Muito alto, muito perto
por Fernando Horta
No dia 1º de maio de 1951, Getúlio Dornelles Vargas discursava para os trabalhadores após voltar a presidência, desta vez por meio de eleição. O último mandato de Vargas não seria terminado em função de seu suicídio e é marcado pela aproximação do presidente das massas trabalhadoras. No texto original do pronunciamento, Vargas faz apelos à sindicalização e ao apoio a ele, pois sabia que o parlamento tinha a maioria nas mãos da oposição. A UDN (partido de oposição bastante violenta na época) tinha conquistado a maior quantidade de cadeiras e Vargas tinha consciência de que além desta oposição interna, também experimentaria a internacional. Afora a linguagem da época, o conteúdo do discurso é bastante atual:
“Ouço o clamor dos vossos apelos mais prementes; calam-me fundo na alma o desamparo, a miséria, a carestia da vida, os salários baixos, o dinheiro que não chega para as necessidades mais inadiáveis, a luta contra a doença, o desespero dos desvalidos da fortuna e as reivindicações da maioria do povo, que vive na esperança de melhores dias. É profundo, sincero e incansável o meu esforço para atender a esses reclamos e achar solução para essas dificuldades que vos afligem.
(…)
Chegou, por isso mesmo, a hora de o governo apelar para os trabalhadores e dizer-lhes: uni-vos todos nos vossos sindicatos, como forças livres e organizadas. As autoridades não poderão cercear a vossa liberdade nem usar de pressão ou de coação. O sindicato é a vossa arma de luta, a vossa fortaleza defensiva, o vosso instrumento de ação política.
(…)
Medida de grande relevância, que é um dos pontos fundamentais do atual programa governamental, é a extensão dos benefícios da legislação trabalhista ao trabalhador rural, principalmente no que diz respeito à assistência médico-social, moradia e educação dos filhos, salário mínimo, direito à indenização e estabilidade no emprego.”
Talvez ainda não lhe tenha sido dito, mas foi sepultado no Brasil, após votação no senado, um grupo de leis que tem origem em lutas ainda no século XIX. Os primeiros sindicatos foram fundados em 1881 na Bahia. Em Salvador, a Associação Tipográfica da Bahia, a Liga Operária Bahiana e a Companhia de Operários Livres União e Indústria. As lutas trabalhistas, que começaram pelas reivindicações mais básicas como jornada de trabalho, descanso semanal e proibição do trabalho infantil estão sendo destruídas pela “flexibilização” que, no fundo, servirá como porta para retirar ainda mais direitos, uma vez que temos um exército de desempregados no Brasil.
Todas as greves e as discussões ocorridas no Brasil a partir de 1910, com ênfase em 1917 trouxeram direitos que – bem ou mal sobreviveram ao Estado Novo, à Ditadura Militar, à primeira onda neoliberal de Collor e à segunda de FHC. São, portanto, mais de cem anos de lutas, a maioria marcadas a sangue, que foram destruídas pelas votações deste ano. Eu não compreendo a inércia da classe trabalhadora brasileira. Talvez tenham se convencido de que não são trabalhadores, são “colaboradores”. Tenham se convencido que “tudo o que vem do comunismo é ruim” e por alguma associação bizarra entre ignorância e porcas leituras de internet, ligou legislação trabalhista a comunismo. São muitas as teses sobre esta apatia quando um governo ilegítimo ataca quase 200 anos de manifestações, mortes, prisões e agressões aos trabalhadores e trabalhadoras que lutaram pelos direitos que hoje entregamos de mão beijada. Com aplausos.
Não, senhores e senhoras; seus filhos não serão “empreendedores”. Não são palestras e repetições de fragmentos de teorias econômicas liberais que terão o condão de permitir que seus filhos sejam futuros milionários. A verdade é que por um individualismo de extremo egoísmo as proteções sociais que seus pais e você gozaram para chegar até aqui não existirão para seus filhos. Somos a primeira geração de brasileiros a desamparar nossos filhos. E fazem isto enganados por um sonho de meritocracia que não só não tem correspondência em local nenhum do mundo, como no Brasil não há mínima possibilidade de ocorrer.
Hoje foram as leis trabalhistas. Seus filhos e netos expostos cada vez mais à barbárie de um capitalismo pós-industrial num país que nunca completou efetivamente sua industrialização. Amanhã a previdência, e logo após o desmonte dos sindicatos e da educação pública. Simplesmente acabando com todo e qualquer caminho que poderia levar à alguma mobilidade social. Pobre e trabalhador no Brasil acabaram de virar uma casta. Nascendo nela não haverá chance de modificar. Nos EUA, por exemplo, os sindicatos foram desmontados nos anos 60 e, desde então, NUNCA HOUVE aumento real no salário médio do trabalhador de lá. E a produtividade já cresceu 400%.
