Entrevista com Jair Bolsonaro
por Rui Daher
Jornalista de nenhuma expressão no país e diante da recusa de outros ainda menores, fui destacado a cobrir para este GGN a volta ao Brasil do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, autoexilado na terra de Mickey. Com extrema prudência, pedi à minha editora, Lourdes Nassif, se poderia enviar um de meus repórteres da velha Redação do Blog (BRD), os solertes Nestor, Pestana e Everaldo. Não era mais intenção falar ou escrever o nome desse sacripanta. Esperava ele, para sempre, em Orlando, Flórida, EUA, fazendo cover do Pateta.
Ela foi direta. “Pedi, mas eles disseram preferir a demissão”. Como “Amigo é pra essas coisas” (Sinval Silva Jr./Aldir Blanc), topei.
Chegando ao aeroporto, percebendo ao meu lado, a iluminada presença da jornalista da Globo News, Natuza Nery (machismo confesso), acabei me distraindo e ficando para último da fila. Rapidamente, tirei da mochila um boné do PL (Partido Liberal), joguei nas costas uma bandeira “oito de janeiro” e gritei: “Presidente, aqui só tem jornalista de esquerda, o senhor me concederia uma entrevista honesta? Sou da Jovem Pan”.
– Pois não, votou em mim?
– Claro! Em quem mais?
Pergunta: “Presidente, o que achou do que disse Chico Buarque na entrega do Prêmio Luís de Camões? Somente para lembrá-lo, aquele diploma que, em 2019, o senhor se negou a assinar. Repito as palavras do artista, em Portugal: “reconforta-me lembrar que o ex-presidente teve a rara fineza de não sujar o diploma do meu Prêmio Camões, deixando seu espaço em branco para assinatura do nosso presidente Lula”.
Capitão: “Se aquele feioso ganhou o prêmio foi porque as urnas foram fraudadas; como Presidente da República, nunca assinaria um prêmio cujo escritor está superado, pois ainda escreve com as mões [sic].
Pergunta: Presidente, o senhor e a primeira-dama gostam de joias caras?
Capitão: No máximo, bijuterias feitas por um cara lá de São João do Meriti (RJ), da ImitaçõesChopePardo. Aliás, estou puto. Como ele exporta e importa suas peças, só entrega aqui no aeroporto. Aguardo chegarem as duas petecas de penas retiradas dos pavões do Palácio do Planalto, minhas conforme dita a Carta Magna, sabe aquela grande, acho que escrita só em maiúsculas, para eu desafiar o Augusto Heleno, no Posto 6 de Copacabana (riso de escárnio).
Pergunta: O Presidente é bom nesse jogo, ouvi falar. Mas e se o General ganhar?
Capitão: Mando demiti-lo.
Pergunta: Presidente, de onde e por quem?
Capitão: Do Clube dos Marimbas, pelo chefe da Confeitaria Colombo, lá instalada.
Pergunta: Falando em peixes que habitam aquela ponta de mar, em Copacabana, banhando nosso Forte, o senhor é bom pescador?
Capitão: Uai, mais de 30 anos pescando a espécie de peixe Votus enganae imbecius, sem ter que fazer nada, a não ser me autodenominar mito e prometer a compra de arminhas. Nessa pescaria vou sempre bem.
Pergunta: Presidente, o senhor como comprovado democrata e liberal, não irá se importar, caso, com todo o respeito à sua pessoa, renome mundial, feitos positivos para todo Brasil, da Amazônia ao Instituto Butantan, passando pelos ruralistas e cantores sertanejos, sua maravilhosa prole de eficientes filhos, finalmente, à digníssima primeira-dama Michelle Bolsonaro, trabalhadora incansável, forte como uma lenhadora e rachadora de pedras duras, como diamantes, o que o fez perder as eleições para Lula, considerado corrupto?
Capitão: Um erro que eu mesmo cometi no início do meu mandato: ter impedido o Eduardo ser embaixador nos EUA. Desde aquele dia o Departamento de Estado norte-americano começou a boicotar meu governo, inclusive ajudando na campanha do “Nine”, aprovando as falsas urnas.
Pergunta: Presidente, mesmo não sendo mais nada, ao contrário dos membros do atual governo, não convidados, o senhor se propôs comparecer e liderar um trupé de cavalos no Agrishow, 2023, em Ribeirão Preto?
Capitão: Bom jornalista! Reparou que estou à frente do agronegócio, dos ruralistas, setor, homens e mulheres de raro discernimento no Brasil.
Pergunta: Entre tantos cavalos, qual deles estava montando o senhor?
Neste momento, RIP, o Regente Insano Primeiro, saiu em desabalada carreira, movendo braços como asas de borboleta fossem, em direção a um carro preto oficial da segurança. “APOIADORES conto com vocês”! Parou. Permaneceu alguns minutos imóvel. Liberou-se das asas, recuperou os membros (superiores, o inferior não sei), e fez a AK-47 reaparecer.
“Querem ver? Sou imbrochável, seus filhos da puta”! Você também, impostor JP”
Notei seus olhos alternando entre abertos, semicerrados e fechados. Na boca um esgar odiento apontava os dedos para os jornalistas e, de forma onomatopeica, ele gritava um histérico ratatá.
O disfarce caiu. Fugi. Até sentir um balaço imaginário atravessar minhas costas. Caí até o último grito de dor: “Dopado? Porra nenhuma! É demoníaco mesmo”.
Creio ter desmaiado borrado em fezes. Se morri, não sei; se sonhei também não. Mas, no céu, aparecia Glauber Rocha me aconselhava: “Nunca acredite que mais forte são os poderes do povo diante de Antônio das Mortes”.
Do povo, não, querido Glauber, não, mas do Cinema Novo, do Arena e “Opinião”, Zé Celso, Geraldo Vandré e Sérgio Ricardo, do Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE, do Corpo Dança, de Oscar Niemeyer, de “O Pasquim” (meu próximo texto), muitos outros que nos ajudaram o Brasil se afastar do fascismo.
Aguardo vocês novos. Ajudem-nos pelas artes e cultura.
Rui Daher – administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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