Raio-X das eleições na Argentina: extrema-direita larga na frente com Javier Milei

Renato Santana
Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.
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O candidato do atual presidente Alberto Fernandez, Sergio Massa, foi o terceiro mais votado nas prévias de domingo

Milei é o desdobramento da extrema direita mundial na Argentina, que na Espanha tem o VOX, no Brasil teve Bolsonaro e nos EUA Donald Trump. Foto: Fórum Econômico Mundial

“A justiça social, essa aberração”, destacam publicações argentinas na manhã desta segunda-feira (14). Este foi o lema entoado pela extrema-direita argentina para comemorar, por volta da meia-noite deste domingo (13), em Buenos Aires, a vitória inesperada do pré-candidato à Presidência da República Javier Milei nas prévias com mais de 7 milhões de votos. 

O primeiro turno das eleições gerais do país está marcado para 22 de outubro, tendo até lá o campo democrático para reverter o quadro. De acordo com os resultados, apenas cinco das 15 forças que se apresentaram para concorrer à Presidência o poderão fazer nas eleições gerais.

Na manhã desta segunda-feira (14), com 97,4% das urnas apuradas, Javier Mieli, da coligação La Libertad Avanza, reuniu 30% dos votos, sendo o único pré-candidato à Presidência de seu grupo. 

Já o Unión Por La Patria, grupo político do presidente Alberto Fernandez, obteve 27,3% dos votos e terá o ministro da Economia Sérgio Massa como candidato à Presidência ao reunir 21,4% votos ante 5,9% de Juan Grabois. Ocorre que o Unión computou apenas o terceiro melhor resultado geral. 

Ex-ministra da Segurança do governo neoliberal de Mauricio Macri, a pré-candidata Patricia Bullrich obteve 17% dos votos de um total de 28,3% de sua coligação, o Juntos Por El Cambio, que ainda reservou 11,3% de eleitores que preferiram Horacio Rodriguez Larreta como representante do grupo.   

Nesta primeira volta, eleitores escolhem seus candidatos favoritos para uma série de cargos do Executivo e do Legislativo, incluindo a Presidência. As primárias nacionais, chamadas de PASO, sigla para Primarias, Simultáneas, Abiertas, y Obligatorias, definem os políticos que concorrerão nas eleições gerais de outubro, com possíveis dois turnos. 

Votação nas províncias

A Argentina possui 23 províncias e Milei ganhou em 17 delas, sendo Córdoba, Mendoza, Santa Fé, San Luis, Misiones, Jujuy, Salta, Tucumán, La Rioja, San Juan, Mendoza, Neuquén, La Pampa, Río Negro, Chubut, Tierra del Fuego e Santa Cruz. Essas vitórias influenciam nas eleições para os governos das províncias e na escolha de representantes do Poder Legislativo.

Em Buenos Aires, a candidata da extrema direita, Carolina Píparo, candidata de Milei, foi a segunda mais votada, sendo 32,4% para Axel Kicillof, ex-ministro da Economia de Mauricio Macri, e 21,1% para ela, que, contando apenas os votos positivos, chega a 36,4% e 23,8%. O quadro torna a necessidade de se construir uma frente democrática, mas ela é ainda considerada improvável.

Ajuste fiscal mais profundo

Encorajado por ter se firmado como o candidato mais votado das prévias, Milei prometeu que, caso seja eleito presidente, conforme noticiou o jornal argentino Página 12, aplicará um programa de “ajuste fiscal muito mais profundo” do que o proposto pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), a quem o ex-presidente Mauricio Macri recorreu em um empréstimo que hoje trava a economia argentina.

“O que melhor para o mercado do que um economista pró-mercado (ganha)”, disse o líder do La Libertad Avanza durante uma entrevista na qual arriscou a reação que o setor poderia ter após sua colheita de votos que o posicionou como o mais votado.

Milei interpretou que o apoio que recebeu do eleitorado é “resultado de uma expressão pró-mercado” e destacou que esse será o posicionamento que colocará na mesa caso seja intimado pelo FMI para saber qual o seu planos estão no caso de um possível governo ultraconservador.

Patrícia e Massa se pronunciam

Antes o cenário, Patrícia Bullrich, ao subir ao palco de sua coligação instalado no Parque Norte, em Buenos Aires, se deteve a poucas palavras e disse: “quero primeiro agradecer de todo o coração a todos os que nos apoiaram com o seu voto neste caminho para a verdadeira mudança com coragem”. Do ponto de vista econômico, Patrícia está um degrau abaixo de Milei, sendo neoliberal.

Massa, entretanto, discursou para sua coligação reafirmando o projeto que o levou à condição de pré-candidato. “Vamos continuar defendendo a indústria argentina, a soberania energética e nossa capacidade de desenvolvimento (…) temos 60 dias para virar essa eleição”, disse Massa. E prometeu deixar “até a última gota de transpiração” e “entrar na luta” em defesa da democracia.

Mensagem do presidente

O presidente Alberto Fernández parabenizou os argentinos nesta segunda-feira (14) por terem exercido o direito de voto e saudou a União por la Patria (UxP), dos pré-candidatos Sergio Massa e Agustín Rossi, além do governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, que está à frente para a reeleição.

Em sua mensagem, o presidente afirmou que “começa agora a verdadeira campanha em favor da democracia e dos direitos dos povos”. Escrutinado 97,37% das mesas de votação, o candidato do La Libertad Avanza, Javier Milei, obteve 30% dos votos.

Quem é Javier Milei 

Milei defende o fim do Banco Central, a dolarização completa da moeda argentina, com o fim do peso, e se diz anarcocapitalista. Pretende privatizar todas as escolas públicas do país e quer o Ministério da Economia guiado pela cartilha ultraliberal, típica de governos de extrema-direita. 

Javier Milei é um economista argentino formado pela Universidade de Belgrano, tem 52 anos e é natural de Buenos Aires. Candidato à Presidência de extrema direita, Milei venceu as eleições primárias da Argentina, realizadas neste domingo (13). Possui discurso antipolítica e antipolíticos. 

“Políticos não são a solução, eles são o problema. Eles não querem que nada mude porque vai contra seus privilégios. Se eles não quiserem, vamos tirá-los de vez!”, prometeu no final do seu discurso após decretada sua vitória no bunker da campanha da coligação La Libertad Avanza, em Buenos Aires. 

Conforme o jornal argentino Página 12, Milei, com sua aparência de Elvis Presley portenho, de costeletas longas e cabelos longos, costuma tomar decisões consultando tarólogos, utilizando a quiromancia e outros métodos similares misturando os resultados às suas crenças na extrema direita. 

Ligações de Milei

Milei, portanto, é contra o aborto, considera as mudanças climáticas “uma farsa” da esquerda, e se identifica com a extrema direita do Vox na Espanha, que da Europa saudou a vitória do aliado na América Latina. Desse modo, o argentino se associa aos militares e ao negacionismo das ditaduras militares. 

Milei foi assessor do general Antonio Bussi, militar que foi governador da província de Tucumán durante a ditadura e posteriormente deputado nacional. Foi também economista-chefe da Fundação Acordar, do ex-governador de Buenos Aires, Daniel Scioli; e trabalhou na empresa que administra a maioria dos aeroportos argentinos.

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Renato Santana

Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.

2 Comentários

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  1. Se o “Viva a liberdade, Caralho” for eleito, a Argentina vai trilhar o mesmo caminho que o Brasil trilhou nos últimos 4 anos: o caminho das bostas.

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