Agora compare todos os direitos que estão tirando dos seus filhos com o que prevê a nova LOMAN, por exemplo. O poder judiciário vai dar aos seus membros um valor mensal, até que seus filhos façam 22 anos, de mais de cinco mil reais a título de “auxílio educação”. Na meritocracia com a qual te enganaram nossos filhos não terão nenhuma ajuda do Estado … os filhos das elites (econômicas ou burocráticas) viverão das benesses deste mesmo Estado. O fosso entre eles, no futuro, será intransponível.
Mais do que reverenciar as lutas do passado, era preciso defender o nosso futuro. As futuras gerações não mereciam a traição que lhes estamos deixando. Tenho certeza que se Vargas vivo estivesse teria atirado contra os legisladores ao invés de mirar em seu peito. A vilania e desonestidade dos atuais parlamentares vai ser paga pelo seu filho e pela sua filha, que terão uma vida muito mais desamparada. Todos o caminho que você pensou ter trilhado para facilitar o deles foi anulado por parlamentares que continuam a manter os seus privilégios.
Você pode voltar a assistir um blogueiro mal-intencionado a dizer-lhe que tudo vai melhorar, ou ler fragmentos de escritos econômicos de austríacos do século XIX mal interpretados por jovens sem formação própria no Brasil. Pode convencer-se do que quiser, seus filhos viverão numa sociedade de castas e lhe cobrarão isto no final da vida. E gritarão muito alto e muito perto para vencer a nossa surdez …
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Esse texto me dói na lama, é
Esse texto me dói na lama, é isso mesmo, diante de nosso egoísmo e ignorância tiramos de nossos próprios filhos para dar aos filhos deles condições de escravocratas. Desculpem-me filhos, sou um fraco, um derrotado (como eles diriam um looser).
muito….
“Conheceis a verdade. E a Verdade vos libertará”. Então nossa Elite Esquerdopata se revela. A mesma que preferiu apoiar a um Ditador, que tomou o Poder de forma ilegitima pelas armas, ao invés de lutar pela manutenção de eleiçõe livres e naquela época facultativas, legitimadas pela liberdade e por alunos da Faculdade de Direito de SP, que vieram a morrer para defender tal liberdade. Um cargo na elite do serviço público dado a seu símbolo maior, Prestes, e Imposto Sindical obrigatório e ditatorial, revelaram a mediocridade e pequenez de tal elite esquerdopata. E ainda querem expliar o Brasil de 2017, 40 anos depois de retornarem ao poder. As fotos do artigo demonstram o tamanho da incompetência e fraude. Não à toa nem uma única linha sobre: “do povo, pelo povo, para o povo”. Eleições livres e obrigatórias em plebiscitos e referendos com voto facultativo. O suilêncio e a censura revelam mais que as palavras.
Cara, vc tem problemas
Cara, vc tem problemas
Comigo não, cara pálida!
O escriba que concebeu este artigo é o mesmo que andou defendendo teses diversionistas em série de artigos recentemente postada aqui no GGN. Ele chegou a escrever besteiras colossais, como se os EUA não estivessem por trás da trama golpista, para se apropriarem de nossas riquezas e setores estratégicos, assim como desmantelar os setores em que as empresas de capital nacional competiam com as estadunidenes.
Incomodado com as duríssimas críticas, ele apelou e passou a desqualificar os leitores que divergiram dele, indicando textos que supostamente mostrariam que esses leitores críticos eram pouco inteligentes ou mal informados. Agora Fernando Horta joga para cima de nós, leitores, trabalhadores uma responsabilidade que não é apenas nossa.
Eu jamais me deixei enganar com as tais “jornadas de junho de 2013” e desde quando ocorriam denunciei que se tratava do lançamento das sementes do golpe em terreno fértil.
Não nos meça com sua régua, Fernando Horta. Participei e participo das manifestações contra o golpe e contra essas deformas que nos retiram direitos. E você? De quantas participou ou participa? Ou o escriba pensa que a revolução e a reconquista dos direitos cassados serão obtidas apenas por meio de aulas, artigos e livros? Apontar o dedo para os outros e criticá-los por inação é fácil. Difícl mesmo é encarar cassetetes, cavalaria, bombas e jatos d’água jogados pelo aparelho repressor contra aqueles que saem às ruas contra o golpe de Estado e contra a revogação de direitos.
Meu trabalho é externo e em
Meu trabalho é externo e em grande parte do tempo estou na periferia de uma metrópole. Logo antes da Dilma ser expulsa pelos golpistas, observava o silêncio ensurdecedor destes lugares. Nenhuma reação, nada, o povo assistia a tudo sem entender direito o que se passava.
