A precarização do jornalismo catarinense travestida de investimento no jornalismo digital, por Carlos Nascimento Marciano

É este o cenário que se vislumbra no jornalismo catarinense diante da nota emitida pelo Grupo NSC semana passada, 16 de outubro de 2019

do ObjETHOS

A precarização do jornalismo catarinense travestida de investimento no jornalismo digital

por Carlos Nascimento Marciano*

É fato que vivemos na era da tecnologia onde nosso modo de pensar, agir e manter-se informado passou por transformações e sofre influência desse novo cenário. A seleção natural proposta por Charles Darwin e Alfred Wallace se representa também nesse meio, onde, de forma geral, empresas que não se renovam acabam sucumbidas diante da concorrência.

Da mesma forma, empresas que investem nos equipamentos e diretrizes do momento, sem planejamento ou visando apenas o lucro, tendem a perder mercado, credibilidade, clientes e qualidade. E quando se perde esse último, meu amigo, a descida da ladeira está só no início.

Fazer jornalismo nos dias atuais é mais do que migrar os processos e métodos para o ambiente digital. A linguagem pode até ser nova, as ferramentas também, mas se a informação democrática for perdida, o enfoque local obscurecido por uma maior abrangência digital, a essência jornalística perde o sentido, ampliando assim os chamados desertos de notícias, sem nem ao menos um oásis por perto.

É este o cenário que se vislumbra no jornalismo catarinense diante da nota emitida pelo Grupo NSC semana passada, 16 de outubro de 2019: os impressos Diário Catarinense (DC), A Notícia (AN) e Jornal de Santa Catarina (Santa) serão sepultados no próximo sábado, dia 26 de outubro.

O motivo: investimento no ambiente digital, direcionando as matérias desses veículos para o portal NSC Total. As consequências: a dispensa de 26 jornalistas, o fechamento do parque gráfico, a promessa de uma renovação no conteúdo que passará a ser condensado em uma revista distribuída aos sábados. Não podemos esquecer do diário Hora de Santa Catarina, que apenas terá o formato digital.

Embora fosse um cenário que já estivesse sendo delineado há tempos, o modo repentino como tudo foi anunciado tende a causar um impacto físico e psicológico muito grande, tanto aos funcionários envolvidos diretamente nos veículos quanto na sociedade que os consumia. Além disso tudo, o que mais chamou atenção nos comunicados foi a incoerência nas informações:

1) Dizem que o movimento é para chegar onde o leitor está com mais agilidade e eficiência diante do investimento digital, mas, mesmo no NSC Total, pouco se vê de inovação no que diz respeito a tecnologia, sobressaindo a visão dos colunistas e matérias na clássica estrutura de texto, foto, vídeo e áudio; nem sempre ligadas entre si.

Pensar que o grupo investiria em newsgames é quase uma utopia, mas, se estão prezando tanto assim pela tecnologia, onde estão/estarão os conteúdos digitais em RA ou RV? Quem sabe um simples conteúdo longform? Qual a frequência de produção desse tipo de conteúdo?

2) Sem falar nas promoções no maior estilo compre e concorra, ou seja, mesmo que nosso conteúdo seja jornalisticamente ruim e irrelevante, não nos abandone porque você pode ganhar um carro, um notebook, ou um ingresso para um show que nem deve ser perto de onde você está.

3) Dizem que vão aprofundar o conteúdo, mas condensá-lo em uma revista semanal. Ora, será mesmo que uma revista semanal vai conseguir abranger conteúdo aprofundado mantendo equilíbrio de referências aos locais que foram tolhidos de seus impressos regionais? Terá espaço para o esporte, cultura e tantas outras editorias de Joinville, Florianópolis, Blumenau e o restante de SC? E na época de eleições, será mantido o equilíbrio e debate democrático em um único material impresso, ou terá aprofundamento igualitário no NSC Total?

4) À frente da demissão em grande escala para o meio, com profissionais capacitados ou, na pior das hipóteses, propensos a serem capacitados, de onde virá a mão de obra para esse conteúdo digital, inovador e amplificado ao ponto de abranger todas as regiões que perderam seus jornais locais? Como diversificar as abordagens e abrangência do conteúdo com menos profissionais sem sobrecarregá-los ou comprometer a qualidade do produto jornalístico final?

Diante da promessa de inovações e mais qualidade proposta pelo Grupo NSC, esses são apenas alguns questionamentos, considerando toda a importância local e qualitativa que os impressos fechados deixavam por onde circulavam.

Infelizmente só nos resta aguardar e contabilizar os impactos no mercado e sociedade, sem falar nas graduações que anualmente formam novos jornalistas.

A única certeza que temos é que essa chaga jornalística foi aberta e, como disse Einstein “é urgente eliminarmos da mente humana a ingênua suposição de que seja possível sairmos da grave crise em que estamos mergulhados, usando o mesmo pensamento que a produziu.”

Quem sabe não seja esse o momento de ascensão para o jornalismo inovador e alternativo, de colocar em prática e incentivar mais do que um jornalismo transformador; a transformação dos métodos de se fazer jornalismo de qualidade. Quem sabe…

*Carlos Nascimento Marciano, doutorando em Jornalismo no PPGJOR e pesquisador do objETHOS

Redação

3 Comentários

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  1. Aqui em Santa Catarina a NSC (cobertor de tainha) antiga RBS (cobertor de tainha) filiada a rede globo, portanto um jornalismo da extrema direita que na era digital vai ter que comprovar sua competência e qual o público alvo imbecil que eles devem almejar, esses idiotas que se acham formadores de opinião pública.

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