Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Anarriê, Alevantú VII – Decadência cultural? Só se quiserem, por Rui Daher

Assim, que desde as primeiras décadas deste século me decepciono com um empobrecimento cultural no Brasil e outro, pior, pois geral.

Anarriê, Alevantú VII – Decadência cultural? Só se quiserem.

por Rui Daher

Preâmbulo

Perceberam, né? Mais uma vez, em mais de 15 anos, mudei o título daquilo que já foi comentário, colaboração, blog, crônica e, agora, coluna. Tanto faz. São textos, crônicas, contos, novelas, palestras, constituídas de palavras, formadas cuidadosamente por letras e gramática corretas, que dão puta trabalho dispor ao público leitor, sem ao menos ter alguma noção se ele existe. Claro que ganho com isso: uma puta satisfação e alto orgulho. Dá para viver.

Quem assim se contenta, persistentes são. Menores, talvez, em relação aos maiorais que se acham capazes de em duas linhas nas plataformas digitais se acharem “reis dos likes”. Para eles basta. Para mim, confunde.

Não nego ser, culturalmente, um tanto saudosista. Noções entranhadas pelos monges beneditinos de São Paulo que me iluminaram para a escrita e a luta pela justiça social. Há mais de seis décadas, lembro de quando ouvia os discursos de João Goulart, Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Almino Afonso, Euzébio Rocha, defensores da Petrobras, outros, no Comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964, colado na Rádio Marconi (SP), prestes (opa!) a apostar no socialismo chegando ao Brasil.

Não tinha completado 19 anos, quando fiquei órfão de pai (salve Fritz – já expliquei até em livro – ele, filho de palestinos, que me deixou aos 43 de idade, mas não me fez deixar de ter orgulho de ascendência imigrante árabe e ainda amá-lo.

A História diz que, três anos depois do meu nascimento, apoiado pelo Brasil, Israel viraria Estado e nós, árabes sem Estado, exército, petróleo, até hoje, servimos para o contraditório: luta entre terroristas e o poder bélico de Israel no campo de massacre de Gaza.

O título

Devo já ter contado aqui, e uns cinco leitores devem ter memorizado que, em 16 de agosto, completei 78 anos de vida. Assíduo otimista, antecipo ser um octogenário. Não galhofem e nem aguardo a volta do Messias não judaico, “aquele”, o nosso que, felizmente, passou; o deles ainda não veio.

Culturalmente, mesmo antes do medíocre período bolsonarista, que ainda pretendo discutir, pois o acho o real espírito do brasileiro desde a chegada dos portugueses, uma colonização da qual nunca nos livramos.

Assim, que desde as primeiras décadas deste século me decepciono com um empobrecimento cultural no Brasil e outro, pior, pois geral. Mais do que o acidente que, há dois anos e meio, me deixou, parcialmente, imobilizado, me incomoda não ver mais viçosa a cena cultural brasileira. Aí, e mais uma vez aqui me pergunto se sou passadista.

Eis que surge, ouço e penso: estamos voltando! É o álbum novo (outubro, 2023 nas plataformas) de Zeca Baleiro, o José Ribamar Coelho Santos, nascido em Arariri (MA), hoje com 56 anos. Em sua carreira, já compôs maravilhas, não se fixando apenas nos sons nordestinos, indo do rock, aos galope, caipira, mar de Caymmi, além de uma apresentação histórica, junto a MISS GAL, mixando “Vapor Barato” e “Telegrama”, como se fosse a mais digna homenagem à Gracinha, Maria da Graça Penna Burgos, que na capa do LP “Índia” (1973), censurada pelo governo ditatorial militar, se mostra deixando qualquer homem louco de paixão … e mais!

O disco novo a que me refiro, no entanto, é exclusivamente voltado a sambas. Há pouco a escrever. Precisa ouvir. Muito. Poderia, música e letra, ter sido musicado e escrito pelos maiores autores do samba e, ainda assim, seria inconfundível e essencial. Não percam “O samba não é de ninguém”, novo lançamento de Zeca Baleiro, é um sopro de ar limpo dentro da mediocridade cultural de hoje em dia.

Sem desespero, pois. Anarriê, Alavantú, enquanto aceito, trará boas revanches ao ‘agronojo’.

Rui Daher – administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

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