Pensava comigo: esse povão não tem a mínima noção da gravidade do que está acontecendo, do grande risco que está correndo, ele estão indo calmos e tranquilos para o abate.
Não tenho pena dos midiotas da classe que aposentaram as panelas e agora desconversam postando fotos de gatinho no face (como se essa porra toda não tivesse nada a ver com eles), tomara que todos acabem trabalhando 14 horas por dia com finais de semana dirigindo um Uber, só sinto tristeza por esse povão da periferia que estava começando a sair das catacumbas da miséria humana.
Não vamos esquecer…
Não vamos esquecer que em quatro, QUATRO! Eleições presidenciais sucessivas o povo fez escolha pela opção progressista “viável” que lhe foi apresentada. Os escolhidos, e a entourage, é que por erros de estratégia, incompetência, fascínio pelo poder, pouco caso, egoísmo, falta de caráter ou, talvez mesmo, malcaratismo, não corresponderam às expectativas e, no caso da última eleição, descambou-se mesmo para um descarado estelionato eleitoral, trazendo o neoliberalismo de volta ao poder.
Tempos Modernos
Soh é possivel compreender o silêncio dos sindicatos se pensarmos que ou foram cooptados ou estão assustados ou estão desmotivados. Quanto à sociedade… Boa parte deve estar pensando que a reforma trabalhista vai fazer a economia girar e trazer mais empregos. O problema dessas “reformas” do Mercado é que a discussão em torno do que se esta fazendo e com qual finalidade é falsa. E o que supreende é que a maioria assimila os discursos da imprensa como algo positivo, mesmo quando sentem que la no fundo estão corroendo seus direitos. Mais uma vez precisamos de um povo mais instruido, atento, com condições basicas de sobrevida e não desesperado em ganhar o pão de cada dia e conseguir chegar “la”. Seja esse la onde for.
Direitos trabalhistas
O silêncio dos sindicatos? e a greve geral convocada pelas centrais sindicais ( CUT, UGT, CTB, CSB, NCST, CGTB e Conlutas) em 28 de abril que mobilizou mais de 35 milhões de trabalhadores em todas as regiões do Brasil.
O historiador Fernando Horta, não se considera trabalhador, na concepção do ilustre conhecedor da História do Brasil, trabalhador é o pobre assalariado, imagina um intelectual participar de protestos contra a reforma trabalhista de uma OrCrim travestida de um Congresso Nacional aliada a um governo ilegítimo e fora da lei.
Os responsáveis pela perda dos direitos trabalhistas, do retorno da escravidão, do retrocesso, da alteração de mais de 100 artigos da CLT são os trabalhadores brasileiros que vão às ruas protestar contra a reforma trabalhista e apanham da polícia, são atingidos por bombas de gás, spray de pimenta, balas de borracha e presos.
Horta, você diz que não compreende a inércia da classe trabalhadora e a sua inércia, afinal protestos de rua são um perigo, um risco de vida, pois é, alguns dizem que o certo, é risco de morte.
Já que você citou Getúlio Vargas, transcrevo trechos da carta testamento.
Sigo o destino que me é imposto.
Depois de decenios de domínio e espoliacao dos grupos econômicos e
financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução. Iniciei
o trabalho de libertação e instaurei um regime de libertação social.
Tive que renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se a dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no congresso. Contra a Justiça da revisão do salário-mínimo desencandearam os ódios.
Quis criar a liberdade nacional na potencialização de nossas riquezas através da Petrobrás, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente.
Assumi o Governo dentro da espiral inflacionaria que destruia os valores do trabalho. Os lucros das empresas
estrangeiras alcançaram até 500% ao ano. Nas declarações de valores que importavamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano.Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder.
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.
Pergunto aos historiadores e economistas do Brasil, qual país tem em sua história um Presidente que deixou uma carta testamento?
Getúlio Vargas denuncia na carta testamento, a interferência internacional na economia e na política brasileira, as ameaças aos direitos trabalhistas, o ataque das classes dominantes nacionais à Petrobrás e Eletrobrás.
Os inimigos do Projeto de nação do governo Vargas, são os mesmos que aplicaram um golpe parlamentar e destituiram uma Presidenta eleita democraticamente, grupos antinacionais e antipatriotas aliados à grupos internacionais (EUA).
O pacote de desmonte da Petrobrás, BNDES, da Justiça do Trabalho e dos direitos trabalhistas legados varguistas, será por acaso? Não. A resposta deixo para os historiadores.
O inimigo do Brasil são os cleptocratas e os plutocratas do judiciário, do MP e o empresariado. Os Estados Unidos são oportunistas sabem que a elite brasileira é mercenária, fede e que nasceu para obedecer e servir aos americanos.