Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Barrigas e não-notícias na Operação Anti-Copa

Da “barriga” do cão Caramelo em 2011 até a atual que envolveu o experiente jornalista Mario Sérgio Conti e um sósia do técnico Felipão entrevistado como fosse o verdadeiro, revela como jornalistas da grande mídia transformam-se em metralhadoras giratórias sob a pressão do papel assumido de oposição política: atira-se primeiro para pensar depois. Mas nesse momento a pressão só aumenta com o hipotético cenário negativo para um ano eleitoral: de que não só a Copa seja um sucesso de organização como, pior, a seleção brasileira seja campeã. Pela dificuldade em montar bombas semióticas nesse momento (o ritmo dos jogos e dos debates televisivos tem isolado protestos e incidentes de organização), a grande mídia passou a mobilizar seu braço armado: os colunistas, sob o apoio das não-notícias na Operação Anti-Copa.

Para quem acompanha de perto as transformações da linguagem midiática, a tragédia dos mortos nas enchentes e deslizamentos de terra nas serras fluminenses em 2011 marcou o início das coberturas jornalísticas politicamente comprometidas com o papel de oposição ao governo federal.

Depois de uma disputa eleitoral polarizada no ano anterior entre Dilma e Serra onde se misturou política com religião, bolinhas de papel, intolerância e preconceito, a grande mídia iniciou naquele ano um processo de coberturas jornalísticas cuja pressão oposicionista que partia das reuniões de pauta explodia nos repórteres que deveriam nas reportagens, enquetes, entrevistas ou depoimentos buscar ansiosamente qualquer índice ou evidência da incompetência gerencial do governo.

 Um dos reflexos dessa ansiedade é a construção de personagens nas narrativas jornalísticas, estratégia discursiva onde se busca a legitimação de uma pauta por meio de um personagem elaborado muitas vezes com signos retóricos e ficcionais. Na corda bamba entre a ficção e a realidade, algumas vezes o jornalista despenca e surgem as vexatórias “barrigas” – gíria jornalística para designar uma grave bobeada de um jornalista que pensa estar publicando um “furo” quando não passa de engano ou má fé do próprio repórter.

Na cobertura da tragédia na serra fluminense em 2011 surgiu a “barriga” do suposto episódio do cão chamado “Caramelo”: diversos veículos se sensibilizaram com a suposta história do cão Caramelo que guardava o túmulo da dona morta pelos deslizamentos de terra. A foto era comovente com um cão vira-lata triste ao lado de uma cruz improvisada com tábuas de caixote. Porém, um detalhe: o cão não era o Caramelo, mas de um voluntário que trabalhava no cemitério local.

A tragédia e a fidelidade do cão da família seriam a cereja emotiva de uma cobertura jornalística cujo tom era acusatório a um governo que supostamente investia mais dinheiro público no socorro do que na prevenção de catástrofes.

O braço armado dos colunistas

Atualmente a velocidade da captação, edição e publicação que as novas tecnologias proporcionam se aliam com as fortes pressões nas redações da grande mídia para que pautas pré-estabelecidas sejam sustentadas e confirmadas. Essas pressões acabam explodindo no trabalho dos repórteres, alguns ansiosos em manter seus empregos ou alimentando ambições de ascensão profissional rápida.

E quando isso não é suficiente, a grande mídia lança mão do seu braço armado: os colunistas que irão a fórceps misturar informação com opinião.

A barriga cometida pelo experiente jornalista e colunista da Folha e O Globo Mário Sérgio Conti só pode ser analisada dentro desse contexto de ano eleitoral onde se apostavam todas as fichas na “bala de prata” eleitoral de uma Copa que seria caótica, uma vitrine quebrada por black blocs, com apagões energéticos, aeroportos lotados e aviões caindo.

As bombas semióticas, detonadas desde as grandes manifestações do ano passado, não estão sendo montadas durante a Copa com a mesma facilidade – problemas são relatados de forma isolada e manifestações anti-Copa se perdem no ritmo das reprises dos gols e as intermináveis mesas de debates.

Só resta a cobertura colocar em xeque a própria razão de tudo: a seleção brasileira, afinal se for campeã, será um evento fora da curva de um País que supostamente estaria à beira do abismo econômico.

