Haddad afirma que BC já pode reduzir taxa de juros, mas Campos Neto resiste e será lento

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Haddad aponta que o BC já pode reagir com a desinflação. O presidente do Banco Central ainda resiste

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, no Senado – Foto: Lula Marques/Agência Brasil

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quarta (17), que já há espaço para o Banco Central reduzir a taxa básica de justos, de 13,75% ao ano. Já o presidente do BC, Roberto Campos Neto, ainda resiste e afirma que a redução será lenta.

As declarações de ambos foram dadas em eventos diferentes: Haddad participou de audiência da Comissão na Câmara dos Deputados e Campos Neto de abertura da Conferência Anual do Banco Central.

Assim, apesar de não serem respostas direcionadas mutuamente, as posições do governo e do BC ainda são conflitantes sobre o cenário da inflação no país.

Haddad: “farra” das contas públicas acabou

Para o ministro da Fazenda, o BC já tem possibilidades de rebaixar a taxa de juros. Haddad entende que o aumento da inflação ocorreu como reação do BC aos gastos exorbitantes da máquina pública durante as eleições pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.

“Quando a taxa de juros chegou em 13,75%, em agosto do ano passado, chegou porque houve uma farra durante as eleições, que tudo somado chegamos, em termos anualizados, a R$ 300 bilhões – entre desonerações, gastos adicionais, auxílios, PEC dos precatórios, tudo que foi feito de maio do ano passado até a eleição. Então a autoridade monetária subiu a taxa de juros por um completo descontrole das contas públicas”, afirmou.

Segundo Haddad, essa “farra” das contas públicas acabou com o governo Lula. “O que aconteceu das eleições para cá foi o oposto. Nós começamos a corrigir toda aquela confusão que foi estabelecida no processo eleitoral, confusão fiscal. Então já no dia 12 de janeiro eu estava tomando medidas saneadoras. No final de fevereiro a reoneração dos combustíveis, agora em março a aprovação do STJ, a aprovação do preço de transferência. São medidas saneadoras. Portanto, abre-se espaço para a redução da taxa de juros. Essa é a verdade.”

Campos Neto: inflação foi positiva

Para Campos Neto, contudo, “a desinflação deve continuar”, ou seja, a diminuição da inflação, mas de forma lenta e “não-linear” porque, segundo ele, a inflação não é “um evento transitório” e defendeu ser, inclusive, “importante” para o aperto monetário.

“Enquanto alguns viam a inflação como um evento transitório decorrente de restrições de ofertas temporárias, nós víamos o processo inflacionário como um evento mais persistente, com importante componente de demanda”, disse.

Campos Neto ainda defendeu que o fato de o BC brasileiro ter aumentado a inflação ainda em março de 2021 gerou resultados agora, possibilitando que a queda da inflação tenha início. Ele não admitiu que a desinflação é uma resposta às medidas econômicas do novo governo, sob o comando de Haddad.

“Essa reação tempestiva, em grande parte, se deu à nossa percepção inicial sobre a natureza da inflação atual e ao fato que a inflação no Brasil começou a aumentar antes do que em outros países. Nota-se que essa estratégia começa a dar resultados. A inflação no Brasil começar a diminuir relativamente mais cedo em comparação a outros países em desenvolvimento.”

Haddad rebate

Sem ter tido acesso ao conteúdo das falas de Campos Neto, em sua participação na Câmara, Haddad acabou rebatendo o presidente do Banco Central:

“E se você consultar vários especialistas, ninguém está fazendo política aqui, estamos falando de técnica, muita gente que entende de economia imagina que haja espaço para iniciar um ciclo de cortes da taxa de juros. (…) Não existe questão pessoal aqui. Estamos falando se há espaço, à luz das medidas tomadas e que estão consignadas nas atas do próprio Banco Central, que fazem referência ao arcabouço, à reoneração dos combustíveis, a todas as medidas que estão sendo tomadas, inclusive classificadas pelo presidente do Banco Central como corajosas.”

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Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

1 Comentário

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  1. O Lula carrega o piano enquanto o Campos Neto quer tocá-lo sem saber sequer o que é um dó. O mencionado Rato Campos Neto afirmou: “Enquanto uns viam a inflação como um evento transitório decorrente de restrições de oferta temporária [falta de produtos por conta da pandemia], vimos o processo inflacionário como um evento mais persistente, com importante componente de demanda [aumento de recursos na economia]”. Anteriormente ele tinha asseverado que: “Hoje, existem mais componentes de demanda na inflação do que oferta. E as pessoas podem perceber isso. Se você vai nos aeroportos, você vê que voltou a estar cheio. Os bares e restaurantes voltaram a estar cheios”. Ora, no governo Bolsonaro, a inflação estava aumentando sempre, nada obstante as pessoas não estivessem frequentando aeroportos, nem bares nem restaurantes. É como afirmou o Lula: “Dinheiro na mão de rico vira uma conta parada no banco. Dinheiro na mão de pobre, ele vai no mercado e movimenta a economia”. Resumindo: a inflação começa a ceder não por causa dos juros, mas apesar deles. A inflação começa a recuar por causa de uma menos pior distribuição de renda, a qual, por seu turno, gera expectativa de demanda efetiva, que gera mais investimentos e maior produção/oferta e, consequentemente, menores preços.

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