Das tragédias familiares sem ganhadores

Por Zé

Nassif,

Trago um caso pessoal apenas no intuito de contribuir para promover algumas reflexões. Escrevo sob pseudônimo para tentar evitar expor as pessoas envolvidas, mas espero que meu filho, que é leitor e comentarista eventual aqui do blog, se ler este comentário me perdoe por expor o caso.

Meu filho faz pós-graduação no exterior há dois anos e meio. Desde sempre o projeto dele foi de retornar ao Brasil tão logo conclua o doutorado, pois aqui tem seus pais, irmãos, tios, primos, toda a família enfim, além dos amigos desde a infância até a faculdade.

Há pouco mais de um ano passou a namorar uma moça e, pouco tempo depois, passaram a viver juntos. Embora ambos se gostem, ele sempre deixou claro para ela qual era seu projeto de vida. Chegaram a cogitar de ela vir morar no Brasil, caso o relacionamento continuasse sólido.

Recentemente, por (ir)responsabilidade de ambos, ela engravidou. Imagine a angústia que tomou conta de ambos e de seus familiares. Discutiram a possibilidade de um aborto, legal e seguro no país onde vivem, mas ela se recusou.

Depois de muito sofrimento, horas de conversas ao telefone comigo, com a mãe e irmãos, inúmeros e-mails, ele decidiu que assumiria sua responsabilidade e ficaria ao lado dela, pois essa foi a educação que ele recebeu dos pais. Com a ressalva de que mantém seu projeto inicial de retornar ao Brasil quando concluir seus estudos.

Não precisa ser nenhum gênio para perceber aonde isso vai dar: quando a criança estiver com 3 ou 4 anos ela será separada do pai. É uma situação típica em que todos serão vítimas e sofrerão as consequências: ele, por não poder exercer plenamente a paternidade, tendo de se contentar em visitar o filho no máximo anualmente (isso se a sua situação econômica permitir); a mãe, que terá que arcar com os custos emocionais, e talvez financeiros, de criar um filho sozinha; e a criança, que não terá o pai presente na fase mais importante de seu desenvolvimento.

Há outras possibilidades, menos dramáticas, como a de ele optar por seguir vivendo no exterior, ou dela vir junto com ele para o Brasil, refazer sua vida profissional por aqui e viverem felizes para sempre. Mas, honestamente, eu não creio muito nessas possibilidades, pois um dos dois teria que abdicar de viver em seu país, junto aos seus familiares e amigos.

Mesmo que isso venha a ocorrer, não há garantias de continuarem juntos; podem vir a se separar, coisa bastante corriqueira por sinal, ainda mais considerando que há uma diferença de idade significativa entre ambos, ele sendo muito mais jovem do que ela. Se uma separação já é difícil para uma criança, mesmo que os pais continuem sendo amigos e vivendo na mesma cidade, o que possibilita o contato freqüente com o pai que não detém a guarda, imagine com os pais vivendo a milhares de km de distância um do outro.

Fico, então, imaginando como deve ter sido difícil a vida dos envolvidos no caso do garoto Sean, principalmente a do pai. Imagino meu filho voltando para o Brasil, trazendo o filho para visitar os avós e decidindo quedar-se por aqui com a criança. Imagino a mãe entrando numa batalha jurídica para reaver seu filho e conseguindo seu intento na Justiça quando a criança já tiver com 8 anos e tiver mais vínculos com seus parentes paternos do que com os da mãe. Que fale com fluência o Português e pouco da língua materna.

Imagino, no caso do garoto Sean, o quanto a situação se complicou com os fatos subseqüentes, o novo casamento da mãe, o nascimento de um irmão, o falecimento da mãe. Como decidir o que é melhor para a criança, sem levar em conta os sentimentos do pai? Como deve se sentir um pai ao ver seu filho sendo criado por outro homem contra sua vontade?

E se, numa fatalidade, o mesmo ocorresse em relação ao meu filho, como se sentiria a mãe, que batalhou tanto para ter essa criança e, de repente, a visse sendo criada por uma estranha, contra seu desejo, vontade e determinação de ter o filho junto a si?

Infelizmente, não há ganhadores nessa história.

Luis Nassif

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