Em defesa da democracia e do pacto civilizatório, por Benedito Tadeu César

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Em defesa da democracia e do pacto civilizatório

por Benedito Tadeu César

Vou alinhavar, abaixo, alguns comentários que fiz no meu perfil no Facebook e peço a reflexão de todas e de todos.

Quero propor uma reflexão aqui e peço que ela seja enfrentada sem preconceitos. Entendo que o pacto civilizatório está rompido no Brasil hoje. Os fascistas avançam e estão rapidamente tomando conta de todos os aparelhos de Estado. É preciso, e urgente, que os democratas de todos os matizes, inclusive da direita democrática, se unam em um pacto antifascista. Entendo que os dois únicos líderes com legitimidade para propor e liderar esse pacto são Lula e FHC. Parece-me que é urgente que eles se reúnam sem precondições e costurem uma ampla aliança democrática e antifascista. O tempo urge. Se os democratas não se movimentarem e não se unirem rapidamente a direita fascista tomará conta do país e o resultado será muito pior e mais sangrento do que o experimentado durante o período da ditadura civil-militar de 1964/85.

Relembro aos que se colocam contrariamente a um acordo entre FHC e Lula e que insistem que temos que nos limitar a uma frente de esquerdas, que todas as vezes que a(s) esquerda(s) se isolou(aram) e foram para o pau no Brasil e na maior parte do mundo ela(s) foi(ram) aniquilada(s). As forças fascistas, quando saem das trevas, veem sempre com muita força, porque usam o medo, o terror de Estado, a fabricação do caos e a desilusão da população e, além disso, obtêm o apoio do grande, do médio e até do pequeno capital. Sozinhas, as esquerdas são aniquiladas. Foi assim no mundo todo e têm sido assim no Brasil ao longo da sua história. Se isolar em uma frente de esquerdas é suicídio; é pedir para ser aniquilado em nome de uma bravata de força que, convenhamos, não temos sozinhos.

Precisamos arregimentar os democratas antifascistas, inclusive nas forças de direita. Teremos que tampar o nariz e fortalecer o estômago? Claro que sim, mas isso será menos pior do que sermos dizimados, e eu não estou usando figura de linguagem – basta olhar para a história. Será muito melhor para a população que pretendemos defender e também para nós próprios se tivermos estômago forte para construir uma frente ampla antifascista, nos moldes da construída nos anos 30 e 40 do século passado. A superação do caos será muito mais rápida do que se nos isolarmos. Isolados, demoraremos uns 30 anos para nos rearticular e para conseguirmos sair só gueto a que serão empurrados os que não forem aniquilados. Não é hora de rompantes heroicos. É hora de união de forças.

A suspensão das eleições é uma possibilidade que vem sendo construída há tempos. Ninguém dá um golpe para ficar dois anos no poder. A direita não fascista não tem candidato para derrotar Lula ou quem ele indicar e nem para derrotar Bolsonaro. Pode estar batendo o pânico nesses setores com a constatação da possibilidade de que a situação saia de controle e a ala fascista do golpe, Bolsonaro e setores mais radicais das Forças Armadas à frente, assumam as rédeas do processo. Há disputa interna no Ministério Público, no STF e nas Forças Armadas, o jogo de poder pode dar uma guinada profunda nas próximas horas.

Que fique claro: não estou considerando a possibilidade de FHC e seus seguidores abandonarem a posição de centro-direita que ocupam hoje. Se eu tivesse esta expectativa, eu estaria sendo autoritário, pois esperaria eles assumissem a minha/nossa posição em detrimento das suas. Isto não seria aliança, mas adesão ou até mesmo capitulação. Estou afirmando que eles ainda não se bandearam para as forças fascistas e que é preciso contar com a legitimidade e a autoridade que FHC ainda detém na direita não fascista no Brasil para convencê-los a integrar uma ampla frente antifascista.

Se considerarmos que não é possível ganhar ninguém para o lado da defesa da democracia e do Estado Democrático de Direito, então é melhor começarmos a fazer as malas e a preparar o passaporte. Uma frente apenas de esquerdas com possibilidade de sucesso é possível em países como o Uruguai, Portugal, até mesmo a Finlândia ou a Dinamarca, que não têm o peso político e econômico internacional que tem o Brasil. Aqui, ou nos aliamos a uma grande frente antifascista ou sucumbimos. Serão necessários talvez uns 30 anos para nos recompormos.

Basta dar uma olhadinha na história mundial para constatar que as esquerdas sozinhas nunca conseguiram frear os avanços fascistas. Quando a extrema direita sai das trevas, ele ganha o apoio das classes médias, do grande, do médio e do pequeno capital e também do cidadão comum, porque ela se vale do desalento, do medo e do terror de Estado. É hora de unirmos forças, buscando todos e todas que possam exercer alguma resistência à barbárie e à quebra do pacto civilizatório.

Benedito Tadeu César – Cientista Político, professor (aposentado) da UFRGS e integrante das coordenações do Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito, do Comitê Gaúcho do Projeto Brasil-Nação e do Movimento em Defesa da Soberania e do Patrimônio Nacional

 
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

7 Comentários

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  1. O país está próximo do caos

    O país está próximo do caos social e econômico e FHC contribuiu muito para isso. Não faz sentido chamá-lo para um pacto. Se FHC é contra o fascismo que ajudou a desseminar, deve expressar tal posição de imediato como condição para participar de um eventual pacto anti-fascista.

  2. Em defesa de qual democracia?

    Você quer defender a nossa democracia? E desde quando fomos uma?

    Aqui, sempre vivemos sobre os gritos de intolerância e ódio, pregados tanto por uma esquerda idiota como pela direita imbecil.

    E propor que Lula e FHC liderem uma defesa pela normalidade democrática no Brasil? Faça-me o favor e fique quieto no seu canto, pois sua mente está entrando em curto por tamanha besteira.

    Porque esses dois são os principais líderes? Lula mesmo está utilizando do ódio para rebater o ódio, mas você e outros cegos deste país de idiotas iludidos não observam isto, enquanto que FHC fala muito, mas é vazio de argumentos, sempre saindo pela tangente.

    Parem de se iludir com o Lula. Ele não é intocável, imbativel e muito menos, é o melhor candidato no momento.

    Ser lider das pesquisas não garante a ele o direito de se afirmar, com a imbecilidade típica de uma boa parcela da esquerda, que ninguém da direita que não seja fascista, de não poder derrota-lo. Desça deste pedestal de soberba e arrogância, que é melhor.

    O problema do brasileiro é que ele não se vê como parte do problema. Sempre a culpa é o outro, nunca a sua. E é por isso que merecem estar onde estão, na merda.

  3. só somente só

    Só li até FHC. (fegacê).

    Esse cidadão um dia vai brilhar. Será em 2038, como vice de ÇERRA45…viiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiixe!

    Para outra coisa não presta.

  4. Pacto civilizatorio
    Lúcida e corajosa análise política do professor Benedito César. Precisamos barrar o fascismo em nosso país. Mas tb pela história recente, está mais difícil fazer um pacto com as forças de centro- direita. O pacto é civilizatório, sim, mas só vejo o Lula com esta disposição. Abçs.

  5. Subcontinente tomado.

    Elogiável a ideia, que a urgência da hora reclama proposições. Esforços no sentido de impedir o desastre desenhado são exigência que a sanidade não pode recusar.

    Um obstáculo, em particular (não que não haja outros), parece de dificílima superação: o “zeitgest” mundial. 

     

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