Cunha e como a perversão se expressa na política, por Eliane Brum

Jornal GGN – Em sua coluna na versão brasileira do El País, Eliane Brum analisa e questiona a razão pela qual Eduardo Cunha (PMDB), presidente da Câmara dos Deputados, permanece como um personagem central na vida política, mesmo depois das denúncias sobre suas contas na Suíça. Para Eliane, “até o mais obtuso sabe” que o deputado continua no centro dos holofotes porque “ainda tem utilidade para os projetos de poder de um lado e de outro”, argumentando que, entres os dois lados, não há oposição, já que a pauta conservadora já foi estabelecida e o que se disputa “é o poder de executá-la”. Leia mais abaixo:

Do El País

Eduardo Cunha, o nosso vilão do Batman
 
Como a perversão se expressa na política e submete os brasileiros à farsa levada ao status de realidade
 
Eliane Brum
 
A sensação é cada vez mais estranha ao se abrir os jornais, ligar a TV no noticiário ou acessar os sites de notícias da internet. Dia após dia,Eduardo Cunha (PMDB-RJ) diz isso, afirma aquilo, declara aquele outro, alerta e ameaça. E nega as contas na Suíça. Tem lá sua assinatura, seu passaporte diplomático, seu endereço. Mas ele nega. O fato de negar o que a pilha de provas já demonstrou inegável é um direito de qualquer um. A maioria vai para a cadeia negando ter cometido o crime que a colocou lá. O problema são os outros verbos. Como é que tal personagem se tornou – e continua sendo – tão central na vida do país, a ponto de seguir manipulando e chantageando com as grandes questões do momento, com as votações importantes? Como Eduardo Cunha ainda diz, afirma, declara, alerta e ameaça nas manchetes dos jornais? Como o que é farsa pode ser apresentado como fato? O cotidiano do Brasil e dos brasileiros tornou-se uma experiência perversa. A de viver dia após dia uma abominação como se fosse normalidade. Essa vivência vai provocando uma sensação crescente de deslocamento e vertigem. Não se sabe o quanto isso custará para o país, objetivamente, e o quanto custará na expressão política da subjetividade. Mas custará. Porque já custa demasiado.

 
Até o mais obtuso sabe que Eduardo Cunha continua no palco porqueainda tem utilidade para os projetos de poder de um lado e de outro. Entre esses dois lados que se digladiam não há oposição. Esta é outra farsa e também é por isso que se pode levar a sério um farsante como Cunha. A pauta conservadora para o país já foi estabelecida, o que se disputa é o poder de executá-la. Mas, se Cunha é apenas a expressão de uma operação política muito mais ampla, profunda e que nem começou com ele nem acabará com ele, na qual o papel do PMDB é central, ele não pode ter a importância de sua individualidade negada. Se o Brasil já teve muitos Cunhas, em vários aspectos, também não teve nenhum Cunha, em outros. Como todo vilão, o personagem é fascinante e totalmente singular.
 
Eduardo Cunha parece ser um perverso. Aquele que denega: vê mas finge que não viu, é mas finge que não é. Ele não seguiria ditando os dias de Brasília não fosse o homem perfeito para o papel. Para que a maioria possa fingir que disputa os rumos do país, quando disputa apenas o seu próprio, é preciso o fingidor maior, o mestre de cerimônias deste espetáculo. A sensação esquisita ao abrir o jornal ou a internet ou ligar a TV no noticiário se dá porque essa farsa pede uma adesão. A nossa adesão. É aí que (também) está a perversão.
 
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Redação

3 Comentários

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  1. de pessoas, de bens, de animais de estimação…

    e agora esta novidade, sequestro de cargo

    desenhando:

    sequestro

    mantenho em cativeiro

    provam que sequestrei

    algumas pessoas confirmam

    mas e a vítima, continuará lá, em cativeiro, até o último recurso ou pelo princípio de presunção da minha inocência?

  2. Li na diagonal o artigo de

    Li na diagonal o artigo de Eliane (prometo lê-lo e comentá-lo com mais cuidado depois). Mas de saída já se percebe que a jornalista também faz política, não pelo que diz ou escreve, mas pelo que sugere ou omite. O jornal El País, para o qual Eliane escreveu este ensaio, é o mesmo que cometeu aquela barrigada histórica, matando Hugo Chávez, quando este era submetido a tratamento de câncer, em Cuba. Ou seja, o jornal produziu uma notícia mentirosa porque desejava a morte do líder venezuelano. Eliane sabe dessa e de outra barrigas e notícias criminosas divulgadas na imprensa. O erro crasso de Eliane é colocar todos os políticos e partidos na vala comum do crime, da corrupção e da iniqüidade. Ela generaliza e coloca o governo, o PT e os que apóiam o governo no mesmo saco que Eduardo Cunha, a oposição golpista e outros atores da política como sendo igualmente patifes e criminosos. Assim como a unanimidade, a generalização é, na maioria das vezes, burra; e muito burra.

    Os leitores também sabem que Marina Silva e sua ‘Rede’ são as queridinhas do jornal espanhol. Sobre as incoerências de Marina, sobre as circunstâncias não explicadas da morte de Eduardo Campos e sobre a propriedade da aeronave em que o candidato viajava nem Eliane nem o diário para o qual escreve jamais publicaram uma análise crítica.

    Eduardo Cunha é perverso. Mas não foi este artigo de Eliane Brum que me convenceu disso. Aliás, para saber que Eduardo Cunha é perverso este artigo é desnecessário.

  3. Perverso também é esse sistema

    Sabe o que ha, prezada Eliane, ha que a imprensa, essa onde você trabalha e mais o PSDB, aquele que perdeu, mas quer levar a qualquer custo, mesmo que nos custe uma guerra civil, não querem descartar o Cunha tão rapido. Apesar da insinuação de que o PT ou o governo proporam um acordo ao Eduardo Cunha, é a dupla midia-psdb que não deixou o Cunha cair ainda. Apenas isso. O resto é bobagem.  

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