho que, para a matéria ser completa, deveria argumentar os benefícios da existência do instituto, e depois contrapor as perdas dessa nova parceria.
    Para mim é, visivelmente, uma matéria de cunho crítico político ao governador, sem um mínimo de fundamento palpável, como a esquerda sempre faz…

  4. O mundo é movido por resultados, quais resultados o IPT trouxe para o povo paulista nos últimos anos? Quanto isso custou?
    Acho que, para a matéria ser completa, deveria argumentar os benefícios da existência do instituto, e depois contrapor as perdas dessa nova parceria.
    Para mim é, visivelmente, uma matéria de cunho crítico político ao governador, sem um mínimo de fundamento palpável, como a esquerda sempre faz…

  5. O IPT precisa entrar na era da informação. A parceria trará conhecimento e empregos na área!

    Aprovo a parceria

    Sou engenheiro de produção da POLI de 1987 e trabalhei vários anos no IPT

  6. Essa é a eterna disputa entre o avanço e os que que que querem manter os privilégios a custa do atraso. Definivamente a esquerda se perdeu. Hoje se resume a isso: voto de cabresto com bolsas, teorias econômicas que fracassaram com a Dilma e no resto do mundo, e a casta de nobres ( políticos ,apadrinhados e altos funcionários publicos) sugando motoristas de uber e afins, com impostos abusivos

  7. Mais um Motivo para celebrar a parceria. Artigo revela a mentalidade puramente ideologica e auto-consumida do ipt.
    Nao tem sequer um argumento contra a parceria do ponto de vista de resultado do IPT para a sociedade (as pesquisas que farao, os resultados que trarao). Os unicos argumentos contrarios sao de tradicao, “privatizacao disfarcada, “tomada de poder”. É sindicalista e funcionario publico acomodado com medo de perder a boquinha

  8. Que eu me lembre, assim começou na UFMG em 2007. A crítica será valida se apontar o que de ruim irá v trazer. Pra UFMG e BH foi muito bom.

    O Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (DCC-UFMG) acaba de fechar uma parceria de programa de residência em computação com a Google para o primeiro semestre de 2007. O programa, proposto pelo Synergia, laboratório de Engenharia de Software e Sistemas do DCC, visa propiciar aos participantes uma formação abrangente e sólida, por meio de um processo de formação organizado e consistente.

    O órgão trabalha em colaboração com empresas e instituições públicas e privadas, realizando pesquisa e desenvolvimento, como uma fábrica de software e presta consultoria e treinamento na área. A coordenação é realizada por professores pertencentes ao Departamento

    O Programa de Residência do DCC em parceria com a Google tem como objetivo capacitar profissionais de Tecnologia da Informação e alocar os residentes nas áreas afins da empresa. A duração do programa é de quatro meses, sendo que nesta turma serão beneficiados dez profissionais já selecionados pela Google e DCC.

    O início do Programa de Residência é no dia 12 de março de 2007 e os coordenadores são os professores do DCC, Geraldo Robson Mateus e Antônio Alfredo Loureiro. A primeira turma da residência já está fechada e já estão previstas novas turmas do programa.

    Residência
    O Programa de Residência em Computação surge da necessidade de estruturar, formalizar e dar continuidade à formação de profissionais de alto nível técnico. É inspirado em programas de residência utilizados na área médica, para complementação e especialização da formação de pessoal recém-graduado.

    Existem duas modalidades de Programa de Residência: a Residência Padrão, de acordo com um processo padrão definido pelo Synergia e a Residência Personalizada, direcionada a necessidades específicas, ambas podendo ser oferecidas em contrato de patrocínio com uma ou mais organizações parceiras.

    A primeira edição do Programa de Residência será realizada no formato personalizado em parceira com a Google.
    No segundo semestre de 2007 o Synergia oferecerá também o Programa de Residência Padrão em Engenharia de Software, com o formato e conteúdo definidos pelo próprio laboratório. As empresas interessadas em participar podem entrar em contato com o Laboratório Synergia pelo email: [email protected]. (Gerência de Divulgação e Marketing do DCC)

  9. Gostaria muito de saber como foi o resultado de outras no parcerias, que estejam enquadradas em moldes parecido com o firmado entre o Google e o governo paulista.
    Quanto a biblioteca eu penso que o IPT só deveria permitir o acesso do Google a qualquer documento, estudo, projetos, etc depois de fazer o pedido oficial informando o que deseja ter acesso e aguardar por uma autorização ou não, por parte do IPT.
    Toda parceria com empresa norte americana tem que ser vista sim, com prudência e desconfiança.
    A espionagem norte americana contra o Brasil é tamanha,que preenche um livro bem recheado de páginas e assuntos.
    O debochado abuso de espionagem contra o governo Dilma é uma amostra da arrogância deles, e o Google que o diga.

      1. Vamos lá, desconhecia ou não lembrava do IPT até esta matéria, conhecia o Google, não digo que a coisa é ruim sem estudá-la de forma minima , considero válida quem é contra a priori por ser um empresa estrangeira em setor estratégico.

        Louvo ver esta matéria aqui pois assino (acho que vou cancelar) um jornal do Rio e fico sabendo de “tetra” no BBB mas nada perto disto.

  10. A maioria dos comentários são favoráveis à parceria, como deveria de ser, afinal trata-se de motivo a comemorar e elogiar a iniciativa. Nas grandes universidades mundo afora esse tipo de parceria é cada vez mais comum. Posicionamento político e corporativo vai contra o desenvolvimento do conhecimento. Parabéns.

  11. Entendo também, que mais importante e prioritário não é a questão de governo de direita ou esquerda, mas quem é, o que é, e que eu tipo de reação e comportamento a parceria produz e adota, quando está sob crítica e quando é obrigada, por lei, a prestar contas ou prestar informações sobre suas ações reclamadas e/ou denunciadas.
    O Google já arranhou sua imagem quando retardou a fez picuinhas para tentar não fornecer informações exigidas pela justiça brasileira.

  12. Ótima parceria, o Brasil precisa evoluire acabar com este órgão que só presta para cabide de empregos e retrocessos sindicalista.
    Parabéns Tacircio, esperamos vc para presidente do Brasil, mudar de vez este sistema arcaico.

  13. Pelos comentários se percebe que o entreguismo contaminou muita gente. Já imagino a China entregando um centro de pesquisa para a Google. Só na cabeça de alguns que isso significa progresso e desenvolvimento.

    1. Diga-se isto então , o problema é o Google, é uma opinião válida.

      Precisamos então definir de onde sairá o dinheiro para financiar nossa tecnologia.

      Não temos nem uma cultura privada para se criar um MIT ou Caltec nem um Estado que fomente inovação.

      1. Temos capacidades a serem desenvolvidas aqui mesmo. Por que não investir em pesquisa própria ou ao menos procurar parceiros mais confiáveis?

  14. Essa submissão disfarçada de convênio nada mais é que manutenção de controle via espionagem sobre a ciência aqui desenvolvida. Vejamos o exemplo da parceria Boeing Embraer no deu!

  15. Matéria de Sindicato. Eles defendem o deles, se não tiver funcionários público no IPT, não entra grana no sindicato. Melhor seria uma reportagem sobre o acordo, qual a contrapartida da Google ao IPT/USP. Uma já é visível: a engenharia do Google criando dentro do Campus da USP, ao lado da Escola Politécnica. Que de muitos frutos.

  16. Como tem gente ignorante (ou robôs) seguindo essa página. É impressionante a falta de habilidade na língua portuguesa e na capacidade argumentativa. Boa parte dos comentários é cópia de buscas na internet.

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