Pilar Del Río e Beatriz Matos se encontram na Amazônia em um ato contra o silêncio

É como a presidente da Fundação José Saramago define o diálogo com a antropóloga e companheira de Bruno Pereira, assassinado com Dom Phillips, no Vale do Javari.

Cláudio Ferreira / UFPA

 Pilar Del Río e Beatriz Matos se encontram na Amazônia em um ato contra o silêncio

Por Erika Morhy, de Belém ([email protected])

Especial para GGN

“É muito indignante você ouvir ‘esse lugar é perigoso, tem que andar com escolta armada’. Não! Aquele é um lugar de vida, de pessoas, de famílias. Não tem que andar com escolta armada. Se tem que andar com escolta armada, tem um problema sério que tem que ser solucionado”. As palavras irredutíveis são da antropóloga Beatriz Matos, professora da Universidade Federal do Pará (UFPA) e companheira do indigenista Bruno Pereira, assassinado junto com o jornalista inglês Dom Phillips, no Vale do Javari (Amazonas), no último dia 5 de junho. O tom de indignação era pouco evidente, até então, na fala pausada que a mineira de Belo Horizonte compartilhava com a jornalista sevilhana Pilar Del Río, presidenta da Fundação José Saramago, durante encontro intimista promovido pela maior instituição de ensino superior da Amazônia, na noite do dia 19 de agosto, no Teatro Universitário Cláudio Barradas, em Belém.

Beatriz Matos fala sobre o território com a propriedade de quem já morou mais tempo na região do que na própria capital paraense e se referiu a manifestações proferidas, especialmente, pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, mas também por Marcelo Xavier, presidente da Funai, órgão público a que serviu Bruno Pereira.

“Fico imaginando uma mãe de família, que nem eu, que escuta isso das pessoas como se fosse naturalizável. Se tem algum lugar que é assim, isso tem que mudar, isso tá errado. E as pessoas que não estão lá pegando em armas, que estão levando seus filhos na escola? Levando sua mãe pro hospital?”, questiona.

O encontro com Pilar, em um espaço reservado para não mais que 50 pessoas convidadas, foi a primeira exposição pública de Beatriz sobre o tema. Foram muito poucas as entrevistas que já deu. “Não fico confortável, é difícil, mas, ao mesmo tempo, tem uma urgência, tem uma necessidade”, justifica a jovem de 43 anos de idade e mãe de dois meninos com Bruno – um de 4, outro de 2 anos.

A ocasião marcou ainda o início da agenda de Pilar ao chegar na cidade, a fim de prosseguir com o calendário de programações relativas ao centenário do único Nobel de Literatura da Língua Portuguesa e que teve lugar na UFPA, na semana seguinte. Mais que promover a obra do escritor nascido em Azinhaga, promover a essência profundamente humana, crítica e libertária do seu pensamento é um dos principais elementos destacados pelo reitor Emmanuel Zagoury Tourinho sobre a jornada, tendo uma frase do próprio escritor como título do encontro entre Beatriz e Pilar: “Por um direito que respeite, uma justiça que cumpra”. O apelo foi pinçado do Prefácio assinado por Saramago na obra Terra, de Sebastião Salgado, e o resultado da conversa transmitida online pode ser conferida no canal oficial da universidade no Youtube, onde ficou gravada.

Trocando em miúdos, o reitor – anfitrião do 10º Fórum Social Pan-Amazônico, junto com o prefeito de Belém Edmilson Rodrigues, em julho deste ano – afirma que “a gente busca ser uma universidade de excelência, mas, para nós, só importa ser uma universidade de excelência se for uma universidade que faça a diferença para os povos da Amazônia. Então nós precisamos estar atentos a todos esses acontecimentos graves que estão ocorrendo na nossa região, que não são de hoje, mas que se agravaram muito nos últimos anos. Temos que procurar intervir dos modos que estiverem ao nosso alcance. Uma das maneiras de fazer isso é dando voz às pessoas que, na região, lutam pelos direitos dos povos tradicionais, lutam pela conservação da floresta, e contribuir para que as suas vozes sejam ouvidas dentro da Amazônia, no país e fora do país”.

