Genocídio de Yanomamis é exagero: Salles cria realidade paralela para negar fracasso enquanto ministro

Para o agora deputado federal, nenhum dos problemas deixados pelo governo Bolsonaro são de sua responsabilidade.

Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. | Foto: José Cruz/Agência Brasil

Aumentou o volume de garimpo ilegal na Amazônia? “O problema sempre existiu”. O governo Bolsonaro cometeu uma tentativa de genocídio dos indígenas dos povos Yanomami? “A culpa é do tráfico de drogas e da dificuldade em monitorar fronteiras”. Países voltaram a conceder fundos de preservação da Amazônia, interrompidos no último governo? “Mas o Brasil deveria receber bilhões em crédito de carbono desde a formalização do Protocolo de Kyoto, em 2005”.

As respostas dos questionamentos acima parecem absurdos, mas a impressão de quem assiste à entrevista de Ricardo Salles, deputado federal (PL-SP) e ex-ministro do Meio Ambiente na gestão Jair Bolsonaro (PL) até junho de 2021, ao UOL é a de que nada de ruim aconteceu durante a gestão e o que aconteceu é anterior a 2018, não sendo responsabilidade de Salles ou do ex-presidente.

Cerca de 570 crianças morreram de fome, desnutrição, malária e outras doenças nos últimos quatro anos. Somados os adultos, o total de vítimas é ainda maior.

“O problema dos Yanomami é muito antigo. 20 anos atrás a gente se lembra que houve aquela chacina dos Yanomami. É um território que tem muita influência do tráfico de drogas, uma região de difícil acesso. Então, já há muitos anos, décadas para ser sincero, aquela região sofre uma série de fragilidades institucionais”, justificou o ex-ministro.

Sendo assim, Salles acredita que a palavra “genocício” de Yanomami é “um pouco exagerada”, pois ainda que o problema seja grave, a condição de vida dos indígenas se tornou precária por influência do crime organizado internacional que atua na região norte.

Garimpo legalizado

Apenas no ano passado, o garimpo na terra Yanomami provocou o desmatamento de 232 hectares da floresta amazônica, segundo levantamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Salles, no entanto, nega que a gestão de Jair Bolsonaro tenha facilitado a busca por ouro nas reservas indígenas ao longo da gestão.

Até porque, para o ex-ministro, o problema Yanomami versus garimpeiros também vem de longa data. Para ele, o que faltou foi um projeto para lidar com a demanda da mineração em toda a Amazônia e que até os próprios indígenas fazem garimpo.

A solução seria estabelecer a proibição total de todo o garimpo ou criar uma situação de que a mineração fosse feita de forma adequada, a exemplo do trabalho da Vale em Carajás, no Pará.

Boiada

O agora deputado federal também lamentou não ter conseguido “passar a boiada”, expressão, segundo ele, descontextualizada pela mídia, pois ele se referia ao processo de desburocratização de todos os ministérios.
“O Brasil padece de um grande arcabouço burocrático irrecional.”

No dia seguinte à posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a Alemanha anunciou o envio de 35 milhões de euros (aproximadamente R$ 200 milhões) ao Fundo Amazônia, que parou de receber investimento de outros países devido à gestão de Jair Bolsonaro.

Mas para Salles, isso não importa. Ele se diz cético em relação às contribuições internacionais, tendo em vista que “o Brasil teria direito ao repasse de 380 bilhões de dólares (aproximadamente R$ 2 trilhões) por compensação de crédito de carbono”, mas que tal valor “nunca foi pago antes mesmo do governo Bolsonaro”.

Assista a íntegra da entrevista neste link.

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Camila Bezerra

Jornalista

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