Aqui e ali começam a serem montadas bombas semióticas que procuram criar na percepção pública de que haveria algo errado com a delegação brasileira: algo na organização, no espírito de equipe…

Por exemplo, a ardilosa matéria do IG Esportes “Chefe da Delegação Brasileira é Detestado entre os Jogadores” – veja foto acima. A manchete e primeiro parágrafo levam o leitor a acreditar que há uma crise hierárquica e de comando entre os jogadores e Vilson Ribeiro de Andrade, presidente do Coritiba. Só ao longo da matéria, percebemos que os desafetos estão no Bom Senso Futebol Clube (movimento criado por atletas para rediscutir o calendário do futebol e criar o fair play financeiro), mais precisamente os jogadores Alex e Deivid do Coritiba em um incidente que envolveu o time e o presidente no campeonato brasileiro após uma derrota.

É a não-notícia: um fato antigo requentado para criar uma falsa notícia por associação metonímica – mesmo sabendo-se que nenhum jogador da seleção participa do Bom Senso FC, leitores desatentos acharão que há um estopim de crise na seleção brasileira.

A ansiedade das metralhadoras giratórias

A ansiedade dos jornalistas os leva a se transformarem em verdadeiras metralhadoras giratórias, disparando primeiro para pensar depois. O caso da “barriga” com os sósias de Felipão e do Neymar entrevistados por um experiente jornalista que os tomou como verdadeiros parece comprovar isso. Mário Sérgio Conti viu naquelas supostas estrelas da seleção perdidas em um avião de carreira entre Rio e São Paulo em pleno momento da concentração da Copa do Mundo mais que um furo, mas o germe da suspeita: há algo de errado na seleção, que fez o técnico e sua principal estrela ir para São Paulo enquanto o resto da delegação está em Fortaleza.

Colunista encontra Felipão e Neymar em um 
avião: o que eles faziam longe da concentração?

Como colunista, Conti é um dos braços armados da grande mídia cujas matérias atravessam toda a linha de produção jornalística como pré-aprovadas pela confiança, experiência e salvo conduto ideológico. A pressão de uma possível Copa do Mundo bem sucedida e, o que é pior, com a seleção brasileira campeã é o pior cenário em um ano eleitoral onde a grande mídia assumiu o papel ativo de oposição política. E a pressão parece agora atingir também os colunistas, a pièce de résistance da Operação Anti-Copa.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

8 Comentários

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  1. imprensa hilariante, a missão

    Só analistas cabeças de bagre enxergam relação entre o desempenho da seleção e resultado eleitoral:

    1994 – Brasil campeão, Itamar faz o sucessor, FHC eleito.

    1998 – Brasil perde na final, mas FHC vence e se reelege.

    2002 – Brasil campeão, FHC perde, não faz o sucessor, Lula eleito.

    2006 – Brasil perde feio, Lula vence e se reelege.

    2010 – Brasil perde com torcida da globo contra o técnico, Lula faz a sucessora, Dilma eleita.

     

     

     

     

     

     

  2. Hilariante também foi o

    Hilariante também foi o comentário do Milton Neves, da Band e agora tb da Foia, logo após o jogo em que o Brasil venceu Camarões por 4 a 1. A seleção Brasileira passou, mas não foi bem, ao que o ex Jogador Neto retrucou: como não foi bem? um time unido, batalhador e que faz 4 gols e passou em 1º lugar no grupo. E o Milton, mas as redes sociais não estão gostando ! E o Neto : o que representam essas redes sociais? Parece que o Neto está mais honesto que o Milton, já que antes ele apenas repetia os comentários como se fosse opinião dele, sem se referir às redes sociais. Milton, eu que já te defendi aqui, desta vez  vc foi de uma maldade que só os “escrevedores” da FSP são capazes. Meus pêsames pela “barriga”.

  3. se o avião não cai

    Vamos derrubar um. 

    Com esse pessoal tudo é possível. Na mídia internacional já correu um zum zum zum que alguém abordou o chefe da delegação de Gana para produzir resultado em benefício dos apostadores. Foi desmentido pelo chefe da delegação.

    O ataque pode vir de qquer lugar. Nunca se sabe.

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