Um dos acontecimentos a que se refere é exatamente o crime que vitimou os dois profissionais. “Acompanhamos com enorme apreensão e indignação o desfecho desse crime cometido contra o Bruno e o Dom, e agora cobramos apuração, punição dos responsáveis e, mais do que isso, que o Estado brasileiro assuma a responsabilidade que é sua de garantir que as pessoas que estão na Amazônia vivam com segurança”.

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Um ato contra o silêncio

Se Beatriz demonstrou ainda estar intrigada com muitas questões relativas ao assunto, indignada com a postura do Poder Executivo, surpresa com tanto acolhimento e encantada com a riqueza da Amazônia, Pilar assumiu o lugar de jornalista imensamente delicada com sua interlocutora. Trouxe do continente europeu, com idioma marcadamente espanhol e desde uma outra geração, na medida de seus 72 anos, a suavidade da certeza sobre o que a une a Beatriz. “Ambas compartilhamos projetos. Ela compartilhava um projeto com o companheiro dela. Não era só um companheiro sentimental, mas um companheiro de vida, de militância. No meu caso também. Era um companheiro sentimental e era um companheiro de militância, era um companheiro de projetos”, comenta, em entrevista concedida após cerca de 50 minutos de conversa com a antropóloga.

Pilar inicia a programação lendo algumas de suas reflexões sobre a conjuntura tão dramática. “Os seres humanos somos diferentes de outros seres vivos porque temos razão e consciência. Razão para refletir. Consciência para distinguir o bom do mau. Este ato hoje, aqui, é um ato de reivindicação da razão e da consciência. É um ato contra o silêncio, que tudo corrompe e tudo mata. O poder, o sistema quer cidadãos submissos, silenciosos, conformados, resignados. Não conseguirá enquanto houver valentes, pessoas cultas e pessoas decididas”, sentencia.

A jornalista e tradutora já acompanhava o caso desde o início, assim como outras personalidades internacionais. “Na Europa, acompanhamos com inquietude, com ansiedade, a situação de Bruno e de Dom, quando estavam desaparecidos. Foi massacrante saber que não estavam mortos, que tinham sido assassinados”. Com carinho, Pilar entrega a palavra a Beatriz: “Quando Bruno teria completado 42 anos, há 3 dias, neste momento, como estás?”.

O público ouve em silêncio contrito, tendo à frente, além das duas protagonistas da conversa, a imagem de Bruno e Dom fixadas ao fundo do cenário. “Não ´tô mais na suspensão total que foi o desaparecimento, as buscas, a certeza da morte, tudo isso, o funeral… eu ´tô um pouco voltando pra rotina, mas, ao mesmo tempo, parece que ´tá doendo mais agora do que antes, porque a gente vai sentindo mais a ausência. E, realmente, momentos como estes, Dia dos Pais, aniversário dele, enfim… é difícil”.

A urgência

Antes de responder, Beatriz fez o que definiu como uma parêntese longo, para expressar sua gratidão e reiterar a urgência de fazer ecoar o pleito desdenhado pelo Governo Federal. “Entendo que é uma maneira de levar pra frente essa questão, de que as pessoas escutem, vejam este vídeo, porque é necessário que não seja esquecido. Muitas vezes, as injustiças neste país vão sendo esquecidas, as pessoas vão perdendo o interesse, vai acontecendo a impunidade. Foi muito importante o tempo todo o fato de ter muita gente vigilante, atento, na época das buscas. Foi a cobrança de muitas pessoas, muitos ativistas, de muitos indígenas, que permitiu que as buscas fossem feitas. Importante dizer que, desde o primeiro momento, os indígenas do Vale do Javari procuraram Bruno e Dom. Desde o primeiro momento do desaparecimento deles. Mas as autoridades demoraram. As autoridades brasileiras demoraram 3, 4 dias. Foi por causa da pressão nacional e internacional que isso aconteceu”, explica.

A antropóloga acrescentou que, iniciativas como a da noite no teatro universitário, têm importância “não só pra que o crime em si seja solucionado; pra que as pessoas que o cometeram e a rede, a cadeia de crimes que proporcionou que esse crime acontecesse esteja desmantelada. Isso é fundamental. Mas é importante também que isso não se repita”.

