Um país refém de um grupo de terraplanistas econômicos, por Luís Nassif

Usam taxas de juros como se fosse elemento inócuo em relação à toda a economia, afetando apenas a inflação, tratando-a como evento autônomo

É curiosa a reação à ata do Copom. É uma ata completamente fora da realidade do país. Acena com a possibilidade vaga de uma crise internacional como justificativa para juros altos. Apresenta uma leve recuperação do mercado de trabalho como argumento para não reduzir os juros. Lembra, em muito, o desastre da gestão Gustavo Loyolla, no início do plano Real.

Houve uma corrida contra o Real, o então presidente do BC, Pérsio Arida, jogou os juros para 45% ao ano. Cessada a corrida, o lógico, o racional, o óbvio seria trazer as taxas para níveis normais. Loyolla manteve a taxa, derrubou-a lentamente, destruindo qualquer veleidade de equilíbrio na dívida pública, sob o argumento de que, se derrubasse muito rapidamente a taxa, poderia surgir outra corrida, obrigando-o a aumentar substancialmente novamente.

Usam as taxas de juros com se fosse elemento inócuo em relação à toda a economia, afetando apenas a inflação. E como se a inflação fosse um evento autônomo, sem nenhuma relação com as demais variáveis econômicas.

Sâo incapazes de qualquer análise da realidade, de incluir qualquer elemento a mais em seus cenários, mesmo aqueles diretamente relacionados ao tema – como nível de inadimplência, crise do crédito, as recuperações judiciais dos grandes grupos e as quebradeiras das pequenas empresas.

O mais curioso é que essa política suicida afeta diretamente o sistema bancário, reduz o mercado de crédito, aumenta o risco de inadimplência, afetará diretamente o resultado bancário. Mas o mercado se cala porque a autonomia do Banco Central é um instrumento dele, mercado, ainda que manobrado por pessoas que desmoralizaram completamente o modelo.

A ata do Copom chega ao ridículo de ameaçar com novas altas na Selic, se o mundo não se comportar conforme seu desejo.

Foram acometidos da praga da autonomia das corporações não eleitas. Atuam do mesmo modo aqui e nos países centrais. Nos Estados Unidos, bastou o Departamento de Justiça dar poderes especiais à área de crimes corporativos, para praticarem todos os abusos, servindo de matriz para a Lava Jato. Mas havia instâncias que atuavam como freios. O mais abusivo dos procuradores foi condenado por um juiz, com uma sentença clássica, depois de ter arruinado a carreira de um senador com ilações falsas sobre a reforma de um sítio. Depois da quebra da Anderson Consulting o sistema passou a tomar precauções para impedir a morte de empresas. E, principalmente, há uma imprensa muito ativa para apontar exageros de qualquer poder.

No Brasil, país de democracia pouco sólida, nada disso ocorre. No pós-Constituinte, o primeiro setor a mostrar os músculos, de forma exagerada, foi a mídia. Depois, o MInistério Público Federal mancomunado com Ministros do Supremo Tribunal Federal. Recentemente, o caso escandaloso do CADE (Conselho Administrativo de Direito Econômico), de Bolsonaro, “obrigando” a Petrobras e negociatas sem fim com as refinarias, a pretexto de combater concentração de mercado.

E, passado o período nebuloso, fica a herança maldita de Bolsonaro, nessa autonomia sem limites do BC, atuando como um bedel desinformado, pretendendo interferir na produção acadêmica.

A reação virá da pior forma possível para o mercado, mostrando que a substituição do controle ideológico da mídia pelo comando direto das ações foi a forma mais efetiva de desmoralizar a financeirização da economia.

Luis Nassif

15 Comentários

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  1. Não só isso, Nassif.
    Esse presidente do Banco Central é extremamente nacionalista. A política de juros que ele criou é extremamente benéfica para a China, país em que os empresários tem acesso a juros muito mais baixos. Ao manter os juros altos para impedir os industrais brasileiros de retomar seus investimentos, Campos Neto é um verdadeiro herói do partico comunista chinês: ele obriga o Brasil a continuar importando manufaturados naquele país, garantindo assim elevadas taxas de crescimento econômico na China.
    Essa semana eu recomendei aos chineses que concedam um prêmio para o presidente do BC do Brasil. Ele é o maior banqueiro não chinês pró China de todos os tempos. Campos Neto é o cara de Pequim.

