E se fosse Boulos segurando uma arma?, por Francisco Toledo

Do Democratize, no Medium

E se fosse Guilherme Boulos segurando uma arma?
 
Francisco Toledo

Na semana passada, partidos como PSDB e DEM seguiram o discurso de perseguição política sugerido pelo jornal Estadão, pedindo uma investigação sobre o coordenador nacional do MTST por “incitação à violência”.

O deputado federal Jair Bolsonaro (PSC) adora exibir seu arsenal de armas de fogo. Não é novidade. Parte do discurso do deputado de extrema-direita é aquele velho populismo pelo fim do estatuto do desarmamento. Ele quer “armar os cidadãos de bem”, diz, contra a escória protegida pelos “direitos humanos”.

Esse é apenas um pequeno detalhe no discurso de ódio de Bolsonaro, seja contra minorias ou por puro prazer.

Quando um deputado federal, um homem público e “formador de opinião” diz que agrediria seu filho caso ele fosse gay, o que seria isso se não incitar a violência?

É claro. Não vimos nenhum deputado do PSDB ou do DEM se preocupando com as declarações de Bolsonaro. Por que? Bom, primeiramente porque isso não representa nenhum capital político para eles. E segundo porque, na teoria (e na prática), Bolsonaro é um aliado distante deles. Aquele cara que você não tiraria uma foto abraçando, mas que fica ali atrás das cortinas, te representando para um setor mais marginalizado da sociedade — os velhos brancos de classe média.

Por isso, tanto faz se Bolsonaro resolve tirar uma foto segurando um rifle, postando nas redes sociais logo em seguida. O máximo que aconteceria seriam alguns comentários o chamando de “mito”, ou pedindo sua candidatura para 2018.

Eu poderia chamar isso de masturbação ideológica, ou intelectual. Mas como Bolsonaro não representa nenhuma ideologia se não a do ódio, e que de intelectual não tem nada, é apenas masturbação de ego.

Agora e se o líder mirim da nova direita brasileira, o Kim Kataguiri do Movimento Brasil Livre, resolve postar uma foto segurando um rifle?

Bem, ele como liberal é adepto do armamento da população, do “cidadão de bem”.

Ele, como líder das manifestações pelo impeachment, logo então poderia ser responsabilizado pelas agressões sofridas por pessoas em seus protestos? Nas últimas semanas ouvimos diversos relatos de homens e mulheres sendo ameaçados, espancados e hostilizados quando passavam em frente ao prédio da Fiesp, onde existe um acampamento de lunáticos pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

Se formos analisar, foi Kataguiri e seu movimento que os colocou ali. Foram eles que convocaram as manifestações e prometeram ocupar a Paulista até a Dilma Rousseff renunciar. Logo, são responsáveis pelas agressões, pelos crimes cometidos até o momento.

Mas não. Você não verá o senador Aécio Neves e o deputado Rodrigo Maia pedindo investigação sobre Kim Kataguiri e seu movimento bancado por ONGs estrangeiras, alegando incitação à violência.

Mas e se fosse Guilherme Boulos, coordenador nacional do MTST?

E se fosse Boulos segurando um rifle e postando em seu perfil público nas redes sociais?

E se fosse Boulos sugerindo que seus militantes espancassem quem pensa diferente deles?

E se fosse Boulos promovendo uma ocupação política na Avenida Paulista, onde os ocupantes agredissem quem fosse passar por lá de verde e amarelo?

Pois é.


Texto por Francisco Toledo, co-fundador e fotojornalista da Agência Democratize

 

Redação

11 Comentários

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    1. Ah, devem ler sim…

      …o problema é acompanhar o raciocínio envolvido, além da falta de percepção de que são simplesmente sociopatas.

  1. Comentário.

    A sensação que tenho nestas discussões, é que se bate na mesma tecla sem explicitar o que é teclado. Dizer, por exemplo (como li em outro post) que a saída da Dilma ampliaria o fosse social, vai na mesma linha; a questão de esse fosso aumentar ou diminuir, quando e em qual velocidade, subjaz o óbvio histórico.

    A história é a violência, a lei, uma justificativa formal. De Hegel a Marx, pra citar o velho barbudo e mal afamado, isto não está claro?

    Que Bolsonaro ostente um arse-nal, não surpreende. Ele é a direita raivosa, explicitamente autoritária, o que esperar dele?

    Que as vítimas da miséria histórica devam “ficar no seu lugarzinho”, longe dos olhos dos usurpadores de toda ordem, também é de se esperar.

    O que há é um conflito de classes muito cordial. Isto sim. Luta de classes é outra coisa.

    Esperar que os movimentos sociais não sejam criminalizados, dada a estrutura jurídica, econômica e social imperante, é negar o evidente. Pedir e se manifestar contra a criminalização dos movimentos sociais e pedir ao poder instituído e a quem ele serve uma situação de tolerância é um paradoxo.

    Não se espera que um lobo coma flores. Perdão ao lobo.

  2. Tem que “provocar” o judiciário…

    Eles fazem o que o Mello disse: O JUDICIÁRIO SÓ REAGE SE FOR PROVOCADO…

    A offshore do barbosão e a suspeita de possivel “presente” pelos resultados obtidos na condução do mensalão, só deixará de ser “teoria da conspiração” se alguem protocolar pedido de investigação…

    Poderia ser pedido aqui no Brasil e quem sabe nos EUA?

    Ai, após as investigações, saberemos se foi ou não um presente…

    1. O judiciário sim, deve ser

      O judiciário sim, deve ser provocado, mas não o MP (estadual ou federal) cuja atuação face a um crime é obrigatória

  3. Se fosse Boulos, certamente

    Se fosse Boulos, certamente estaria preso e condenado. Kataguiri, suponho que por ser muito amigo de Ovotavinho, escreve na Folha. Suponho que deve ser parceiro de Ovotavinho em alguma academia de tiro, local em que travaram amizade. Como foi que o amigo de Ovotavinho adquiriu aquele rifle cuja compra é proibida? A polícia federal precisa investigar isso.

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