A força da solidariedade

Beatriz se revela surpresa com a amplitude das manifestações de apoio a ela. “Pra mim, é muito incrível ´tá aqui na sua frente, conversando com você, fico imaginando: nossa, isso mostra a força da história dele, do Dom, não sei. Ainda vou entender essas coisas, ainda não entendi. Mas, sobretudo, em relação aos povos indígenas, é uma coisa que me comove muito”.

Ela exemplifica as inúmeras demonstrações de solidariedade que têm se dado desde as buscas por Bruno e Dom até o presente momento. “Hoje mesmo [19] eu falei com uma turma de Antropologia da Ufam [Universidade Federal do Amazonas] e tinha o centro acadêmico indígena, que prestou uma homenagem ao Bruno. O presidente do centro acadêmico indígena da Ufam falou: ele agora é nosso também”.

Beatriz se confessa impressionada com a diversidade de indígenas a seu lado e fecha os olhos ao lembrar de cada momento. “Na época das buscas, foi o tempo todo fazendo manifestação. E, quando confirmou a morte, eu recebi vídeos de inúmeros indígenas do Vale do Javari, pessoal fazendo ritual… O que eu acho mais inacreditável, que eu ainda ´tô tentando entender, é de outros lugares do Brasil. No funeral do Bruno [em Recife/PE], os Xukuru, os Pankararu foram lá, os Fulni-ô prestaram uma homenagem lindíssima. Falaram: ó, nós estamos em ritual desde às 4 da manhã. O cacique Marcos Xukuru falou comigo, ‘nós estamos desde 4 da manhã cantando, rezando’. É muito comovente, porque isso mostra que o trabalho do Bruno, de alguma forma, conectava verdadeiramente com a luta dos povos indígenas”.

Lideranças políticas não indígenas também expressaram condolências e preocupação com o caso. Beatriz cita o primeiro-ministro inglês Boris Jhonson e o ex-presidente Lula, que ligou pra ela quando estava em Recife, cidade natal do indigenista, para preparar o funeral. “Eu falei pra ele: eu quero um compromisso do senhor com os povos indígenas isolados, com a causa do Bruno, com a causa indígena. Ele falou isso, que ele vai ´tá, sim, comprometido. Falou que queria encontrar comigo, me ver quando tiver oportunidade. Ele foi muito gentil, muito humano de me prestar essas condolências”.

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Indignação

Pilar quis saber se, por outro lado, Beatriz teve algum dissabor nestes momentos e as primeiras palavras da antropóloga foram duras de concatenar. “O nosso presidente [Jair Bolsonaro] não só não mostrou o devido respeito com uma morte trágica dessa como ainda por cima ironizou, insinuou coisas, falou absurdos. O presidente da Funai… o Bruno era funcionário da Funai e dedicou literalmente a vida ao trabalho dele. E, antes de ser assassinado, ele dedicava a vida à Funai, ele era muito dedicado. O presidente da Funai também insinuou coisas, falou coisas totalmente indignantes. Tá abaixo do nível do possível… não tenho nem palavras pra dizer”.

A jornalista acolhe o desabafo e abre espaço para que sua interlocutora expresse com fôlego sua estupefação. “O próprio presidente Bolsonaro falou que ‘andar naquele lugar sem escolta armada, num lugar perigoso daquele…’. Primeiro que ali vivem pessoas, famílias, crianças… escola… Não é um lugar perigoso. É um lugar dentro do território nacional. O absurdo de um presidente falar que qualquer lugar dentro do território nacional precisa de escolta armada e falar isso como se ele não pudesse fazer nada!”.

Beatriz expõe a diferença de tratamento sobre o caso. Lembra que foi a um ato em São Paulo, na Catedral da Sé, e recebeu o abraço de uma mulher que havia perdido dois filhos em um massacre protagonizado pela polícia. “Ela me cumprimentou como… ‘olha, as pessoas não podem ser matáveis’. E, nesse país aqui, têm parcelas da população que é como se fossem. É como você falou do voto, você precisa ter lideranças, quem nos governa precisa não naturalizar mais isso. Ao contrário, combater essa ideia, que existem pessoas matáveis no país”.

