Quem será o Sérgio Macaco dos dias atuais

Do Bem Blogado

Alguém que diga “não”

Por Washington Luiz de Araújo

No rastro da Lava-Jato, várias irregularidades vêm sendo cometidas  por autoridades e pela mídia sem que ninguém que tenha prerrogativas ou faça  parte da  operação encabeçada pelo juiz Sérgio Moro, Ministério Público Federal, Polícia Federal e Supremo Tribunal Federal tome providências mais contundentes ou mesmo admita parcialmente a existência dessas irregularidades.

Do vazamento de grampos sigilosos em conversas telefônicas de investigados, não investigados,  advogados e até da presidenta da República aos  atropelamentos ao STF por parte do juiz Sérgio Moro e do  membro do Supremo Gilmar Mendes, passando pela  publicação descarada de vazamentos ilegais e selecionados  de delatores premiadíssimos e pela  prisão de pessoas que são torturadas psicologicamente com o intuito de obter-se delas a delação, tudo vai contra o Estado Democrático de Direito  (sim, em caixas altas, por favor).

E por falar em Sérgio Moro, talvez valha lembrar que um xará dele teve, à  época da ditadura militar, a coragem de denunciar um plano atroz de assassinato de  milhares de inocentes e a imputação da  culpa nos ativistas que lutavam contra a ditadura. Trata-se do Capitão Sérgio Carvalho, o Sérgio Macaco. A pergunta é: quem será ou serão os Sérgio(s) Macaco(s) de hoje, que dará(ão) um basta aos crimes cometidos por parte do judiciário e da mídia, perpetrados sob a alegação do “combate à corrupção”?

Sérgio Macaco era um capitão da Força Aérea Brasileira, pertencente a uma tropa de elite de paraquedistas, a Para-Sar. Em plena ditadura militar, 1968, o oficial recebeu ordens do brigadeiro João Paulo Moreira Burnier, então chefe de gabinete do ministro da Aeronáutica, Marcio de Souza Mello, para participar de vários atentados no Rio de Janeiro. Atentados que seriam atribuídos aos “subversivos” que lutavam contra o regime de exceção. Dentre as atrocidades, estava planejada a explosão do gasômetro da cidade, com a previsão da morte de milhares de pessoas.  Previsto também estava o assassinato de 40 políticos e militares que haviam  se pronunciado  contra os abusos da ditadura. Estes seriam jogados de aviões da FAB em alto-mar.

Pergunto novamente: à exceção dos que estão sentindo na pele o arbítrio e dos que estão indo às ruas,  quem será ou serão o(s) Sérgio(s) Macaco(s) que contribuirá(ão) para a prevalência da  democracia plena,  negando-se a redigir  textos deturpados e  tendenciosos cujo intento é ludibriar  leitores, ouvintes e  telespectadores, recusando um pedido de prisão de  uma pessoa que nenhum ilícito cometeu,  rechaçando uma tentativa de busca em residência ou escritório com arrombamento de  portas e estouro de gavetas,  numa operação de guerra desnecessária, evitando um voto viciado no tribunal, que  simplesmente daria sinal verde ao prosseguimento de  tortura psicológica e perseguiçã o a um líder político?  Quem, estando em condições disso, ou seja, armado de informação, coragem e verdadeiro patriotismo,  denunciará as arbitrariedades, negando-se a participar delas?

Quem será(ão) o(s) Sérgio(s) Macaco(s) que evitará(ão) as explosões nas quais  se aniquilam vidas e reputações e as quais podem ficar para sempre carentes de investigação séria?A responsabilidade de apontar  crimes cometidos  por autoridades não está apenas  nas mãos de  servidores – que, por diferentes razões, optam pela omissão –,  mas de toda a sociedade, que precisa  avaliar os malefícios que virão com os  golpes à democracia. Hannah Arend afirmou, a respeito do holocausto: “Muitas vezes se disse que a asfixia dos doentes mentais teve de ser suspensa na Alemanha por causa dos protestos da população e de uns poucos dignitários corajosos das igrejas; no entanto, nenhum protesto desse tipo foi feito quando o programa voltou-se para a asfixia de judeus, embora alguns centros de extermínio estivessem localizados no que era então território alemão, cercados por populações alemãs.”

Em homenagem ao capitão Sérgio Macaco, que foi injustiçado e perseguido por não cumprir ordens imorais dadas por autoridades do mais alto escalão e as quais levariam a tragédias, gritemos com todas as nossas forças: “Não vai ter golpe”. Que esse  nosso grito abra os ouvidos e os corações daqueles que estão sendo cúmplices dessa atrocidade contra o Estado Democrático de Direito.  E que possamos constatar e celebrar: Sérgio Macaco, presente. Seja ele quem for. Apenas um brasileiro. Um democrata. Alguém que pensa em seus compatriotas. E luta por eles.

Acesse o link e leia a história de Sergio Macaco, num belo texto da repórter especial da Revista Brasileiros, Luiza Vilamea

Redação

14 Comentários

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  1.  
     
    O golpe fascista já foi

     

     

    O golpe fascista já foi dado  .