  2. Volto a insitir na tese que o BCB não tem por objetivo a derrubada da inflação. O seu verdadeiro objetivo é calibrar a expectaitva de rentabilidade dos especuladores. Para estes, o que interessa é o famigerado premio de risco, que eu chamo de premio de especulação. Claro que sendo a inflação um fator fundamental na composição do premio, faz-se necessário o seu controle. Para o mercado financeiro, que é o verdadeiro dirigente do BCB, também não interessa uma taxa exagerada de juros, em virtude dos riscos de colapso que ela pode engendrar, coisa que os Markets Boys do BCB, não querem ou são incapazes de compreender, pois preferem querer ser mais realistas que o rei. Quanto a nossa auto intitulada mídia. especializada, continua fazendo tudo o que o seu mestre manda. Embora uns poucos dirigentes do mercado financeiro já tenham percebido o perigo, a maioria continua inebriada com os ganhos propiciados com a atual taxa pornográfica. No entanto, é preciso despertar do sonho de usura, pois se a quebradeira começar, os ganhos auferidos não vão compensar os prejuizos da quebradeira e aí o darma vira karma e adeus nirvana.

  3. Nassif, bom dia. A própria jurisprudência do CADE define a dimensão internacional para os mercados em que a empresa opera. Ou seja, concentração de mercado insuficiente, segundo os parâmetros dispostos no Guia de Análise de Atos de Concentração do órgão.

  4. “O mais curioso é que essa política suicida afeta diretamente o sistema bancário, reduz o mercado de crédito, aumenta o risco de inadimplência, afetará diretamente o resultado bancário.” Ou seja, não há cui bono que se aplique a uma situação como essa. Ou não? Façamos uma analogia com as gigantes da indústria química, em especial a dos defensivos agrícolas e outros venenos. Eles podem vender sua produção lá fora, nos EUA, na Europa? Não, não podem. Há forte legislação controlando esse comércio, lá fora. Portanto, onde vender essa produção? Aqui, no Brasil, no Terceiro- Mundo-se-for-piada-no-exterior, onde Deus não existe, pois tudo é permitido. E dane-se a população, dane-se o câncer e o sistema de saúde sucateado, é até bom que morram aos magotes e deixem de dar despesa e aporrinhação ao Estado (leia-se, aos controladores do orçamento e donos de títulos da dívida pública). A mesma coisa se dá, creio eu, totalmente leigo em economia, com os juros. O que não é possível – teoricamente – ganhar lá com esse expediente, ganha-se aqui, contando ainda com o auxílio luxuoso do câmbio, em país de moeda desvalorizada. US$ 1,00 = R$ 5,00 + juros 13,75 a.a., e é só correr pra galera. Me parece algo tão simples, que às vezes eu acho que estou pensando bobagem, ou me deixando enganar por aparências. Deve haver algo no meio, exprimível somente em economês (que eu não entendo), que prove que não é bem assim, que o buraco é mais embaixo, e infelizmente, por ora, tem que ser assim. Não sei. Mas creio que, depois de termos sido uma colônia (aberta e descaradamente explorada, o que é normal), somos hoje um entreposto financeiro, um motel de beira de estrada onde o livre fluxo de capitais pernoita e engorda. Ou coisa que o valha. Uma coisa é certa, mesmo para um leigo: seguimos, como tem sido nos últimos 523 anos, enriquecendo os países centrais. Enfim, não é questão, Nassif, de o mundo não se comportar conforme o desejo da autoridade monetária daqui. É uma questão de não se comportar conforme o interesse dos países centrais. O senhor e chefe dessa gente não fala português, não é gente bronzeada querendo mostrar seu valor. São brancos de olhos azuis.

  5. Sempre gostei de analisar conceitos.
    Por exemplo, a ideia de técnica. Em outras palavras, o BC é um órgão técnico.
    O que se quer dizer com isso?
    Num primeiro momento significa que ele segue regras impessoais. Como se fosse possível criar um algoritmo, isto é, um programa de computador desprovido de vontade humana – entendida essa vontade como algo “não técnico”. Enfim, a técnica seria algo parecido com a Lei da Gravidade.
    Para entender melhor, suponhamos que o STF fosse considerado uma instituição técnica. Esse exemplo, embora de maneira menos consensual, será usado como forma de melhor demonstrar o que seria um BC técnico. Isto é, um BC regido por regras impessoais, blindadas dos interesses particulares dos seres humanos.
    No caso do STF técnico os Ministros deixariam de existir. Pois, bastaria criar um software com as leis, jurisprudência e uma pitada de Inteligência Artificial para ir se aperfeiçoando a partir das novas leis e seus respectivos julgamentos e assim, ir criando novas jurisprudências.
    Dessa forma, nesse STF técnico os peticionários entrariam com suas demandas e o sistema instantaneamente daria a resposta. Condenado. Inocente. Pena “X”, pena “Y”. Cabe recurso, tem “n” horas para entrar, etc. Seria um STF técnico, neutro, impessoal.
    Para voltar ao exemplo anterior, funcionaria como a “Lei da Gravidade”. Uma “lei técnica” que não vê se quem está caindo é o dono do Facebook, o Presidente dos EUA ou o mendigo que dorme debaixo do Viaduto do Chá em São Paulo. Afinal, ele é determinado por uma regra técnica, impessoal.
    E assim seria o BC técnico. Doa a quem doer. Ganhe ou perca os rentistas da Faria Lima ou a empregada doméstica moradora do Morro do Alemão, não importa. O BC é técnico, neutro, impessoal. Um órgão regulador da “Lei da Gravidade Econômica”, para melhor da vida socioeconômica de todos os brasileiros, sejam bilionários ou miseráveis, trabalhadores ou rentistas, jovens ou velhos.
    Enfim, seria um órgão técnico, neutro. Para isso, só falta fazer um software, sem interferência dos caprichos humanos para dirigi-lo. Isso feito, a diretoria e a presidência do BC seriam demitidas. E aí, pronto. Teríamos um BC perfeitamente técnico.
    Só falta combinar com os bilionários e rentistas. E com a natureza divina para criar esse programa de computador, gestor do BC técnico.

  6. “Claro que 13,75% ao ano, com juro real próximo de 8%, está muito alto. Mas a inflação está alta em muitos outros países. Não dá para minimizar o custo econômico e social de uma inflação desancorada”. – Alberto Ramos, diretor de pesquisa macroeconômica para América Latina do Goldman Sachs. Pronto. Agora a taxa de juros do Brasil é usada para controlar não apenas a inflação doméstica, mas também a inflação de outros países. Só jênios.

  7. Vergonhoso e o povo se lascando isto é golpe contra o povo e o governo (eu nao entendo de economia mas entendo de situação do pais ) está quebrado

    Guedes está no meio desta lambança toda….

    O governo tem que encontrar outras saidas e esquece estes trastes….e nao paga juros altos para Paraisos Fiscais.. isto e ladroagem roubo

  8. O Campos Arrasados já disse Nassifão”A QUESTÃO É TECNICA”ou seja números,se abaixar os juros,seus patrões perdem BILHÕES de o povo paga, SIMPLESMENTE É A LÓGICA DO LUCRO,privatizar é LÓGICA DO LUCRO,autonomia do BC é o não controle do povo e do próprio Presidente sobre a economia,o desenvolvimento,os empregos é a LÓGICA DO LUCRO PRIVADO(palavra FORTE)em SAMPA quem tiver na vanguarda de ser contra a LÓGICA DO LUCRO(Sabesp)vai ganhar,Lei do intermitente? LÓGICA DO LUCRO q matou nosso mercado interno,as pessoas não ganham mais nem o salário mínimo q SABEMOS,é Superdefasado,lojas, indústrias cada vez mais fechando e sem perspectivas,estamos colhendo o q plantaram no golpe desde Temer em 2016,grandes empresas falindo agora é bom q se fale q é o resultado disso, senão vão jogar no colo do governo federal,os aliados precisam vestir a camisa do País, não é por acaso quererem calar a internet desde já,lembrem-se,absurdos contra o povo foram feitos com a convivência da mídia tradicional,a resistência sempre foi os ALTERNATIVOS,sem mais,obg equipe ggn !!!