Pilar havia destacado a responsabilidade dos cidadãos com o voto que entregam nas urnas, lembrando que a Fundação José Saramago tem, dentre seus norteamentos, a difusão do sentido de direitos e deveres humanos e o cuidado com o meio ambiente. Compreensão de vida que os indígenas têm de sobra, considerando mais um dos exemplos citados por Beatriz.

Sabedoria indígena

A antropóloga relembra a postura dos indígenas quando houve a demora na chegada de Bruno e Dom à Atalaia do Norte. “Desde o primeiro momento que o atraso aconteceu – sabiam que era pra chegar 9 da manhã – quando foi uma da tarde, eles já estavam procurando. Na época das buscas, muitos indígenas do Vale do Javari desceram, saíram das comunidades e foram ou pro local das buscas ou pra Atalaia do Norte. Foi uma mobilização. Eu via. Recebia vídeos. A própria equipe de vigilância do Vale do Javari – que ele ´tava trabalhando com eles – eles ficaram… acamparam no mato, não foram pra casa”.

Beatriz recebeu telefonema de Beto Marubo, membro da organização indígena Univaja, no mesmo domingo (5) em que a dupla deveria ter chegado à cidade e que, por fim, se soube que também foi o dia do assassinato. Uma equipe da organização já iniciaria a terceira busca do dia ao longo do percurso que deveriam ter percorrido Bruno e Dom.

“Foi, na verdade, um indígena Matsés, da equipe de vigilância, que se chama Rodrigo, ele foi quem viu a beira, o mato, os galhos retorcidos de uma maneira estranha. Foi ele que viu que a lancha do Bruno entrou. E foi esse olhar, que só um indígena tem de ver essa diferença sutil na margem, que permitiu que eles encontrassem o lugar que ´tava os objetos deles”.

A dedicação

Beatriz afirma que, para Bruno, “a questão era, sempre foi, trabalhar a proteção do território, do entorno; a conversa com outros povos indígenas não isolados, outros povos que vivem na região próxima aos isolados, no entorno mesmo, pra que houvesse esse entendimento de que, bem, a política brasileira determina que essa é a política do não contato. Você respeita essa recusa expressa pelos povos isolados de uma maneira como ele se expressa, uma maneira que cabe a nós traduzir, compreender; que se respeite esta recusa e se respeite a territorialidade que esses isolados determinam pra si, muitas vezes através de sinais”. Os indígenas, reitera, sempre monitoraram e monitoram seu território, Bruno estava dedicado a apresentar novas tecnologias para que eles seguissem desempenhando seu trabalho. Parceiro desde outras expedições, Dom Phillips acompanhava Bruno para registrar e difundir experiências de proteção da Amazônia.

“A quem incomodavam Bruno e Dom?”, questiona Pilar. “Essa é uma questão que eu penso quase todo dia. Muitos colegas, todo mundo que trabalha com essa questão, pensa sobre isso quando pensa no que aconteceu. É o trabalho do indigenista e o trabalho do jornalista que cobre Amazônia. É o nosso trabalho”.

Amazônias

“Qual a Amazônia que carregas dentro de ti?”, indaga a jornalista, em sorriso poético. Beatriz garante que não é nada fácil descrever e aposta na descrição pungente de sua experiência junto à tríplice fronteira Brasil-Peru-Colômbia.

“Esse lugar é absolutamente cosmopolita. É uma diversidade que você nem espera. Você tem pessoas que vêm desde o Alto Putumayo, da Colômbia, que sofreram todo aquele massacre da Casa Arana, da época do caucho, e desceram e foram parar em Letícia; você tem os Kokama; você tem os descendentes de cearenses, das pessoas que foram explorar borracha, que são migrantes do nordeste pra lá; você tem um monte de gringos, ayahuasqueiros; você tem diversas religiões, que eu não vou saber nem te descrever, eu tive contato com algumas; mas também várias denominações de pessoas que tomam ayahuasca; vários tipos de igrejas pentecostais de tudo quanto é tipo; você tem movimentos messiânicos católicos, que as pessoas andam vestidos como São Francisco…. É um lugar que, primeiro, isso, transpira muita religiosidade. É impressionante!”.