    Procuram um jeito de legalizar  o ilícito .

    O segundo problema  é o que farão com o Lula .

    Mino, já disse para Lula se precaver pois pode ser assassinado.

    Não duvidem .

  2. O mal é a ausência do

    O mal é a ausência do bem.

    Neste momento é fundamental que os homens e mulheres de bem não se omitam.

    Não vai ter golpe!

  3. Off topic

    Vejo as manchetes: dirigente do Corinthians teria recebido propina da Odebrecht.

    Ok.

     

    Mas o que isso tem a ver com dinheiro público?

     

    Ou: isso tem a ver com as recentes manifestações da Gaviões contra a Globo?

    1. É a mesma coisa do “samba de

      É a mesma coisa do “samba de uma nota só”. Tentam associar uma atitude legitima contra a Globo e os ladrões de merenda do Alckmin, com o vínculo de “corrupção”, para tornar a atitude da Gaviões antipática. Em frente Gaviões!……….Esses canalhas golpistas não passarão! 

  4. Desfile da História

    Nassif: esta história tem de ser apurada. Tintim por tintim.

    Dias atrás havia em seu blog a declaração de um general, dizendo que tudo estava tranquilo.

    Conversa de militar sobre “tranquilidade” social a experiência ensinou-me a botar as barbas de molho.

    Depois soube (com reservas) que você levantou essa lebre, que o jatinho de Congonhas nem saiu do hangar por ordens militares vindas da aeronáutica.

    Pasmei. Logo ela, cuja memória do “Galeão”, no final da primeira metade do século passado, ainda está viva no cenário nacional?

    Agora, aqui e ali, somente insinuações. Você, que é um cara bem informado e entrosado com a patota midiática e militar, será que não arranca nada do pessoal?

    Nem que tenha de pedir auxílio dos “universitários”, nesse programa de humor negro, num Pais da Democracia faz-de-conta.

    Vamos, Nassif, vamos. Ponha o bloco na avenida…

  5. Esqueceu-se da adulteração de provas

    O artigo deixou de mencionar a adulteração de provas, já mencionado por um membro da PF, com o intuito de beneficiar os afetos demotucanos e perseguir e complicar a vida de adversários políticos. É impossível que Youssef seja investigado sem que o nome de seu mentor e amigo íntimo Álvaro Dias apareça. Da mesma forma, não há como em uma investigação que recai sobre diretores nomeados pelo governo FHC ,não  aparecer nome de pessoas desse governo. Cansamos de ser enganados!

  6. Viva o Cap. Sérgio Macaco! Viva o Brasil!

    Toda ocasião é boa para lembrar a figura digna do capitão da aeronáutica Sergio Macaco, Homem valente, que respeitou o seu juramento de defender a nossa Constituição. Se é verdade que um oficial da aeronáutica blocou o jatinho do pária Sergio Moro, tenho motivo pra ser otimista. Vale aproveitar essa ocasião para lembrar outro caso que envolveu o nosso Sérgio Macaco; o caso planejado pelo já citado psicopata, terrorista e homicida brigadeiro Burnier.

    Com a morte do estudante Edson Luis de Lima Souto, no dia 28 de março de 1968, os responsáveis pela segurança aguardavam com ansiedade as manifestações do dia cinco de abril, data da missa de sétimo dia. A preocupação das autoridades era a adesão dos funcionários de escritórios do centro da cidade, que vinham tomando posição a favor dos manifestantes, jogando das janelas, objetos sobre os policiais encarregados da repressão. Na madrugada do dia quatro para o dia cinco, o major Gil Lessa levou a equipe de plantão no Para-Sar — Serviço de Salvamento da FAB —  para as ruas, com roupas civis e uma ordem: ”Localizem as janelas de ondem atiram objetos nos policiais, subam e liquidem com quem estiver lá.” Inconformados, os capitães Sergio Macaco e Rubens Marques dos Santos procuraram seus superiores para pedir que a cancelassem. Apenas um oficial do Para-Sar, o cap. Roberto Camara Lima dos Guaranys, aceitava executar missões daquele tipo. O encontro do cap. Sergio Macaco — que seria punido — com o brigadeiro Burnier, autor da ordem, aconteceu em 13 de junho de 1968.

    “Anistia-se a quem cometeu alguma falta. Eu não posso ser anistiado pelo crime que evitei.”
    Capitão Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho (Sérgio Macaco)

    1. SAPERE AUDE!

      Comentário de um leitor publicado no blog Tijolaço, em setembro do ano passado:

      ”Quando vejo dois PQds envolvidos em atentados sujos, homicidas como estes (Riocentro) mais admiro um Brasileiro chamado simplesmente “Capitão Sérgio Macaco”, o Capitão Paraquedista Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho, digno paraquedista de resgate do Para-Sar.
      Este Brasileiro negou-se, em plena ditadura, a cumprir uma ordem de assassinato em massa que seria a explosão do Gasômetro do Rio de Janeiro, prevista para uma quarta-feira, na hora do rush. A carnificina ia ser total. Disse ele: – minha tropa é uma tropa de resgate de selva e meus soldados salvam vidas, não matam inocentes!, recusando a ordem.

      Bem diferente de rosário e guarany na operação do Riocentro, uma operação que se levada a cabo assassinaria umas 3500 pessoas inocentes, naquele 30 de abril de 1981, nelas incluídas aécio neves e sua irmã, presentes ao show do Dia do Trabalho, ambos adolescentes. Após essa possível carnificina, se consumada, seria deflagrada uma macro operação de prisões no eixo Rio-SP, com a prisão de umas quatro mil pessoas, naturalmente, “comunistas”, e destes, por participarem do plano de explosão do Riocentro segundo a falsa acusação dos próprios perpetradores do crime, a metade deles seria executada já no ato das prisões.

      E aí, molecada do meu Brasil, de 2013 a 2015, que quer a volta da ditadura no País, era assim, que a banda tocava.
      Estes são dois exemplos apenas, pois tem muito mais. Basta estudar um pouco de nosso passado recente. A grande ironia quanto a aécio é vê-lo cerrando fileiras com as idéias fascistas daqueles, neles incluídos os civis que promoveram o golpe, que poderiam tê-lo feito em mil pedaços pelos efeitos das bombas de rosário e demais comparsas nesse episódio.”

      Segundo o capitão Miranda e o jornalista Zuenir Ventura, em 1968 ocorreria o último passo no processo de escalada terroristica no engajamento de setores das FFAA em ações de atentados, sequestro, tortura e assassinato — de opositores políticos (atentados na porta da Sears, do City Bank, da embaixada estadunidense; explosão do Gasômetro e de Ribeirão das Lages; vôos da morte com lançamento no mar de Carlos Lacerda, D. Helder Camara, Jucelino Kubichek, entre outros), tudo isso seria atribuido aos comunistas pela opinião ”publicada”, com a Globo liderando e cumprindo a missão para a qual foi constituída: servir os interesses dos EUA, contra o Brasil.

      Essa é a dura verdade. Os golpistas degradaram as nossas FFAA à condição de organizações criminosas ao serviço deles mesmos e do capital transnacional. Para Gregorio Bezerra foi uma situação sem precedentes. Sobre o papel ”modernizante” do poder militar, a história ensina que foi para satisfazer o apetite de um poderoso bloco de interesses capitalistas transnacionalizado levados à frente na base da porrada, corrupção desenfreada, controle repressivo e… bombas.  SAPERE AUDE!
       

  7. Todos nos

    Prezado Washington Luiz Araujo, gostei muito do seu artigo. Nele a gente sente que o tempo urge e que a verdade do que esta acontecendo nesses tempos tão estranhos deve vir à tona. Não sei se havera um Sérgio Macaco especificamente, mas ja ficou claro que todos nos temos que fazer esse papel e, ao mesmo tempo, apoiarmos os nomes publicos que ora têm coragem de denunciar o terrivel golpe, o qual os homens que se dizem de bem deste Pais armaram para o governo petista e em cima povo brasileiro.

     

    1. Lionel, conheces todos os membros da PF e MPF?

      Pois se não conheces, favor não generalizar, fale daqueles que conheces, aqui não é LUGAR DE COXINHA QUE JULGA E DIZ QUAQUER COISA.

      SE NÃO SABES O QUE FALAR, ENTÃO TE CALES.

  8. Ordem absurda não se cumpre!

    Caro Washington Araújo,

    Nunca me esqueço, na época em que servimos juntos no II Batalhão de Polícia do Exército, lá nos idos de 76/77, de uma conversa com os sargentos e oficiais que nos acompanhavam.
    A ênfase foi exatamente essa:

    – Ordem absurda não se cumpre.

    E o exemplo dado, quase irônico, exemplificou o caso hipotético caso de um general ordenando que o soldado desse um tiro no seu pé.

    Essa ordem, é óbvio, não deveria ser cumprida.

    Lógico seria que essa desobediência acarretaria detenção, prisão e punição.
    Mas, e ao cabo do processo de investigação, chegar-se-ia a conclusão que a ordem dada pelo superior havia sido absurda e, portanto, o fato de não tê-la cumprido não segnificava desobediência ou desrespeito ao superior hierárquico.

    Ao ler seu ótimo artigo, esse exemplo veio de pronto à cabeça..

    O que Sergio Macado não abriu mão de fazer foi de se reservar ao direito de não cumprir uma ordem absurda.

    Foi punido e pagou um preço.

    Mas, insignificante, se comparado com o peso e remorso que precisaria conviver ao longo de toda sua vida, se tivesse sido conivente com essa bárbara ordem absurda.

    Talvez estejamos chegando, novamente, em uma fase que não poderemos nos autorizar a cumprir ordens absurdas, sob risco de deixarmos de ser complacentes e nos tornarmos cúmplices desse nefasto processo ora em voga.

    Forte e saudoso abraço.

    E força para todos aqueles que encontram-se embuídos desse nobre sentimento, que talvez possa ser designado como que de brasilidade.
     

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