Jean Wyllys e o panfleto de Bolsonaro

Da Carta Capital

“É claro que se trata de má fé”, diz Jean Wyllys sobre panfleto antigay de Bolsonaro

Clara Roman 11 de maio de 2011 às 18:15h

O deputado federal Jair Bolsonaro (PP) iniciou panfletagem de material antigay em escolas e residências do Rio de Janeiro. No panfleto, Bolsonaro afirma que meninos e meninas seriam emboscados por “homossexuais fundamentalistas” com o Plano Nacional de Promoção a Cidadania e Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais e ao kit anti-Homofobia distribuído em escolas públicas pelo governo federal (confira aqui reportagem sobre o tema) . Segundo ele, o MEC incentivaria o homossexualismo entre os jovens. Foram impressas 50 mil cópias do material, que Bolsonaro pretende pagar com sua verba parlamentar.

Para o deputado federal Jean Wyllys (PSOL), da Frente LGBT da Câmara, a defasagem educacional do país faz com que adesão a esse tipo de discurso cresça.

CartaCapital: Como você avalia a iniciativa do deputado Bolsonaro?
Jean Wyllys: Ele já distribuiu esse tipo panfleto no Congresso há algum tempo. Pra mim é muito discutir com o Bolsonaro. O seu discurso é de uma pobreza intelectual tão grande e possui um repertório cultural tão estreito que eu me sinto perdendo tempo. No entanto, fala fundo para muita gente. Muitas pessoas que carecem de educação de qualidade, com formação defasada podem responder positivamente ao tipo de discurso dele. A prova são os comentários que acompanham as matérias comentadas na internet. Por isso não posso ignorar. É claro que se trata de má fé e calunia. Ma fé em relação ao Plano Nacional de Promoção de Direitos LGBT e do Projeto Escola Sem Homofobia. As pessoas desconhecem esse projeto, desconhecem o material, por essa falta de esclarecimento, a população vai aderindo ao que as pessoas vão falando e a esse tipo de discurso. O projeto tem o intuito de reduzir a prática do bulling homofóbico nas escolas, a violência contra crianças e adolescentes afeminados. Violência física ou moral a adolescentes já assumidos ou crianças afeminadas era tão grande que muitos abandoram e abndonam a escola. O bulling homofóbico está ligado a depressão, abandono, suicídio. E resolveu se criar um material que erradicasse esse bulling. É formado por cartilhas, boletins e vídeos. A televisão tem um peso muito grande na maneira como as pessoas constroem suas visão de mundo. É um projeto que a família brasileira deve abraçar. Vai assegurar a vida e dignidade da vida dessas famílias. O discurso de Bolsonaro tripudia famílias que tem filhos homossexuais ou filhos que não correspondem aos papeis de gênero instituídos. A psicologia fala sobre isso.

É obvio que esse cara sabe que esse projeto é um projeto bacana. Ele esta fazendo um uso eleitoreiro desses conceitos. Ele sabe que o projeto é bacana, mas ele esta usando da ignorância das pessoas. Deliberadamente, ele distorce o projeto. Nós já prestamos apoio formal a essa política pública. O mais importante é as pessoas de casa saberem que o material não vai fazer proselitismo, mas vai assegurar uma escola democrática. E eu estou dizendo isso inclusive porque sofri com bulling homofóbico na adolescência por conta de meu comportamento não se enquadrar nos papeis de gênero impostos. Eu quero o Estatuto da Criança e Adolescente se posicione em relação a atitude desse deputados. Papeis de gênero não são criados pela natureza, é a cultura que tece. As pessoas não podem ser violentadas e devem ter liberdade para exercer sua identidade de gênero.

CC: E quanto ao uso de verba parlamentar para a impressão desses panfletos?
JW: Ele entende que isso é política dele. Ele não estava fazendo algo desonesto. Mas um deputado não pode usar verba pública para ação que fere os princípios consititucionais e o próprio código penal. Porque seu dicurso incita a violência. A OAB e o Ministério Público têm que se manifestar. A atitude dele é prevista no código penal. Não adianta: não se pode descolar assassinatos de homossexuais no pais com esse tipo de discurso, sustentado não só por Bolsonaro mas também pela bancada de pastores da Câmara. Os assassinatos acontecem por causa desse tipo de discurso. Como se nós não fossemos sujeitos de direito no país. A presidenta da republica deve se manifestar publicamente contra esse tipo de discurso. Eu estou cobrando dela a defesa dos direitos humanos nesse quesito.

CC: O senhor acredita que o discurso de Bolsonaro tem um público vasto?
JW: O que mais se critica no Brasil é a falta de uma educação de qualidade. As pessoas se apartaram da política por causa da falta de educação. Essa população vai aderir facilmente a esse tipo de discurso. Ele é livre para expressar opinião dele, mas ele não pode ferir a Constituição. Direito e responsabilidade com que se diz. Ele deve ser punido.

CC: Você acha que essa reação anti-gay seria mais forte por causa do grande número de conquistas LGBT dos últimos tempos?
JW: Sim, é a contrapartida da visibilidade LGBT e a conquista de direitos e representação política. Essa expansão tem gerado uma contrapartida horrorosa de violência e homofobia. São as mazelas de um país com muita defasagem em educação e promoção dos direitos humanos. Essa direita homofóbica que estava calada  foi despertada durante a ultima eleição e tem como porta-voz deputados da bancada religiosa e outros como Bolsonaro, ainda que ele seja uma caricatura grotesca desse tipo de discurso. Ele é um grosseirão da pior espécie.

Luis Nassif

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