Em segundo lugar, Beatriz se reporta ao imperativo da floresta em si. “Ali é Alta Amazônia, uma Amazônia em que as árvores são imensas, os rios são barrentos, são enormes, são marrons, então é muita vida! Muito peixe! Você pode passar um mês comendo peixe, você nunca vai comer o mesmo que você comeu ontem! Eu nunca vi isso! Cada dia um peixe diferente, durante dias seguidos. Uma riqueza, uma vida…”.

“E quem detesta tanto isso que tem de destruí-lo?”, lança Pilar, como a traduzir uma inquietação coletiva. “Só não é ambientalista quem não conhece! Basta você conhecer pra ver a riqueza daquilo ali. Quem acha que Amazônia é só mato, que os povos indígenas são primitivos, estão lá igual a idade da pedra, igual você vê, às vezes, frases assim. Ou quem acha que não tem vida, inteligência, conhecimento, vanguardismo… a arte lá é hiper de vanguarda, a moda, tudo o que você quiser, tá anos luz… eu acho, porque, inclusive, vai um outro artista esperto, lá do Sul, capta isso e outras pessoas se encantam. Quem se deixa guiar pelo seu preconceito e não conhece é que pode achar que aquilo ali não tem valor. E, claro, ou quem é enfeitiçado pelo dinheiro, pelo capitalismo”, sacramenta Beatriz.

Há um custo destruir a Amazônia. “Se os Yanomami acabarem, o mundo acaba. Isso aí é quase que literal. É a sabedoria xamânica. Eles estão falando pra gente algo muito real, que é: se os povos indígenas acabam – que é quem promove essa diversidade biológica, botânica, tudo o que você quiser… são eles que fizeram a Amazônia como ela é – se eles acabam, a Amazônia acaba e todos nós acabamos. O céu vai cair sobre nossas cabeças”.

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O futuro da Amazônia

A preocupação com um futuro próspero para a Amazônia também ficou expressa na gentil pergunta de Pilar à Beatriz, encerrando a programação como iniciou, encharcada de afeto: “Como estão teus filhos?”.

Com suavidade na voz, Beatriz explica que “eles estão bem. Voltaram recentemente pra escola, estão retomando a rotina deles. Eles falam do pai, eles sabem o que aconteceu. Eu tive que explicar pra eles. Eles sabem. Portanto, eles não perguntam sobre o pai. Eles relembram o pai. Eles falam o que o pai gostava de fazer. Veem algo e dizem: o papai que come isso; o papai que faz essa comida. Eles estão fazendo a parte deles pra digerir e rememorar. Eles me surpreendem, eles são muito alegres, brincam… são crianças. Brincam, estão felizes que estão na escola. São crianças e, de vez em quando, soltam alguma coisa que… é duro ouvir, mas você vê que eles estão processando”.

Em entrevista após o diálogo com Pilar, Beatriz acrescenta algumas palavras sobre a importância das manifestações públicas em apoio a ela e celebração ao legado do indigenista. “Tem ainda pra mim essa questão que eu penso muito, que é a memória para meus filhos. Como é que as pessoas vão falar do Bruno? Como é que eles vão ver a história do Bruno daqui a alguns anos? Eu penso nisso. Meus filhos são pequenos, mas, quando estiverem adolescentes, como é que vão ouvir essa época quando souberem o que aconteceu? Como é que vai aparecer pra eles as notícias?”.

Seu desejo é de “que eles vejam que uma pessoa como a Pilar homenageou o pai. Quando eles verem que a universidade fez isso… Quando eles verem artistas falando. Quando eles verem os povos indígenas honrando, homenageando o pai. Isso é uma construção da memória do pai que acho, na minha cabeça, um pouco mais bonita do que ‘meu pai foi assassinado brutalmente’. Essa imagem de força do pai deles, de importância do pai deles, acho que isso tudo vai ficar pra eles”.

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