Na ONU, Dilma falará contra tsunami monetário

Do Estadão

Dilma vai discursar na ONU contra ‘tsunami monetário’ dos países ricos

Presidente vai reclamar do prejuízo com injeção de dinheiro novo pelos bancos centrais dos EUA, do Japão e da Comunidade Europeia

Leonencio Nossa, enviado especial 

NOVA YORK – Quatro dias após a dura troca de críticas entre Brasil e Estados Unidos pelo fato de o governo brasileiro ter elevado tarifas de importação de 100 produtos para proteger a indústria nacional, a presidente Dilma Rousseff dá início a mais um round contra o “tsunami monetário”. Ela deverá investir contra a injeção de dinheiro novo na economia pelos bancos centrais dos Estados Unidos, do Japão e da Comunidade Europeia, em discurso na abertura da 67.ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU)e encontros com chefes de Estado.

Hoje, Dilma deve reunir-se com o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, a quem provavelmente reiterará a mensagem de que o afrouxamento monetário promovido pelos países ricos prejudica as exportações dos emergentes. Também deve encontrar-se com representantes dos governos da Ucrânia e da Indonésia. 

A presidente desembarcou nos Estados Unidos ontem, por volta das 7 horas (8 horas em Brasília), segundo informou o Palácio do Planalto. Pela manhã, teve conversas com os ministros das Relações Exteriores, Antônio de Aguiar Patriota, da Educação, Aloizio Mercadante, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, da Comunicação Social, Helena Chagas, e com o assessor especial Marco Aurélio Garcia. À tarde, manteve agenda particular. Almoçou num restaurante e passeou pelas ruas.

Amanhã, Dilma faz o tradicional discurso de abertura da assembleia. Antes da apresentação, se reúne com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e diplomatas da organização. Até a tarde de ontem, não estava programado encontro com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. 

Diplomatas dizem que uma reunião entre os dois não deve ocorrer, mas é possível haver uma conversa no próprio plenário da assembleia. Ele subirá à tribuna logo após o discurso dela. 

A relação entre os dois países passa por um mau momento depois da troca de cartas entre o representante comercial dos EUA, Ron Kirk, e o ministro Patriota. Os EUA criticaram o aumento das tarifas no Brasil. O governo brasileiro diz que a medida está em acordo com as normas da Organização Mundial do Comércio (OMC) e ressalta que as relações bilaterais são favoráveis aos EUA. Dilma deve ir também a um evento do Council on Foreign Relations, organização de estudos sobre relações internacionais. 

Segundo auxiliares, a presidente deverá fazer críticas, ainda que veladas, à decisão do Federal Reserve, o Fed (o banco central dos Estados Unidos), de desembolsar até US$ 40 bilhões ao mês para a compra de títulos públicos e privados. 

Os governos dos países emergentes reclamam que suas exportações são prejudicadas com a expansão do crédito nos EUA, na Europa e no Japão. A injeção de recursos nas economias centrais, por sua vez, não tem conseguido arrancá-las da recessão. Esses pontos foram frisados na carta de Patriota a Kirk.

Na sexta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ameaçou elevar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para conter a entrada de dólares. Dilma já orientou a equipe a utilizar o arsenal necessário para conter a queda do real. As estatísticas mostram, porém, que até o momento não ocorre nenhuma avalanche de moeda estrangeira. 

Segunda viagem. É a segunda vez que Dilma viaja como presidente aos Estados Unidos. No ano passado, ela fez um discurso em defesa da igualdade entre os Estados e mudanças nos fóruns internacionais e contra o protecionismo dos países industrializados. Um ano depois, observam diplomatas, a presidente volta à ONU com o desafio de responder a críticas.

O ataque à postura dos países ricos na condução da economia poderia servir para amenizar queixas políticas e econômicas na ONU contra o Brasil. O governo Dilma é criticado por não condenar o regime sírio e o massacre de civis pelo exército do ditador Bashar al-Assad, mantendo postura alinhada à China e à Rússia. No campo econômico, o discurso duro seria uma forma de conter as queixas dos países industrializados em relação às últimas medidas do governo brasileiro de aumentar a taxação de produtos importados, especialmente na área automobilística.

(Colaboraram Lu Aiko Otta e Gustavo Chacra)

Luis Nassif

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