A ata do Copom

Copom abre porta para medidas | Valor Online 

Copom abre porta para medidas

Fernando Travaglini | De Brasília
O Banco Central (BC) pode adotar novas medidas macroprudenciais e até mesmo rever sua estratégia de alta de juros no caso de uma convergência mais rápida da inflação para a meta. É o que diz o Comitê de Política Monetária (Copom), na ata da última reunião, realizada na semana passada quando o BC elevou em 0,50 ponto percentual a Selic, para 11,75% ao ano.

O cenário para a inflação piorou desde o início do ano, reconhece o BC, e os preços só devem começar a recuar no último trimestre. Mas a ata aponta também, em um cenário alternativo, com câmbio estável, juros a 12,50% e mais riscos externos, que a inflação poderia ficar “ligeiramente abaixo” do centro da meta já em 2012.

NessNesse caso, “a eventual introdução de ações macroprudenciais pode ensejar oportunidades para que a estratégia de política monetária seja reavaliada”, diz o parágrafo 31 da ata, divulgada ontem. O BC não deu nenhuma pista sobre quais podem ser essas medidas, que podem ir desde restrição ao crédito até novas elevações das alíquotas de recolhimento compulsório.

O texto foi visto pelo mercado como um indicativo de que o aperto dos juros será menor do que o esperado, com uma atitude mais “dovish” por parte do BC – “dovish”, é um neologismo em inglês que deriva de pombo (dove) e indica os defensores de taxas de juros mais baixas e uma postura mais tolerante com a inflação. “Interpretamos como um forte indicativo de que o aperto monetário será menos baseado em alta dos juros e mais dependente de ações macroprudenciais”, diz relatório do Barclays Capital.

Segundo análise do Bradesco, essa frase reforça a tese de apenas mais uma alta de 0,5 ponto percentual da Selic na reunião de abril. “A eventual adoção de uma medida macroprudencial forte, como sugerido na ata, pode até levar a uma reavaliação da estratégia de subida de juros já em abril, ainda que esse não seja nosso cenário base”, diz o banco.

Recente pesquisa feita pelo BC com economistas mostrou que, em média, o mercado avalia que as medidas macroprudenciais teriam efeito semelhante a uma alta de 0,75 ponto na Selic. Outras análises apontam que o pacote fiscal de corte de gastos contribuiria com mais 0,25 ponto percentual.

O Copom separou claramente dois momentos distintos para a inflação em 2011. No início do ano, na visão do BC, houve um choque de ofertas doméstico e externo, com parcela substancial dos efeitos já incorporados nos índices de preços. A inflação seguirá pressionada por esses efeitos, via inércia, até o terceiro trimestre, permanecendo em patamar elevado e podendo até subir mais.

A partir do quarto trimestre, porém, o BC enxerga uma “tendência declinante para a inflação acumulada em doze meses”, que deve se deslocar “na direção da trajetória de metas.” O BC, no entanto, não coloca um prazo para a convergência, ao contrário do que fazia no passado quando sinalizava, ao menos, que a convergência se daria dentro do horizonte relevante.

As projeções do BC para a inflação, no cenário de mercado, que levam em conta mais duas altas da Selic, de 0,50 e 0,25 ponto percentual, e câmbio a R$ 1,70, se elevou mais uma vez e está acima do centro da meta para 2011 e “ao redor da meta” para 2012.

Apesar de admitir o peso das medidas macroprudenciais como “um instrumento rápido e potente para conter pressões localizadas de demanda”, o comitê reafirma que “cabe especificamente à política monetária” garantir que pressões detectadas em horizontes curtos não se propaguem para horizontes mais longos. O BC destacou ainda a importância da “consolidação fiscal”, iniciada no começo do ano para o seu cenário.

Se por um lado o BC aponta a convergência no próximo ano, por outro sinaliza que os riscos continuam elevados. De acordo com a ata, prevalece um nível de incerteza “acima do usual” e há riscos elevados para a concretização de um cenário de convergência “tempestiva” da inflação à meta. O Copom também vê maiores riscos para inflação decorrentes do cenário internacional, especialmente nos preços de commodities. Em 19 e 20 de abril o Copom se reúne. No fim de março, o BC divulga o Relatório de Inflação, referente ao primeiro trimestre do ano, com novas indicações dos próximos passos da autoridade monetária.

Luis Nassif

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