  9. Nassif, penso que existe um outro fator que beneficia os mercadores de dinheiro. É a marcação a mercado dos títulos de renda fixa. Os investidores que compraram títulos por valores altos e taxas baixas no passado, em última análise poupadores não financistas, precisam vender por preço baixo nos momentos de taxas altas. Os que perdem emprego precisam vender para viver e pagar dívidas. Os que tiveram seus pequenos negócios quebrados, idem. Quanto mais tempo as taxas se mantiverem nos patamares elevados, maior a transferência de patrimônio entre poupadores e os especuladores. Acho que a iniciativa do Lula é algo que poderíamos alardear com força: chamar a Selic de taxa de controle do desemprego tem enorme apelo até para leigos.

  10. O uso dos juros altos se tornou uma política permanente no Brasil depois que encerrou o tempo de hiperinflação. Tão comum ficou que todos de um jeito ou de outro, acabaram se adaptando a isso. A economia brasileira vai seguindo assim. O País perdeu a ambição de se desenvolver e estar entre essas economias bem realizadas. Dependendo do câmbio, o País está colocado mais acima ou mais abaixo no ranking dos PIBs mais volumosos. Todas essas relações que se conectam em uma economia, não tem tanta importância aqui. Ninguém vai trazer soluções de desenvolvimento para o País, no máximo se vai explorar o mercado brasileiro e o que ele tiver pra oferecer. Essa coisa de ficar olhando fora do País e vivendo da sombra das expectativas dos outros, subordinando o Brasil de acordo com o que acontecer é algo já estabelecido. Correr riscos está fora de questão; a sociedade é dividida e não existe formas de mobilidade e de ascensão social, essas ocorrências são consequentes da multiplicação de oportunidades decorrentes de uma economia dinâmica e que busca o crescimento através do desenvolvimento. A independência, a autonomia do Banco Central é menos o problema, o País não almejar um projeto de desenvolvimento e não trabalhar por isso, virou o maior problema. Bem ou mal o Brasil tem uma economia de porte; pode ser insuficiente ao próprio País, mas atende muitos interesses. Esse empobrecimento em certas partes da sociedade, prejudica, mas não impede que o País permaneça seguindo em frente, sem incorporar uma visão na direção do crescimento e do desenvolvimento como meio de fortalecimento do Brasil é difícil sair dessa situação.

  11. Inflação sempre subindo e a taxa de juros sempre na dianteira da inflação. Acham pouco a inflação e por isso a condimentam com uma estratosférica taxa de juros. Não há nada tão ruim que não possa piorar.

  12. O MONSTRO É A INFLAÇÃO?PQ OS PRODUTOS E SERVIÇOS SUBIRAM MUITO MAIS Q A INFLAÇÃO?PQ PAÍSES COM INFLAÇÃO MUITO MAIS ALTA TEM JUROS MUITO MENORES?RESPOSTA: ESPECULAÇÃO MONETÁRIA OU LÓGICA DO LUCRO .OBS.: COMENTÁRIO NO CALOR DA EMOÇÃO APÓS EU ASSISTIR UM “ESPECIALISTA”COLOCAR A INFLAÇÃO COMO O MONSTRO E DIZER Q NÃO SE PODE ABAIXAR JUROS NA MARRA,ORA APROVARAM A AUTONOMIA DO BC PRATICAMENTE NA MARRA,CONTRA OS INTERESSES DO PRÓPRIO PAÍS,DAS PESSOAS,DOS TRABALHADORES E PASMEM DOS PRÓPRIOS EMPRESÁRIOS,ISSO É A HERANÇA DO BOLSONARISMO,VOU DAR A SOLUÇÃO,É SÓ CORTAR O BOLSA BANQUEIRO PAGO PELO GOVERNO FEDERAL,TIRAR A MAMATA DOS PARASITAS(LINGUAGEM BOLSONARISTA CONTRA OS EFEITOS BOLSONARISTAS DE UM PRESIDENTE BOLSONARISTA)

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