Monica de Bolle: China só é uma potência global por desenvolver uma política industrial

Economista aprova nova política industrial do governo e garante que países terão de se reindustrializar devido às mudanças climáticas

O governo federal lançou, na última segunda-feira (22), o programa Nova Indústria Brasil, que prevê R$ 300 bilhões de recursos financeiros para a ampliação da autonomia, da transição ecológica e modernização do parque industrial brasileiro.

Este foi o principal tema econômico da semana e, para comentá-lo, o jornalista Luís Nassif e a bancada do programa Nova Economia receberam, nesta quinta-feira (25), Monica Baumgarten de Bolle, pesquisadora Sênior do Instituto Peterson de Economia Internacional e professora da Universidade Johns Hopkins, e Marco Rocha, professor e pesquisador do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). 

Monica iniciou sua contribuição no debate refutando a ideia de que política industrial é “coisa velha”, como se repetiu amplamente na grande mídia ao longo da semana, especialmente porque nenhum país se industrializou sem uma política industrial.

A docente enfatizou ainda que há mais de dez anos existe uma discussão sobre a decadência da indústria, não somente no Brasil, mas em todo o mundo. A temática, porém, não está ultrapassada, tendo em vista a necessidade que diversos países têm de se reindustrializar, não só por vontade, mas também para se tornarem economias mais modernas e sustentáveis. 

Nos Estados Unidos, onde Monica Bolle atua e reside, a atual política industrial almeja enfrentar a China, que, aliás, só pôde chegar ao patamar de potência graças a uma política industrial.

Clima 

Já no Brasil, a política industrial obriga o governo a desenvolver uma política econômica de longo prazo e faz com que a modernização industrial seja uma forma de promover as mudanças estruturais necessárias para responder às demandas impostas pelas mudanças climáticas. “As indústrias precisam ser mais sustentáveis e todos os países terão de fazer um processo de reindustrialização”, afirma a pesquisadora.

“Boa parte dos países em desenvolvimento estão tentando sofisticar sua indústria, alterar a sua estrutura produtiva, promover mudanças estruturais, tecnologia de maior complexidade com maior capacidade de fazer preço de mercado e ficando menos sujeita a flutuações de tomadores de preço como são típicas da indústria brasileira”, acrescenta Marco Rocha.

Ambos os entrevistados defenderam que a iniciativa do governo Lula tem de superar questões de curto prazo, a exemplo do déficit zero e do custo Brasil, usados por economistas e empresários ao longo da semana para criticar o programa recém-lançado. “Temos de mover a política industrial para muito além do custo Brasil, que simplesmente não dá resposta para as duas grandes dimensões que são colocadas hoje em dia em termos de reorganização da estrutura produtiva global”, emenda o docente da Unicamp.

Outro ponto de atenção para o governo será a construção de um plano para fazer com que o país não seja, apenas, um consumidor de novas tecnologias, o que Marco Rocha descreve como um dos “velhos problemas da industrialização brasileira”.

Empirismo

Ao contrário do que defendem os liberais, o mercado não é capaz de resolver tudo sozinho, garante Monica de Bolle. Somente por meio do envolvimento do mercado e do Estado é possível responder às demandas sociais. 

A pesquisadora e organizadora de um novo livro com estudos sobre o nacionalismo econômico mostra que, desde o século XIX, a política industrial influencia o nível de desenvolvimento das Nações. “O que você percebe é que a depender do desenho da política industrial, ela é mais bem sucedida precisamente por saber identificar quais são os setores que realmente têm condições de prosperar naquele país, e ao saber os que vão prosperar, saber os que não vão prosperar. Saber fazer tudo isso de forma que a economia não se isole.” 

A partir desta análise sobre diversos países, a entrevistada do Nova Economia percebeu que um dos problemas do Brasil foi o profundo isolamento do resto do mundo, enquanto as indústrias deveriam ser montadas para abranger vários países. 

O segundo é o tradicional protecionismo praticado pelos governos, característica que Monica critica no programa lançado esta semana. “Protecionismo hoje em dia não vai funcionar. Um dos pontos que eu não gosto do plano Nova Indústria Brasil é a história das regras de conteúdo local. O Brasil tem mania de regras de conteúdo local, mas é um problema sério porque ela acaba onerando excessivamente os locais onde são impostas, são extremamente opacas e têm custos para os cofres públicos extremamente difíceis de medir. Esse tipo de protecionismo, isso sim a gente pode dizer que é antigo.”

Confira o debate completo no canal da TVGGN no YouTube ou no link abaixo:

CONFIRA TAMBÉM:

Camila Bezerra

Jornalista

2 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. PoiZé … e quem disse que o braZil “quer” se transformar numa potência industrial, tecnocientífica, militar, cultural, social … ?! Nada além de uma riquíssima reserva agromineral, mantida, predada e exaurida pelos capatazes e corretores “mérito-hereditários que representam menos de 1% da população braZileira, vivendo de comissões e renda. Até o nome do país é derivado de um pau extinto pela mera exploração predatória, da qual mal conseguimos evoluir. Nada melhor (para eles) do que intermediar a exportação para seus “clientes” pela exploração de terras férteis, fartas e imensas, águas idem, clima favorável nas quatro estações e uma populosa mão de obra mansa e manipulada (quando não paraescravizada). Tudo isso até que as futuras gerações recebam um gigantesco terreno baldio poluído, envenenado e cheio de lixo e sucata importada dos clientes desta nefasta e infame súcia aproveitadora que tais invejáveis terras não merecem. Uma imensa e vergonhosa lástima!

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador