Educação: da desconexão à mobilidade

Maria Silzi Mossato, do blog Lá vem Maria

 

Maria Silzi Mossato é uma escritora e psicóloga que já trabalhou com terapia da família e no sistema de ensino atendia professores, pais e alunos. Da sua experiência pessoal e profissional, da sua pesquisa  sobre pedagocia e comunicação, dos cursos que fez e orientou, acumulou grande bagagem sobre o tema Educação. Há pouco tempo começou a considerar que essa bagagem toda precisava ser compartilhada. Montou um blog e começou a escrever uma série de artigos curtos, mas extremamente objetivos sobre o tema. Silzi fala de uma educação que precisa ser continuamente alimentada pela cultura, não pela tecnocracia.

Silzi escreve: “quando falamos de educação falamos de cinema, televisão, música, teatro, dança, artes visuais, literatura, história, geografia, matemática, física quântica… Mas nossas locadoras, nossos cinemas, nossos canais de televisão vivem entulhados dessas coisas de fórmula única, enredo repetitivo, violência nada gratuita (pois nos custa muito, em todos os sentidos). E nossos professores, pela formação ou pela condição financeira, raramente têm acesso a alternativas culturais. Como podem alimentar as escolas com posturas críticas necessárias? Atribuindo a escola a função de repassar conteúdos formais, estagnados, organizados em arquivos padrões, podemos dispensar a postura crítica. Mas se a tarefa inclui suporte à formação de pensadores que saibam usar conteúdos programáticos como base para a sua contínua aprendizagem, educadores críticos são fundamentais. E educadores críticos precisam realimentar-se continuamente. E realimentar-se da diversidade de olhares, das contradições, das contraposições.  Antes de perguntar se há no universo da educação brasileira espaço para estudantes questionadores é necessário perguntar se este sistema consegue acolher e alimentar educadores engajados, críticos, inovadores. Indo além: há interesse real na formação de professores e alunos críticos ou a busca limita-se a produção de bons técnicos?”

No último artigo postado no seu blog, “Lá vem Maria“, Silzi fala sobre a desconexão entre pesquisa e ensino, e vice-versa:

 “Entre os universitários brasileiros de químicas, quantos conhecem, ainda que superficialmente, o trabalho de Otto Gottlieb? Quantos possuem em seus apontamentos, um que conste o nome do químico?” – questiona a escritora.

“Não citamos um pesquisador comum, que ao longo da vida tenha feito uma descoberta que favoreça um determinado setor. Fazemos referência ao cientista de origem tcheca, que viveu no Brasil e aqui desenvolveu suas pesquisas concentradas na química dos produtos naturais, criando uma nova área de estudo: a sistemática bioquímica das plantas. Deixou contribuições relevantes para a medicina, integrou a química, à biologia, à ecologia e a geografia, atuou em diferentes universidades, além de outros setores e propôs com insistência um programa de educação para preservação dos ecossistemas brasileiros. Indicado ao Nobel de química em 1999, ganhou espaço na mídia, mas não nos currículos escolares”.

“Não pretendemos expor a biografia de Otto Richard Gottlieb. Queremos apenas exemplificar o assunto em pauta: a desconexão entre formação escolar e pesquisas desenvolvidas dentro das universidades brasileiras. Escolhemos o pesquisador pela relevância e notoriedade. Mas também por ter sido defensor de programa que levaria aos estudantes do ensino fundamental e médio suas próprias descobertas. Pretendia, assim, favorecer a preservação de uma de nossas grandes riquezas, amplamente devastada. Também não pretendemos focar o debate nos cursos de formação em química, pois essa mazela é parte do nosso sistema de ensino, independente da área de formação”.

Maria Silzi Mossato está coberta de razão quando afirma que “as trocas sistemáticas entre os dois pólos – educação formal e centros de pesquisa – certamente levaria ao enriquecimento de ambos. Mas para onde vão os resultados obtidos nos mestrados, doutorados e pós-doutorados? Quantas universidades brasileiras têm programas adequados de intercâmbio entre pesquisadores e educadores? Quantos pesquisadores têm preocupação semelhante à de Otto Gottlieb?”

E repete a questão da diversidade cultural ao afirmar que “de novo esbarramos em estruturas estanques e na necessidade premente de criar mecanismos que provoquem realimentação, mobilidade, ampliação dos espaços para coexistência das diferenças, para a manifestação da diversidade cultural”.

Para Silzi o sistema educacional é um sistema aberto, “com capacidade para importar e processar informações e, portanto, evoluir. Mas, para que este sistema seja funcional e cumpra com o se propõe, o entrelaçamento, o estabelecimento de fluxos de trocas entre seus diversos setores e com diferentes segmentos sociais é imprescindível”.

Trata-se, a meu ver, de uma discussão muito importante e que é encarada, pela autora, com o rigor que o tema merece. 

 

 

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador