Afinal, a ficção sempre acompanhou os pesares da humanidade
por Maíra Vasconcelos
*para escutar leitura do texto: 110725_001
Hoje, ao ler os jornais, percebi que o entendimento da realidade na vida das pessoas é de variação inalcançável a olho nu. Menos na ficção, onde um piscar de olhos pode justificar uma obra. Já os jornais, ora, jornais não estão em circulação para acudir desesperados. Aliás, cuidado, jornais apenas podem desorientar. Na Espanha, número de infectados chega a 17 mil e 767 pessoas morreram. E, assim, essa simples obrigação de informar.
Se alguém infarta após a leitura, pois bem, o infarto de um leitor nunca foi manchete de jornal. Onde já se viu coração de leitor ser capa de jornal. Por exemplo, uma não-notícia diria, senhor morre de infarto após ler a primeira linha da fatídica notícia de ontem. Enquanto a ficção pode fazer de um só morto o sentido absoluto de toda uma obra que terá mais páginas do que os jornais.
Na Itália, 2 mil pessoas morreram após contrair vírus. Então, há uma enorme diferença entre informar e salvar. Jornais não salvam sequer seus leitores infartados. Claro está, as informações não podem esperar o bem-estar dos corações. Apenas a ficção é capaz de torcer qualquer realidade para extrair dela alguma beleza, algum sentido distraído de todo cotidiano.
E hoje, ao ler os jornais, havia uma correria nas palavras para atualizar o número de mortos a cada hora, em cada país, em cada cidade. Ah. Mas que alívio saber que a ficção existe assim como existe a realidade. E em sua existência, a fantasia quererá sempre mudar o segundo de um olhar que se vê atingido por notícias fúnebres. Afinal, a ficção sempre acompanhou os pesares da humanidade. E as maiores autoridades públicas nunca resolveram os problemas do mundo, diria outra não-notícia.110725_001
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